segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Contos de uma sexta-feira 13 - III (despedida)

É chegada a hora
ora...
partidas não me soam bem
neblina que fecha vendas
cobre vales

te dou um abraço, te sinto
te beijo...macio

Saio caminhando
sensação estranha
trilha sonora encenava
outro desfecho

mas é isso
se te quero
só me serve inteira
plena, em paz consigo mesma

Seria uma despedida com sabor de começo?







sábado, 21 de dezembro de 2013

Contos de uma sexta-feira 13 - II (encontro)

La estava ela, a imperatriz
Bem ali, na minha frente
a poucos metros do meu alcance
não usava o vestido azul e branco estampado
como no sonho de outrora
Águas calmas, barco solitário
em mar aberto que ancora
pouso e miragem
doce como chuva de caju

"Você que rouba meu sonho
Nave galera encantada
Me diga por quem me ponho
nas ondas da madrugada"

Da  música "mar noturno" extraio meu sentimento
composta pelo meu compadre Silvio Carvalho
nesse fado que nada tem de melancólico
se apega o meu alento


domingo, 15 de dezembro de 2013

Contos de uma sexta-feira 13 - I (presságio)

As palavras pareciam anunciar
Sim, as palavras daqui
o diluir, a intuição e o destino

Indicavam que o desencontro
que perdurara longo tempo nesta província
estava com os dias contados
Quis que fosse num dia cantado

Quem?
Os anjos do engenho
Retaliação para os supersticiosos
Esperança para os que esperam tempos difíceis


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Canalhices e Cafajestagens

Instruções para leitura:
 1-Isto não é um confronto polêmico de gêneros
 2-Se for homem pule os itens 3 e 4 e vá direto ao texto
 3-Leia racional e impessoalmente
 4-Leitura não recomendada se estiver na TPM

 “Ah, fulano só quer curtir. Ele não quer nada. É um cafajeste". Pela não rotulação do comportamento masculino e a favor do discernimento feminino.

 Por qual razão sempre cabe ao homem o papel de canalha e cafajeste? Quanto mais se torna dominante a ideia de que nenhuma vontade deva ser reprimida, mais cresce nossa incapacidade de lidar com a insatisfação. A insatisfação é geral, bem como intercorrências e desvios de rota que vão de encontro ao nosso desejo.

 As mulheres deviam se preocupar com o que tem a oferecer enquanto universo feminino, pessoa, seu estado de humor, comportamento, charme, temperamento, energia, espiritualidade, sua aparência, uma boa conversa (fundamental), se caracterizando assim uma ótima companhia. É um ato de mesquinharia conosco atribuir ao outro nossa condição de felicidade. Ainda que, e eu concorde, seja “impossível ser feliz sozinho”. O que não justifica que você tenha que ficar enviando convites para jogar candy crush e criminal case milhares de vezes.

 Um beijo hoje em dia não pode ser atestado de nada. O fato de terem se beijado não reconhece firma em cartório e nem garante que nada (ou tudo) tenha de fluir a partir disso. Ah é, mas tem a ansiedade feminina em querer definir as coisas e a angústia inquietante de viver no indefinido. Sim, mas nem a ansiedade nem a angústia nos impedem de pensar. Viver na aflição pode ser de um grande aprendizado para compreender as “canalhices e cafajestagens”. A química, as reações de ambos no desenrolar do processo e a forma de envolvimento do outro são elementos que influenciam o querer. Desejo não se furta, e muito menos se impõe. Mulheres (alguns homens também, mas são minoria) querem imputar o seu desejo. Não é por aí.

 Canalhices e cafajestagens é o que uns fazem com os outros (seja qual gênero for) quando projetam no outro expectativas atuais embasadas em frustrações e satisfações de relacionamentos anteriores. Ou cobrando indiretamente que o outro goste ou queira na mesma proporção que você. Aí anula-se a possibilidade da conquista, que é o grande barato da estória, e cai-se num patrulhamento afetivo. A vigilância sentimental é tão opressora para o homem quanto uma ditadura é pra Che Guevara. Canalhices e cafajestagens são atribuições desnecessárias, pesadas e exageradas ao caráter de alguém, feitas por pessoas que querem relacionamentos egoístas. Canalhice é você, homem ou mulher, culpar o outro por não gostar de você como você gostaria que ele ou ela quisesse, sem perceber qual a sua parcela nisso. Cafajestagem é ser insuficiente pro outro(a) e exigir reciprocidade; é fracassar na conquista e responsabilizar o outro através do jargão já gasto e comum da “cafajestagem masculina”.

Há uma diferença básica entre: o não querer nada; o não querer nada neste momento da vida; e o não querer nada com você. Sugiro diferenciarmos para não generalizarmos e não cair no erro leviano de sair por aí metralhando juízos de valor ao outro.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Diluir

A crosta se desfazendo
erupções desencastelando
água e estrada
entrocamento, bifurcações... interseções

mergulhei na imensidão
com vontade de te achar
por vezes me pergunto:

estaria ela pronta para sentir
 o que sente o pescador pelo mar?

Cabaret da sereia

"Espuma no ar
Reveillon
 Tão misteriosa canção
 O tempo passou pelo meu coração
Estrela do mar
 Solidão

 Um barco sangrando no cais
 A terra rodando prá trás
 Me deu vontade de encontrar você
 Queria gritar
Mas lembrei Que ali era praia de pescador

 Ah! meu amor
 Se eu pudesse caminhar
 No azul do mar
 Nunca mais voltar

 Faria uma casa pra morar
 Daria um beijo no luar
 Iria cantar no cabaret da sereia

 Pescava na sala de jantar
 Deixava o vento me levar
 A noite chegou eu acordei
 Na areia...
 Se eu pudesse caminhar
 No azul do mar
 Nunca mais voltar"

Intuição e destino

Falar sem dizer
argumento sem explicar
desejo sem tocar
sentir sem encontrar

Acasos de uma distância tão próxima

Tocando o encontro
o desejo é inexplicável
o sentimento não precisa ser dito
e nem a fala precisa de argumento

Constatações da semana

- Os mijões de rua de Salvador continuam fazendo suas proezas. Cada vez mais sofisticados, se superam atuando em lugares inusitados

 - Shopping Iguatemi já é o novo Shopping Piedade

 - Posto de gasolina ainda é um grande refúgio para o tédio coletivo. Ver um aglomerado de gente desconhecida e vários carros com o porta-malas aberto disputando acirradamente qual gênero musical prevalece é tão insignificante quanto o valor que essas pessoas dão ao seu próprio tédio.

 - O samba da Bahia, aquele de raiz, vai muito bem obrigado: Juliana Ribeiro, Roberto Mendes, Raimundo Sodré, Antonio Carlos e Jocafi, e Riachão agradecem!

 -Aplicativos de relacionamentos e seus derivados decretam o fim do romantismo

O que é o que é?

- vive tempos difíceis

- está banalizado

- é igual a Lombardi e cabelo de freira. Ninguém nunca viu, mas sabemos que existe

- muita gente acha que sabe o que é sem nunca ter vivido um

- muitos dizem que é o que ainda pode salvar o mundo

- primeiro sucesso da dupla Zezé di Camargo e Luciano

R: É o amor.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Querer V (o Quinto querer)

Enquanto não tenho você perto
vou namorando suas palavras...
é a melhor forma de sentir você.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Instagramizados

Instragram, é esse aplicativo bacana de fotos que mostra lugares de passeios a viagens, pessoas em festas ou celebrando a vida, comidas de boteco e restaurantes, animais de estimação e tudo que é tipo de gente e como andam suas vidas badaladas. Não há vida monótona nem melancólica no instagram. O grande barato do instagram é editar fotos. Modificando cores, luzes, tons, tirando (ou colocando) sombras e manchas. Editar nuances. Inserir filtros. Nas fotos! Mas até que ponto não reproduzimos isso nas nossas relações, isso de manipular nossa imagem?

 A questão é quando o sujeito fica refém desse filtro virtual, e num gesto automático o transpõe para seu dia-a-dia. Vai mascarando a si mesmo como se fosse as fotos que publica. Configura e “edita” sua auto-imagem de acordo com a conveniência do meio social e insere um auto-filtro denunciando algo que não é. Denunciando apenas para si. Pois para os outros ele é a imagem que o filtro que ele escolheu quis projetar. Hoje é inevitável a influência do meio técnico-digital na subjetividade e nos comportamentos, bem como é inegável sua repercussão na formação da identidade.

 Quem usa e gosta do aplicativo assim como eu, um alerta: cuidado pra não fazer sua vida social refém do enquadramento que a foto exige e acabar ficando “enquadrado”. Enquadramento que cobra instantaneamente um filtro pra embelezar superficialmente e excluir o que ela tem de bom: o original e o natural. Você não precisa ser sua foto. Deixe o filtro apenas pra fotografia. Na nossa vida, em nós e entre nós, filtro mesmo só o solar.

Homo Acomodadus

Temos um hábito, estranho, de delegar tarefas cotidianas aos outros (geralmente, “alguém”) como se nós mesmos fôssemos incapazes de realizá-la. Talvez nossa cultura favoreça isso. O prefeito cuida da cidade, os pais cuidam da casa e da educação dos filhos, a polícia da segurança os professores do ensino. Internalizamos que os outros podem fazer as coisas sem que de fato precisemosbotar a mão na massa. Não nos ensinam a ter a responsabilidade da iniciativa.

Dispensa vazia, escassez na geladeira, fome apertando... “alguém precisa fazer o mercado”. Entorno do seu prédio ou de sua casa sujo e descuidado... “tem que falar com o sindico ou um responsável pra arranjar alguém que faça uma faxina nisso aqui”. Hora do bába, começa a chover... “alguém precisa pegar o rodo pra enxugar isso aqui”. Sujeito estúpido estaciona na vaga para idosos ou deficientes... “alguém precisa avisar a esse idiota que ele está errado, pra tirar o carro da vaga que não é dele”! Alguém precisa tomar uma providência. Alguém precisa ensinar esse médico o significado de pontualidade. Alguém precisa ver o que está acontecendo com tio Arnaldo, ele anda meio estranho. Alguém precisa se mexer. Alguém precisa esquematizar a viagem e comprar as passagens. Alguém, alguém, alguém. Estamos sempre esperando que alguém se apresente para a tarefa que pensamos não ser nossa. Quem é esse alguém?

O ranço que nos faz não apreciar a política na vida pública pela descrença, mesmo que já tenha tomado conta de nós, não deve nos impedir de sermos politizados na vida urbana e protagonistas na vida pessoal. A equação é mais ou menos essa: ranço político + descrença turva + imposições da ciência e da religião + sensação de impotência = acomodação. Mas generalizamos essa acomodação para diversos segmentos da vida, até os mais simples.

Delegamos porque renunciamos a política na nossa vida particular. Exterminando o nosso ser político subjetivo. Delegamos porque autoridade, autoritarismo, direitos/deveres, acomodação e servilismo se confundem e se confundem muito! Principalmente na Bahia. Delegamos porque temos alergia à política mesmo que teimosamente não queiramos reconhecer que ela faça parte de nós. Desconhecemos que quaisquer de nossas ações (ou omissões) são políticas por natureza. Por mais singela que seja a tarefa. Renunciamos uma tarefa porque não queremos sair da zona de conforto e por outro lado paga-se o preço de retardar nossa emancipação e nosso amadurecimento político-social. Alguém precisa dizer que política não é só aquilo que acontece em Brasília. Alguém precisa dizer que política é diferente de politicagem e de partidarismos. Alguém precisa acreditar em uma nova política de vida. Alguém precisa fazer valer essa política, inventando suas próprias iniciativas políticas.

domingo, 20 de outubro de 2013

Querer IV (da filosofia do afeto)

Perceber ser afetado pelo afeto
é um reconhecimento de fato
de que são os afetos que nos afetam
o discernimento não afeta
apenas pode fatiar o afeto
faturando os afetos fatiados dos afetados
Fatalidades afetadas
Afetos fatais
Fatídicos afetos fantasiosos

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Querer III (do discernimento)

Conheço a bifurcação do querer
até onde vai um querer autêntico
e onde já invade um querer orgulhoso
se sobrepondo
é perigoso

Por vezes
ser sequestrado por esse outro querer
que não aquele
um querer engolido pela disputa
 pelo simples êxito
Querer triunfar apenas.
Aí vira jogo
esse querer eu não quero.
é preciso discernir o querer
é preciso querer discernir

Querer II (das coincidências)

-Oi, posso me sentar?
-Não sei, acho que prefiro ficar sozinha...
-Que coincidência, eu também! Então vamos querer solidão juntos!


Querer I (das indecisões)

Queria que me quisesse
Mas não o controlamos
E, mesmo se pudesse...
Não querendo, não posso querer que queira
Quer sim, quer não, quer poeira
Talvez...
Timidez...
Querer que vai além da razão
Aquele que tudo quer
E aquele que nada quer
Por não saberem o que querer
Querem solidão

Mares de Ti

"Se tropeçar meus pés cansados
Nos mares de ti
Cuidar de mim cuidar de ti
As fases e frases
Desfazem nos jeans
Por que é só você que sabe
Aonde surfir
O mais bonito do magnífico
Só teu sorriso esculpe
Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão
Não sei pisar no breque
Tomo charrete
Pros lares de rubis
Pensando nisso
Pensando em ti
Senti felicidade sem fim
Se for passar precisos sarar
É quase inútil
Ficar de ir
Ficar de vir
Ficar feliz isso sim

Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão"

#Partiu? #Partiu!

Partiu Fonte Nova, partiu piscina, partiu balada, partiu academia, partiu praia, partiu cineminha, partiu banho de pipoca, partiu churrasquinho com a galera, partiu caruru de Cosme e Damião, partiu banho de folha, partiu roda de samba, partiu centro cirúrgico, partiu batizado do afilhado, partiu faculdade, partiu viagem pra Turquia, partiu intercâmbio na Austrália, partiu caminhada matutina, partiu trampo, partiu dieta de segunda feira, partiu passeio canino, partiu forró do piu-piu, partiu muquifest.

Muita gente partindo pra muitos lugares, lazeres e afazeres e muitas coisas se partindo.

Partiram a gentileza, partiram as regras da boa convivência, partiram o bom senso, partiram a simplicidade, partiram os diálogos longos e interessantes, partiram os bons costumes numa vida urbana caótica, partiram a coletividade, partiram a prudência, partiram a capacidade de indignação com a vida política, partiram a inquietação com uma democracia leviana e conveniente, partiram a cobrança intensa da educação como prioridade, partiram a consciência ambiental e a sustentabilidade, partiram a solidariedade para com o outro, partiram em pedacinhos a autoestima do professor denegrindo  sua  imagem, partiram o senso crítico, partiram as identidades.

Nosso território é esse vamos cuidar dele, não precisamos partir. Quem está cada hora em um lugar não está em lugar algum. Não cria laços nem vínculos e não cuida do seu espaço. Não parta, fique.

Não vamos nos tornar fragmentados, não precisamos partir. Vamos ser e estar inteiros. Agregue. Partir é dividir. Dividir é subtrair. Quem subtrai não alcança a unidade e nem a plenitude. Não parta, junte.

#juntar

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Sala de Embarque

Quantos já passaram por aqui?
Despachando malas cheias
Acompanhando pessoas vazias
Embarcando repleto de esperanças
Toda partida carrega expectativas e saudades

Café expresso e pão de queijo
para discutir relação
nem o pão de queijo dormido
parecia tão desgastado quanto ela

Pelo finger, rumo ao avião
executivos interagem com seu tablet
crianças arredias e chiliquentas
dão seu show pra chamar atenção da mamãe

"Tripulação, portas em automático"
Embarque encerrado, portas fechadas.

Poderia também cada um fechar-se em si mesmo
A mãe rever seus erros cotidianos
Condicionamentos prejudiciais
Os executivos aturarem duas horas à só consigo mesmo
(será que é tão monótono e enfadonho estar consigo mesmo?)
(talvez pra ele deva ser)
O casal rever seus erros, individualmente
 manejá-los
 cobranças, diferenças
mediar o que compete à cada um
se assim o sentimento mandar
pois é o senhor da relação

Não sei como foi o desembarque
Mas em duas horas de vôo cabe muita coisa
As nuvens não só favorecem encontros com os sonhos
mas também com os nossos pesadelos



Tipos de Luz. Qual o seu?


Quem já foi numa loja de luminárias sabe que tem diversos tipos de formatos e intensidade de lâmpadas, adequadas do mais simples ao mais sofisticado apartamento/casa. Fui recentemente numa e a vendedora bastante atenciosa explicou minuciosamente a função de cada uma. Lâmpadas fluorescentes, lâmpadas incandescentes, lâmpadas halógenas etc. Provavelmente essas lâmpadas dizem muito também sobre o dono do apartamento ou quem o habita. 

Diferem quanto ao tipo-intensidade de luz que emite, seu consumo, desgaste e durabilidade. Assim como os donos. Assim como pessoas, seres humanos.

Segundo a vendedora e seus discurso simpático porém comercial, uns preferem a iluminação intensa,(lâmpada fluorescente) outros a que consome muito mas ilumina pouco (lâmpada incandescente) e outros a que ilumina de forma direcionada e com uma boa durabilidade (lâmpada halógena). 

Em tempos de exibicionismo exacerbado muitos querem holofotes. Querem luz. Querem ser e estar iluminados. Síndrome do pânico da discrição. Quem quer anonimato hoje em dia? Pois “receber a luz” e “estar iluminado” se tornou sinônimo de ser bem guiado por algo místico, de estar no caminho certo, rumo a uma vida bem sucedida, contemplada de sucesso e felicidade permanente.

Alerto que a luz do abajur, discreta, intimista, tímida e de pouca intensidade, embora não ilumine na dimensão que os atuais padrões sociais-pirotécnicos exijam, consegue dar conta para o objetivo ao qual se propõe. 

Mas para quem não tem objetivo, (ou autoconhecimento), (ou discernimento), qualquer luz serve.

Escolha sua “luz” com cautela, evite propagar a fotofobia.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Dias de Primavera

Discos de Clara Nunes e Moraes Moreira se olham
misturando-se com Mateus Aleluia e Gilberto Gil
trazendo Bahia  e Africa

Escritos inacabados se esparramam
Clamando juntos por continuação
Reivindicação mais que justa

Machado de Assis se faz presente com seu Alienista
Clint Eastwood aparece com as Pontes de Madison
Foucault e seus densos e cansativos livros acadêmicos

Minha bancada sou eu
Dividido, somado, multiplicado, sempre
sempre-sempre
entre música, poesia
Filmes, estórias e psicologia

Aqui
 o equinócio traz vida
Agora
Mateus canta "Lamento às águas"

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Açaí no Leblon

Resina, mel selvagem, colibris
granola, xarope de guaraná
o vento carioca exalando seus sabores
floresta urbana na Ataulfo de Paiva
(o mar na espreita)

Cérebro congelando, adocicado
Quase paralisado
frieza do açaí congelante

Aqui estou bem, tenho todo tempo pra mim
devaneios, divagações, dissonâncias
quanto transtorno dentro de si
só um homem sem uma mulher sabe o que é

Naquele instante intacto, viu
Dois olhos de menina
Menina marota
Dois olhos que roubaram do céu
toda sua tinta

Plantado, alonguei meus ramos
para poder tocá-la
Céu e sol
Rocha e nuvem
riso e choro

Só, num canto.

Canto que preenchia ali
sua grande imensa solidão
Solidão doce, roxa-escura e friamente gelada
Como o açaí
que o fez congelar a realidade
e a si mesmo, naquele instante

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Cabaré Biblioteca Pascal

Quando a realidade for mesquinha, sonhe.
Quando a realidade for cruel, sonhe.
Quando a realidade atormentar, sonhe.

Quando não couber mais sonhos
A realidade vai dizer que chegou a hora dela se impor.

Quando não for mais necessário sonhar
Porquê a realidade se impôs
Reinvente seus sonhos.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Digestão II

Menino no (do) Rio.
Cachos baianos em férias
Revisitando território fluminense
Queria tanto abraçar o vento, mas tanto...

O vento do Rio
Corria, pulava
Brincava em Laranjeiras
De paralelepípedos cinzas
Praça arborizada
Balanços esverdeados
Carrinho de pipoca
Bancos descascados

Nostálgico, cantarolava:
"o anel que tu me deste
era de vidro e se quebrou..."

Digestão I

A estranheza recíproca é combatida com afinidades
Mas e quando nem assim
Aproximam-se os afins?
Amenidades.

domingo, 15 de setembro de 2013

Indigestão II


Sempre me inspiram.
Reverberam como guitarra de rock progressivo
Ecoam em mim como os tambores do ilê
Passeiam por mim como a nona sinfonia de Beethoven
Nem sempre bem compreendidas

Chegam mansas, saem mar-revolto
Enigmáticas
Dúvida nebulosa
Singelas
Dádiva cremosa
Complexas
Da-vida impetuosa
Por vezes indigestas
Aquelas poesias

sábado, 14 de setembro de 2013

Indigestão I

Nada de sábios
Tudo se amarrando
Nada de lábios
Tudo preto e branco
Meio atônito
Meio cinza
Meio cômico
Nada finda
Tudo platônico?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Receita para Cuscuz

Aqui estou.
em casa
Sul da Bahia, minha raízes
Vegetação densa,  um verde vivo-vistoso
Felizes-felizes
Cheiro de café, bolo da hora
Bolacha de goma, avoador
Conversa fiada na cozinha
A melhor das minhas escolas
e assim fui preparar o cuscuz
Com sal e açúcar
flocos de milho e água (na dose certa)
Muita água sola o fubá do milho(!)
Cuscuz é assim
Mistura, pega a liga, flocos de milho áspero e molhado nas mãos
Elas, sensitivamente, indicam o ponto
Água ferve, flocos pegadinhos, soltos, leves
A distribuição no cuscuziero é sutil, delicada
Cuscuz pronto, quentinho, hora de apurar
Manteiga derretendo em suas entranhas
desvendando labiritntos amarelos construídos pelas mãos
Mãos enormes, mãos doce-salgadas, mãos suaves
Sem suavidade não se faz um bom cuscuz



domingo, 8 de setembro de 2013

O bêbado e a equilibrista

Embriagar-se de excessos
Tempos difíceis
Discursos moralistas, modelos demagógicos
Ressaca moral, ressaca afetiva
Ressaca política, ressaca amorosa

Carentes, rejeitados
Tímidos, atrapalhados
Ressaqueados, estafados.
Cansados.

Circo movimentado, palhaços tristes em alvoroço
Platéia ausente
O mágico enfeitiçou todos.
E a trapezista me chamou pra passear.

sábado, 7 de setembro de 2013

A Princesa do Subterrâneo

No reino subterrâneo onde não existe mentira, escombros ou dor, Ofélia sonhava com o céu azul, a brisa suave e o sol brilhante.

 Ela que teve tantos nomes, nomes antigos que só poderiam ser pronunciados pelo vento e pelas arvores que habitavam os bosques, não reconhecia em si sua nobre vocação.

Decodificando o livro das encruzilhadas deduzia intuitivamente o seu destino. Abrir o portal para a passagem daqueles que queriam e podiam ser como ela. Não, não. Esse caminho era apenas dela.

Vsa. Alteza deixou poucos rastros de sua existência...rastros estes visíveis somente para aqueles que sabem onde procurar.

(O Labirinto do Fauno é um grande filme)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ciclos

Setembro desembarcou, incógnito.
Avisando que logo mais será  primavera
Trazendo sua magia que antecede o verão.
E o ciclo das estações vai girando, girando previsivelmente.
Como roda-gigante.
Como a vida de muitos
Como a esperança de uns 
Como a apatia de outros.

sábado, 24 de agosto de 2013

Filmeletrando

Os deuses devem estar loucos, apertem os cintos...o piloto sumiu!

Encurralado entre os muros da escola, o professor aloprado e o homem que copiava coisas belas e sujas imaginavam um mundo perfeito a espera de um milagre.

Queriam fazer uma viagem ao mundo dos sonhos, encontrar os sonhadores, ouvir a historia sem fim, dançar o ultimo tango em paris...perceber como a vida é bela.

Do lado de fora, curtindo a vida adoidado onde os fracos não tem vez, o jardineiro fiel (que não era Edward mãos de tesoura) regava sua árvore da vida com seu coração valente. Mais distante, na casa do lago, o pianista observava pela janela indiscreta a vida dos outros, o doce novembro. Novembro que é outono em Nova York. Todos esses homens de honra que pareciam morar na cidade dos anjos tinham um instinto secreto. Um amigo oculto. Eram bons companheiros, mas pareciam ser aventureiros do bairro proibido. Estavam por um triz a se apaixonar pela estranha perfeita, e ignorando o preço do amanhã, a convidaram para a ultima ceia. O que desejavam com ela era curtir um império dos sentidos, pintar ou fazer amor. Como água para chocolate.

 Mas nessa sociedade dos poetas mortos que sempre existem coisas que perdemos pelo caminho, e parecemos estar entrando numa fria, numa dança com lobos, nunca estamos sem saída. Precisamos encontrar o tempo de despertar, desenvolver o sexto sentido, experimentar os sete pecados capitais, e descobrir o oitavo dia.


Ass – o quinto elemento

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Nos braços de mor-feu

Sonhei com você imperatriz.
Sim, na noite passada.
Linda, com um vestido azul e branco estampado
surgia uma mulher imponente-discreta
exalando a sutileza do seu modo sensual de ser

Descalça, rodopiava de braços abertos
...parecia ser de felicidade.
Flechava olhares e me distribuía abraços atrasados.
Carinhos meigos retardatários
intercalavam-se com beijos encaixados molhados.

Depois, sussurrou docilmente: "acorda, Dan! Já perdemos tempo demais dormindo!"

E eu acordei.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Homem-peixe (ato 3)


Na água, submergiu
Submerso, surgiu
fluidez, silêncios líquidos, movimentos sutis, vozes de sereia

Submerso, riu
com ostras indiferentes, algas felizes e cavalos marinhos tristonhos
Submerso, curtiu
 a pluralidade da fauna marinha, a água deslizando pela pele
Submerso, sentiu... água roçando poros, corais protegendo as espécie

Submerso, permitiu
Homem-peixe que já voou e plantado esteve, queria estar livre na água
Eis então sua tão sonhada liberdade
No não-lugar, onde nada ou ninguém o regula ou vigia
Que mesmo parado pode movimentar-se pois a água tem movimento próprio:
O balançar das ondas, a força das correntes e a influência da lua.
 Mas mesmo no seu místico e misterioso habitat não mergulha tão fundo.

Submerso, regrediu
Tem certo medo do tão almejado desconhecido. (submerso-infantil)
La, nas profundezas, é mais escuro pois a luz do sol não alcança
Pode guardar monstros sinistros devoradores de sua segurança
Emergindo medos primitivos que nem cardumes valentes confrontem
Seus segredos, nem o sensível amigo cavalo marinho, descriptografou. 
Submerso vadio...

Mergulhado em si mesmo e nas miragens marinhas
Afogou-se em seus sonhos
Que é terreno seguro pra uns
E arenoso pra outros

E, submerso, dormiu.

domingo, 18 de agosto de 2013

Homem-planta (ato 2)


Voltou de viagem querendo ser planta

Confidenciando-se para ossanha

Seria seu mais duro desafio, o ser estático e vegeta-meditativo

Sem movimento, sem perspectivas

Cabia aguardar os elementos precisos da previsibilidade

A sensação de estar plantado lhe angustiava

Não depender de si para ter água, seu elemento vital, lhe angustiava

Desiludido com o terreno preciso das plantas, já havia exercitado a espera devida

Sem ter vivido qualquer tipo de emoção aventureira, buscou a água

Buscou sua água

Que é terreno seguro pra uns

E arenoso pra outros

Homem-pássaro (ato 1)



Por um momento foi-se a inspiração, ficou a transpiração

Passarinho foi pra longe

Ar rarefeito, feito o ar... vôo feito, ar refeito

 Se esvaziou de excesso

Encheu-se de escassez

Voou, distanciou, observou

Sonha-se mais voando, sem os pés no chão

De longe pode enxergar melhor as coisas

Mas também não sente, nem participa

Viagem feita, de volta a terra

Que é  terreno seguro pra uns

E arenoso pra outros

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O sapo inquieto e a formiga paciente ou "a vida em três atos"

 O sapo que vivia pulando de um lado para o outro passou o outono completamente confuso com sua inquietude instintiva, vislumbrando um dia aquietar-se, projetando saltos cada vez menos amplos e mais precisos. Sua inquietude era tanta que não pensava no amanhã. Achava que poderia viver para se superar cada vez que desse um salto mais alto do que o outro. Seu concorrente era ele mesmo, competia com seu ego e com seu desejo volúvel.

Ele caçoava da pequena e trabalhadeira formiga que não tinha o mesmo alcance e agilidade quando se deslocava. Sabendo que o inverno estava por vir e pensando em longo prazo, passou o outono pacientemente estocando restos de comida para sua comunidade e ouvindo gozações do sapo fanfarrão. A inquietude fatalmente o levaria a solidão e a arrogância. A vida em comunidade e o aprendizado da lentidão criaram perspectivas, problemas, soluções e planejamentos. A formiga paciente sempre espera o tempo certo das coisas, não exige nada imediatamente de forma pragmática. 

Na espreita, a carismática coruja, que observara a formiga e o sapo atentamente, se remeteu  por analogia as lembranças da metamorfose da lagarta que vira borboleta. Mas em seguida, lembrou  também que existem centauros, minotauros e faunos.

domingo, 4 de agosto de 2013

Canhotos

Não é nada fácil viver num mundo em que as coisas são sempre pensadas e construídas para os destros. Há uma ditadura dos destros. Por isso os canhotos vivem permanentemente se adaptando. São definitivamente pessoas adaptáveis e com certa tendência para a transgressão. Acostumam-se a criar uma capacidade adaptativa-forçada que de tanto se repetir se naturaliza. Cria-se um hábito e posteriormente um traço de personalidade. Na verdade ainda mais alem. Adaptação vira parte da identidade. A dificuldade em manusear uma ferramenta ou instrumento qualquer no dia-a-dia voltados para destros faz do canhoto um especialista em driblar adversidades corriqueiras.  

As dificuldades são das mais variadas: tesoura, abridor de lata, mouse, carteira de escola ou universidade, marcha do carro, relógio que colocamos no braço direito, mas o pino pra mudar a hora permanece como se fosse pra um destro, que usa o relógio no braço esquerdo e configura o relógio com a mão direita tranquilamente. E pra tocar bateria? Só tem pra canhoto ou pra destro. Mas e quem for canhoto de mão e destro de pé (meu caso), faz como? Durante a refeição, não gostamos que pessoas sentem do nosso lado esquerdo, a mão do garfo. Socialmente temos que cumprimentar as pessoas apenas com a mão direita. Se for com a esquerda, você é tido como...

A profissão que exerce a justiça é o Direito. Não é o esquerdo. Direito em inglês é “right”, que também significa “certo”. Então, o esquerdo seria o errado? Quando queremos que alguém faça algo de forma correta, dizemos: “faça a coisa direito, aqui fazemos tudo direitinho”. Quando alguém está sentado esparramadamente na cadeira, falamos: “menino, tome jeito, se endireite!”. Na Itália direito = destro e esquerdo = sinistro. Sinistro hein? Começar algo com sorte é começar com “o pé direito”. Nenhum jogador entra em campo com o pé esquerdo. Esquerdo é associado ao azar. Não é a toa que o dia do canhoto é 13 de agosto.

Politicamente o lado esquerdo está relacionado ao revolucionário, anarquista, contestador, subversivo e outros termos pejorativos. O direito seria o conservador. Não questiona a hegemonia do sistema nem ameaça a ordem estabelecida, portanto trabalha na preservação do metabolismo social. Assim não cria incômodos e desconfortos, logo está longe de ser visado, rotulado ou execrado.
Na Idade média, durante o período da inquisição, canhotos eram considerados hereges, e tratados como bruxos e feiticeiros. Perseguidos pelo estado e por algumas instituições foram ateados à fogueira em praça publica.

A nossa escrita alfabética é da esquerda pra direita. Canhotos tem que fazer malabarismos caligráficos pra não borrar o que acabaram de escrever. Iniciar um parágrafo no começo da pagina de um caderno é um problema muito dificultoso. Coisa que os destros deliciosamente não vivenciam. Não é só a aspiral do encadernamento o problema. Se a escrita fosse da direta pra esquerda, canhotos não teriam essa dificuldade.

Canhotos usam mais o lado direito do cérebro. Neurologicamente esse lado direito está conectado  com o número maior de nervos que recebem o tipo de informação sensitiva, de visão mais aguda, pele mais sensível, os músculos respondem mais prontamente. O lado direito é o lado da criatividade.
Por uma vida mais valorizada e reconhecida aos sensíveis, adaptáveis e criativos canhotos.


Leonardo da Vinci, Beethoven, Nietzsche, Charles Chaplin, Pablo Picasso, Michelangelo, Paul McCartney, Jimmy Hendrix, Ayrton Senna, Isaac Newton, Machado de Assis, Pelé (canhoto de mão), Fidel castro, Albert Einstein, Adolf Hitler, Mahatma Gandhi, Bob Dylan, Barack Obama.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dias de Inverno


O tempo parece passar mais lentamente
Noites longas e madrugadas produtivas
Reflexões, orações
Músicas e meditações
Chocolate quente, cappuccinos
Inspirações...bandidas inspirações

Necessitamos do inverno, sim
Sem ele não haveria a gestação da primavera
E nesse período, os dias  
Compridos como seus olhos penetrantes
Arrastam-se procurando incessantemente a estação das flores
Sendo semeada em pleno mês de Agosto, assim como você
Sendo cultivada assim como você
Sendo cativante, você


sábado, 27 de julho de 2013

Página Futuro

Não vale a pena te perder na memória
Temos tanto a nos oferecer
E é só eu e só você
Olhe pra frente
Muitas palavras, muitas páginas
Algumas delas formarão o nosso livro

Não vamos nos desperdiçar

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Escrever e Cozinhar

Das relações entre essas duas artes.

O tema e o prato: a escolha de certo tema para escrever se assemelha muito a escolha de um prato para cozinhar. Em ambos os casos a motivação geralmente é desconhecida, vem do íntimo, requer criatividade, algumas invenções e pitadas de improvisos. Ao querer fazer um prato já vamos antecipando mentalmente quais os ingredientes necessários para o seu preparo. Da mesma forma que, ao despertar para a escrita de um tema, as palavras vêm na imaginação naturalmente soltas e embaralhadas assim como os ingredientes do prato mentalizado. Cabe ao perspicaz cozinheiro-escritor arrumar, dosar e colocar essas palavras no tempo certo.

As palavras e os ingredientes: palavras adequadas são como bons ingredientes. Temos que escolher cuidadosamente para atingir o objetivo esperado. Errar a mão seja escolhendo uma palavra exageradamente impactante (ou sorumbaticamente morta) ou se excedendo na dose dos temperos e no tempo de cozimento, pode causar “indigestão literária”. Mas há uma questão para ser evitada: a ansiedade em ver o texto/prato pronto não pode acelerar sua produção, escolhendo e distribuindo assim palvras/ingredientes aleatoriamente de modo que venha a atrapalhar esse processo. Esse deslize o cozinheiro-escritor atento não deve cometer.
 
A Escrita do texto e o preparo do prato: aqui está a parte mais importante, o desenvolvimento.  Assim como, quando cozinhamos na panela intercalamos fogo alto com fogo baixo, o transcorrer de um texto oscila também na sua intensidade. O objetivo é o mesmo: deixar as palavras/comida pegar mais gosto, pegando o tempero, ganhando corpo, tomando forma. Preparando o leitor para a mensagem central, para o prato principal, para o sentimento que o texto/prato irá provocar. Tudo para transformar o sabor-literário em algo mágico. A condução das palavras e a arrumação do texto é como fazer um baile com as palavras temperadas. Como quem rege uma orquestra: cada músico com seu instrumento que produz um som particular; cada ingrediente que produz um sabor, cada palavra que tem seu significado. Cozinhar e escrever tem relação com tempo, claro. O ritmo. Com a cadência do fogo alto-fogo baixo e também a cadência das palavras. Saber cadenciar o tempo do preparo, pra comida ficar no ponto. Escrever é dar cadência as palavras, é cozinhar em banho-maria, é orquestrar com maestria significados e sabores.

Tentei cozinhar o texto... escrever o prato. Agora é só se deliciar.

Bom apetite, leitores...boa leitura, degustadores!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Noite

"Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas.
Dispa-me, dispa-me".

Eduardo Galeano, Livro dos abraços, p. 92.

A Ventania

"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido
Dono de nada, dono de ninguém, 
Nem mesmo dono de minhas certezas
Sou minha cara contra o vento, a contravento
E sou o vento que bate em minha cara"

Eduardo Galeano, "O Livro dos Abraços", p. 270.

Sobre as caxirolas e torcedores neandertais



Inventaram a escova de dente para limpar os dentes, os cotonetes para limpar o ouvido e os talheres para usar com comidas. Isso não significa que não possamos limpar os dentes com cotonetes, usar uma faca para apertar um parafuso e uma escova de dente para limpar um fogão. Fazer uma cadeira de mesa ou uma mesa de cadeira. As coisas quando inventadas têm objetivos específicos, porém o homem atribui significado que lhe for útil e necessário devido à circunstância.

A caxirola é um instrumento musical. Se os neandertais (que nesse episódio foram alguns torcedores do Bahia, mas que podia ser do Vitória ou de qualquer outro time) que a atiraram no campo a fazem de “arma”, “instrumento de protesto” ou objeto para escancarar o seu provincianismo e falta de educação é uma opção deles, ok. Mas não se deve culpar o inventor e seu empreendedorismo, para assim consequentemente amenizar esse gesto paleolítico em pleno século XXI.

Não acho que a caxirola seja uma cópia do caxixi. Ele criou algo derivado do caxixi e nao fez questão de esconder isso, tanto que manteve o derivado do nome, e grande parte da estética do caxixi original. Não temos costume de levar caxixis pro estádio, tudo bem, mas lembremos que os caxixis são usados, junto com o berimbau (que também  não levamos pro estádio),  para produzir o som da capoeira  que é uma legitima e consagrada manifestação cultural. Ele deu o tom comercial ao caxixi,sim, óbvio, que pouca gente da população conhece (mas que devia conhecer pela sua ancestralidade africana!) e por conta disso não tem acesso, faz-se ignorante.

 Essas pessoas que atiraram as caxirolas no campo do estádio são as mesmas que atiram sapatos, rádios, relógio, copos, moedas, latas ou o que tiverem em mãos no momento da fúria, instinto puro. Não adianta trabalhar em cima da proibição, punindo o instrumento se o sentimento nocivo do individuo vai continuar gerando comportamentos Neandertais. O problema está no sujeito. O homem precisa evoluir. E precisa reconhecer que precisa evoluir.

A caxirola está proibida. É tida como uma arma. Um instrumento musical é tido como uma arma(?!). Uma pena. É a vitória do controle sobre a criativade, da falta de educação sobre a cidadania, do senso comum sobre a genialidade, da ignorância burocrática sobre a lucidez-lúdica.

Lembrando que repiques, bacurinhas, surdos, timbaus e bumbos são usados no estádio, mas apenas por parte da torcida...10, 15, 20 integrantes. Com a caxirola cada torcedor poderia produzir seu som, todos podiam participar entrando no ritmo produzido pela coletividade,inclusive quem não sabe tocar, iria no embalo e entraria no ritmo. Essa sensação tem nome, isso é plenitude. Imaginem 40, 50 mil caxirolas interagindo musicalmente? Infelizmente não entenderam dessa forma e preferiram coibir. Qualquer possibilidade de ameaça a ordem estabelecida ou de reconhecimento da crua natureza humana, por mais que isso venha a mostrar aquilo que de fato somos mesmo sem ter o discernimento de admitir, é rapidamente dissimulada, remediada e revertida moralmente para que se aparente a tradicional normalidade.


Carlinhos Brown está além do seu tempo. É um visionário. Eu compreendo que deva ser difícil para o Homem-Neandertal, captar suas ideias e sentimentos. E assim vamos caminhando, assim caminha a humanidade... “com passos de formiga e sem vontade”.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Meses e estações

Fevereiro se foi, acabou o carnaval
O mês se encerra em 28

Março e suas águas fecharam o verão
E cessou outras coisas
Coisas que não vinham indo bem

Abril chegou
Trouxe o outono maroto
Abrem-se novas possibilidades
Abriu, chegou, criou, imaginou

Maio, Junho e Julho mandaram respostas
Um inverno descarado desembarcou na cidade

Agosto vem aí
Meu gosto, seu gosto, gosto
Ah Agosto... ah, gosto
 Pra quê ser um mês tão longo?
Tenho pressa que esse inverno ambíguo passe logo
Podia encurtar teus dias e terminar como Fevereiro...
Fevereiro em ano bissexto

Serás bem vindo, Agosto

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Em algum lugar achado de 2008


Não fosse alguém com nome de flor, talvez jamais tivesse lhe encontrado.

Essa flor que hoje está distante de nós em outra terra, tem uma historia na mitologia.

Ela é a filha de Taumante e de Electra. Taumante era filho do Mar e da Terra e Electra era uma das oceânides, as filhas de Oceano e Tetis. Mensageira que é, parece, portanto designada para unir terra e água.

Desde então, passei a acompanhar suas andanças, suas viagens pra bem longe, Terra
Seus pensamentos, sua poesia de vida, sua vida poética
Seu encanto de vida, sua vida cantante
Sempre de longe, mas de perto

Criando pretextos bobos de aproximação
Admirado pela sua vocação para a arte

Esperançoso de que um dia pudéssemos convergir no mesmo período de disponibilidade para que pudesse tomar parte
De tudo aquilo que já imaginei ser possível antes mesmo do acontecido

Então eis que a distância geográfica deixa de existir e acaba o embaraço
Uma proximidade alfabética nos coloca literalmente no mesmo espaço

Mera coincidência?
Coisas do destino?

A Flor pode responder!
Não a nossa amiga em comum
Nem aquela que você exercitou suas cordas vocais pelos bailes da cidade com suas simpáticas amigas musicais

Falo de uma flor que rime com amor
Flor de terra...terra molhada
Regada à água
Flor forte
Flor frágil
Fecundando felicidade
Flor com “F” maiúsculo

 Que um dia possa chamar de minha...minha flor
 E assim, dizer: "Vem minha flor, vamos cuidar do nosso jardim"

sábado, 6 de julho de 2013

Você sabia?


Que foi lançado mês passado nos Estados Unidos o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e com ele novas e modernas patologias?

Que é no DSM que a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a CID (Classificação Internacional de Doenças) se baseiam para classificar os transtornos psiquiátricos?

Que a compulsão alimentar, agora passa a ser um transtorno mental definindo a pessoa que apresente episódios de alimentação compulsiva ao menos uma vez por semana e durante três meses como portadora do distúrbio?

Que a desordem disfórica pré-menstrual, a forma mais grave de tensão pré-menstrual, que produz irritabilidade, humor instável, ansiedade e problemas de sono durante a última fase do ciclo menstrual, agora está caracterizada como um transtorno mental?

Que o luto por perda de ente querido passa a ser um sintoma da depressão?

Que a necessidade sexual excessiva por pelo menos seis meses; uso frequente do sexo em resposta ao estresse ou ao tédio, sem levar em conta danos físicos ou emocionais, caracteriza o sujeito como portador de transtorno hipersexual?

Então se sofremos por causas naturais que a vida e sua sociabilidade complexa nos oferece com toda sua magia e condição de aprendizado, somos doentes. Se buscarmos alternativas pra fugir destes sofrimentos em eventos prazerosos que julgamos nos proporcionar mais qualidade de vida, também poderemos ser enquadrados em casos patológicos. Então, antes que definam meu diagnóstico como portador de TOD - transtorno opositivo-desafiador (caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil/resistência à figuras de autoridade), resta a pergunta: o que é ser saudável?

 

O passe-livre e a caverna do dragão


Completamos duas semanas de manifestações pelo Brasil. Engana-se quem pensa que a causa de todo esse movimento coletivo nacional não seja por conta do passe livre. É pelo passe-livre, sim! Queremos e exigimos passe livre para passar dessa para uma outra dimensão. Que espécie de dimensão? Outro plano astral que gravite em outros valores morais e ofereça uma nova condição de sociabilidade para se viver. Exatamente como no desenho caverna do dragão que fez parte da infância de muita gente, onde as personagens estão presas num mundo hostil, inóspito, ambientalmente inviável, cheio de inimigos, armadilhas e ciladas. Longe de casa e de suas referências, não reconhecem sua identidade e o que podem alcançar potencialmente ali. Vivem dia após dia. Convivem com seus poderes, suas diferenças, suas trapalhadas, enfrentando outras espécies pitorescas e agressivas que ameaçam suas vidas. Seu guru, o pacato e inofensivo mestre dos magos, de fala mansa, serenidade inabalável e caráter aparentemente inquestionável, dá dicas através de charadas para seus discípulos acharem o portal de volta. Mas não se sabe realmente quais suas reais intenções. Desde criança ouço que ele deseja boicotar o retorno da turma para sua casa. Ele seria o sabotador responsável pela manutenção da trama tal como ela é. (Estaria mestre dos magos para a caverna do dragão assim como Lula está para o Brasil?).

 Pois bem! E o que é que tem a ver caverna do dragão com o movimento passe-livre e a onda de protestos por qual passa o Brasil? Acontece que o alcance de uma nova ordem moral que a sociedade está propondo, com toda complexidade que a vida moderna exige para se rearranjar em termos políticos, administrativos e jurídicos, passa diretamente pela transição do mundo da utopia para o mundo das possibilidades. E para fazer essa transição, só através da “mudança de dimensão”. Só se muda de dimensão encontrando o portal e passe(ando) por ele. E essa transição passa primordialmente pelo passe-livre. Por isso ele é o estopim, o resto vem depois. É o passe-livre que vai dar (já está dando) a liberdade de emancipação e expressão para o início do processo de abertura do portal. Para a nossa migração do lugar-utópico-possível que estar por vir. Que ainda não tem nome, definição, nem idealização ou planejamento. Que nem sequer está pronto. Mas nem precisa, pois para estar, basta o desejo de mudança. De que seja diferente disso que está aí. Esse modelo nós não queremos mais. Não queremos “mestre-dos-magos” da vida real ditando caminhos e rotas com ar de superioridade e objetivos egoístas-eleitoreiros que ele pense ser o melhor pra nós. Quem sabe o que é melhor pra nós, somos nós mesmos! E o melhor pra nós (bem como para as personagens do desenho) é buscar o caminho de volta pra casa. Devolver ao país sua casa pós-faxina. Casa essa que foi um dia sequestrada por colonizadores, extorquida por saqueadores, e deixada como herança maldita o ranço da corrupção e da conveniência. Dessa casa todos nós somos diaristas. Vamos ver do que essa faxina será capaz.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Imperatriz


Não, não rasgue o vestido de ceda

Não perambule mendiga pelos bosques sem estar acompanhada

É outono, é verdade

Mas a cidade não é tão cinza quanto parece

Olhe à sua volta

Há outros olhos fazendo de ti imperatriz

Sobe ao palco, percebe o enredo, ocupa teu lugar

Não há o que temer

Deixa que a água levite teus pés fincados de terra

Impera-atriz!

Dia Histórico



Ta cansado de engarrafamento? Então vamos desengarrafar! Preço? R$0,20

 

Nunca houve momento tão propício para protestar contra as crescentes  imundices morais da política, ingerência estatal, falta de respeito com o cidadão baiano/brasileiro como agora. Vivemos em constantes engarrafamentos, sisudos, entristecidos e acostumados ao caos. Este pode se tornar um hábito prejudicial. O hábito ao sofrimento leva à banalização do que está ruim. Naturalizar o que é caótico como sendo pertencente a cultural local, minando possibilidades de mudanças efetivas.

Acho que de tantos engarrafamentos que vivemos, eles nos deixaram um pouco “engarrafados”. Sim, quem vive engarrafamentos diários, fica/vive­/está engarrafado. Engarrafado dentro de si mesmo, solitário, desiludido, impotente, paralisado numa zona de “conforto” e principalmente sem perceber possibilidades de exercer sua cidadania e se engajar socialmente com a vida urbana de sua localidade ou cidade. Graças aos engarrafamentos, podemos nos desengarrafar, que bom!

A boa notícia é que nunca foi tão barato para se “desengarrafar”. Viver desengarrafado é qualidade de vida! E não custa a anuidade do plano de saúde, nem o preço da farra com os amigos regada a música, vinho e queijos, (mas que poderia ser com cerveja, piscina e churrasco ou água de côco, acarajé e um sambinha). Também não custa o preço da sessão de psicoterapia, do RPG, do pilates, nem o preço das suaves prestações que pagamos para viajar pelo Brasil e desfrutar de lugarejos agradáveis, inóspitos e aconchegantes.

Vou detalhar como cada centavo desse seu protesto sob forma de desengarrafamento vai valer a pena, e ele tem um cunho além de legítimo, bastante terapêutico:

 R$0,01- 115 dias de greve (dias letivos!) dos professores da rede estadual em 2012.

R$,002 -  Feliciano presidente da comissão de direitos humanos.

R$ 0,03 – 12 dias de greve dos policiais da Bahia em 2012, o que demonstra a falta de habilidade política dos governantes em lidar com a situação.

R$ 0,04 – Corrupção deslavada, desmedida e descarada, arbitrariamente.

R$ 0,05 – 8 anos de ociosidade política na gestão da cidade.

R$ 0,06 – Cadê o metrô?

R$ 0,07 – Incompetência frequente na gestão do sistema que opera o ferry-boat.

R$ 0,08  - Rede Globo mascarando fatos e peneirando notícias das manifestações de acordo com sua conveniência.

R$ 0,09  - Jornalistas esportivos fazendo juízo de valor negativo em relação as manifestações. (exceção da ESPN Brasil).

R$ 0,10  - Por uma população baiana mais crítica, engajada e politizada.

R$ 0,11 – Segurança Pública (Salvador foi a quinta cidade mais violenta do Brasil  e décima quarta do mundo em 2012).

R$ 0,12 – Por mais respeito, direito e dignidade para com as minorias excluídas (negros, homossexuais, índios, deficientes)

R$ 0,13 - Indícios de barbárie, sensação de desmantelo e de não possibilidade de retorno em direção ao colapso. (fiz questão de colocar esse no 13)

R$ 0,14 - Por pessoas com mais educação, gentileza, diálogo e flexibilidade.

R$ 0,15 - Caretices burocráticas e autoritárias da Fifa em um estado dito democrático

R$ 0,16 - Wi-fi liberadas e democratização da informação.

R$ 0,17 - Menos demagogia, mais engajamento (tanto da sociedade política quanto da sociedade civil).

R$ 0,18 – Mais arte, cultura e entretenimento. Menos singular e mais plural; menos cri-cri e mais confraternização; menos estética e mais plenitude.

R$ 0,19 – Manter a chama acesa e deixar um legado para as próximas gerações. Também temos nossas implicações em tudo que está aí.

R$ 0,20 – Faça esse bem a si mesmo, você merece! Esbravejar todo seu descontentamento com a vida contemporânea. Extravase. Isso vai fazer com que melhore seu estado de espírito e perceba a força do coletivo. Cada um de vocês me representam.

Como diz Marina Colasanti no seu texto “eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia”:

 “A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.”


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sedução secreta


Sujeitos sensíveis
Serenos sem serem sorumbáticos
Sempre solícitos, socializam sabedoria

 Sepultam  soberania social
Soletram sociabilidades, sem sabatinas

Sutil sensibilidade...seriam saltimbancos?
Sutileza sem sofisticar, simplicidade sem soberba

Suprema sintonia!

 Sossegados-subversivos
Sussurram serenata simbólica

Sou sortudo, somos sortudos
Salivamos... saborearmos sinais, signos ...sorrateiramente

Sede saliente...sedução secreta
Silenciosa sedimentação
Suplicando sacanagens sensitivas  
Saneando safadas secreções
Suturando sentimetos submissos sacrificados

Semeando sonhos 
Sublime sensação

Surpreendente sarau
Santa sinfonia, sagaz sincronia