É chegada a hora
ora...
partidas não me soam bem
neblina que fecha vendas
cobre vales
te dou um abraço, te sinto
te beijo...macio
Saio caminhando
sensação estranha
trilha sonora encenava
outro desfecho
mas é isso
se te quero
só me serve inteira
plena, em paz consigo mesma
Seria uma despedida com sabor de começo?
Psicólogo, Percussionista, Pisciano e adorador de cinema, teatro, música, fotografia e do mar. Gosto de brincar com as palavras.Uso este blog para dar vazão às muitas inquietações que tenho em relação a vida cotidiana seja em tom crítico ou poético. Serve, sobretudo,para expressar um lado mais lúdico e artístico com a palavras e estimular a reflexão.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
sábado, 21 de dezembro de 2013
Contos de uma sexta-feira 13 - II (encontro)
La estava ela, a imperatriz
Bem ali, na minha frente
a poucos metros do meu alcance
não usava o vestido azul e branco estampado
como no sonho de outrora
Águas calmas, barco solitário
em mar aberto que ancora
pouso e miragem
doce como chuva de caju
"Você que rouba meu sonho
Nave galera encantada
Me diga por quem me ponho
nas ondas da madrugada"
Da música "mar noturno" extraio meu sentimento
composta pelo meu compadre Silvio Carvalho
nesse fado que nada tem de melancólico
se apega o meu alento
Bem ali, na minha frente
a poucos metros do meu alcance
não usava o vestido azul e branco estampado
como no sonho de outrora
Águas calmas, barco solitário
em mar aberto que ancora
pouso e miragem
doce como chuva de caju
"Você que rouba meu sonho
Nave galera encantada
Me diga por quem me ponho
nas ondas da madrugada"
Da música "mar noturno" extraio meu sentimento
composta pelo meu compadre Silvio Carvalho
nesse fado que nada tem de melancólico
se apega o meu alento
domingo, 15 de dezembro de 2013
Contos de uma sexta-feira 13 - I (presságio)
As palavras pareciam anunciar
Sim, as palavras daqui
o diluir, a intuição e o destino
Indicavam que o desencontro
que perdurara longo tempo nesta província
estava com os dias contados
Quis que fosse num dia cantado
Quem?
Os anjos do engenho
Retaliação para os supersticiosos
Esperança para os que esperam tempos difíceis
Sim, as palavras daqui
o diluir, a intuição e o destino
Indicavam que o desencontro
que perdurara longo tempo nesta província
estava com os dias contados
Quis que fosse num dia cantado
Quem?
Os anjos do engenho
Retaliação para os supersticiosos
Esperança para os que esperam tempos difíceis
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Canalhices e Cafajestagens
Instruções para leitura:
1-Isto não é um confronto polêmico de gêneros
2-Se for homem pule os itens 3 e 4 e vá direto ao texto
3-Leia racional e impessoalmente
4-Leitura não recomendada se estiver na TPM
“Ah, fulano só quer curtir. Ele não quer nada. É um cafajeste". Pela não rotulação do comportamento masculino e a favor do discernimento feminino.
Por qual razão sempre cabe ao homem o papel de canalha e cafajeste? Quanto mais se torna dominante a ideia de que nenhuma vontade deva ser reprimida, mais cresce nossa incapacidade de lidar com a insatisfação. A insatisfação é geral, bem como intercorrências e desvios de rota que vão de encontro ao nosso desejo.
As mulheres deviam se preocupar com o que tem a oferecer enquanto universo feminino, pessoa, seu estado de humor, comportamento, charme, temperamento, energia, espiritualidade, sua aparência, uma boa conversa (fundamental), se caracterizando assim uma ótima companhia. É um ato de mesquinharia conosco atribuir ao outro nossa condição de felicidade. Ainda que, e eu concorde, seja “impossível ser feliz sozinho”. O que não justifica que você tenha que ficar enviando convites para jogar candy crush e criminal case milhares de vezes.
Um beijo hoje em dia não pode ser atestado de nada. O fato de terem se beijado não reconhece firma em cartório e nem garante que nada (ou tudo) tenha de fluir a partir disso. Ah é, mas tem a ansiedade feminina em querer definir as coisas e a angústia inquietante de viver no indefinido. Sim, mas nem a ansiedade nem a angústia nos impedem de pensar. Viver na aflição pode ser de um grande aprendizado para compreender as “canalhices e cafajestagens”. A química, as reações de ambos no desenrolar do processo e a forma de envolvimento do outro são elementos que influenciam o querer. Desejo não se furta, e muito menos se impõe. Mulheres (alguns homens também, mas são minoria) querem imputar o seu desejo. Não é por aí.
Canalhices e cafajestagens é o que uns fazem com os outros (seja qual gênero for) quando projetam no outro expectativas atuais embasadas em frustrações e satisfações de relacionamentos anteriores. Ou cobrando indiretamente que o outro goste ou queira na mesma proporção que você. Aí anula-se a possibilidade da conquista, que é o grande barato da estória, e cai-se num patrulhamento afetivo. A vigilância sentimental é tão opressora para o homem quanto uma ditadura é pra Che Guevara. Canalhices e cafajestagens são atribuições desnecessárias, pesadas e exageradas ao caráter de alguém, feitas por pessoas que querem relacionamentos egoístas. Canalhice é você, homem ou mulher, culpar o outro por não gostar de você como você gostaria que ele ou ela quisesse, sem perceber qual a sua parcela nisso. Cafajestagem é ser insuficiente pro outro(a) e exigir reciprocidade; é fracassar na conquista e responsabilizar o outro através do jargão já gasto e comum da “cafajestagem masculina”.
Há uma diferença básica entre: o não querer nada; o não querer nada neste momento da vida; e o não querer nada com você. Sugiro diferenciarmos para não generalizarmos e não cair no erro leviano de sair por aí metralhando juízos de valor ao outro.
1-Isto não é um confronto polêmico de gêneros
2-Se for homem pule os itens 3 e 4 e vá direto ao texto
3-Leia racional e impessoalmente
4-Leitura não recomendada se estiver na TPM
“Ah, fulano só quer curtir. Ele não quer nada. É um cafajeste". Pela não rotulação do comportamento masculino e a favor do discernimento feminino.
Por qual razão sempre cabe ao homem o papel de canalha e cafajeste? Quanto mais se torna dominante a ideia de que nenhuma vontade deva ser reprimida, mais cresce nossa incapacidade de lidar com a insatisfação. A insatisfação é geral, bem como intercorrências e desvios de rota que vão de encontro ao nosso desejo.
As mulheres deviam se preocupar com o que tem a oferecer enquanto universo feminino, pessoa, seu estado de humor, comportamento, charme, temperamento, energia, espiritualidade, sua aparência, uma boa conversa (fundamental), se caracterizando assim uma ótima companhia. É um ato de mesquinharia conosco atribuir ao outro nossa condição de felicidade. Ainda que, e eu concorde, seja “impossível ser feliz sozinho”. O que não justifica que você tenha que ficar enviando convites para jogar candy crush e criminal case milhares de vezes.
Um beijo hoje em dia não pode ser atestado de nada. O fato de terem se beijado não reconhece firma em cartório e nem garante que nada (ou tudo) tenha de fluir a partir disso. Ah é, mas tem a ansiedade feminina em querer definir as coisas e a angústia inquietante de viver no indefinido. Sim, mas nem a ansiedade nem a angústia nos impedem de pensar. Viver na aflição pode ser de um grande aprendizado para compreender as “canalhices e cafajestagens”. A química, as reações de ambos no desenrolar do processo e a forma de envolvimento do outro são elementos que influenciam o querer. Desejo não se furta, e muito menos se impõe. Mulheres (alguns homens também, mas são minoria) querem imputar o seu desejo. Não é por aí.
Canalhices e cafajestagens é o que uns fazem com os outros (seja qual gênero for) quando projetam no outro expectativas atuais embasadas em frustrações e satisfações de relacionamentos anteriores. Ou cobrando indiretamente que o outro goste ou queira na mesma proporção que você. Aí anula-se a possibilidade da conquista, que é o grande barato da estória, e cai-se num patrulhamento afetivo. A vigilância sentimental é tão opressora para o homem quanto uma ditadura é pra Che Guevara. Canalhices e cafajestagens são atribuições desnecessárias, pesadas e exageradas ao caráter de alguém, feitas por pessoas que querem relacionamentos egoístas. Canalhice é você, homem ou mulher, culpar o outro por não gostar de você como você gostaria que ele ou ela quisesse, sem perceber qual a sua parcela nisso. Cafajestagem é ser insuficiente pro outro(a) e exigir reciprocidade; é fracassar na conquista e responsabilizar o outro através do jargão já gasto e comum da “cafajestagem masculina”.
Há uma diferença básica entre: o não querer nada; o não querer nada neste momento da vida; e o não querer nada com você. Sugiro diferenciarmos para não generalizarmos e não cair no erro leviano de sair por aí metralhando juízos de valor ao outro.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Diluir
A crosta se desfazendo
erupções desencastelando
água e estrada
entrocamento, bifurcações... interseções
mergulhei na imensidão
com vontade de te achar
por vezes me pergunto:
estaria ela pronta para sentir
o que sente o pescador pelo mar?
erupções desencastelando
água e estrada
entrocamento, bifurcações... interseções
mergulhei na imensidão
com vontade de te achar
por vezes me pergunto:
estaria ela pronta para sentir
o que sente o pescador pelo mar?
Cabaret da sereia
"Espuma no ar
Reveillon
Tão misteriosa canção
O tempo passou pelo meu coração
Estrela do mar
Solidão
Um barco sangrando no cais
A terra rodando prá trás
Me deu vontade de encontrar você
Queria gritar
Mas lembrei Que ali era praia de pescador
Ah! meu amor
Se eu pudesse caminhar
No azul do mar
Nunca mais voltar
Faria uma casa pra morar
Daria um beijo no luar
Iria cantar no cabaret da sereia
Pescava na sala de jantar
Deixava o vento me levar
A noite chegou eu acordei
Na areia...
Se eu pudesse caminhar
No azul do mar
Nunca mais voltar"
Reveillon
Tão misteriosa canção
O tempo passou pelo meu coração
Estrela do mar
Solidão
Um barco sangrando no cais
A terra rodando prá trás
Me deu vontade de encontrar você
Queria gritar
Mas lembrei Que ali era praia de pescador
Ah! meu amor
Se eu pudesse caminhar
No azul do mar
Nunca mais voltar
Faria uma casa pra morar
Daria um beijo no luar
Iria cantar no cabaret da sereia
Pescava na sala de jantar
Deixava o vento me levar
A noite chegou eu acordei
Na areia...
Se eu pudesse caminhar
No azul do mar
Nunca mais voltar"
Intuição e destino
Falar sem dizer
argumento sem explicar
desejo sem tocar
sentir sem encontrar
Acasos de uma distância tão próxima
Tocando o encontro
o desejo é inexplicável
o sentimento não precisa ser dito
e nem a fala precisa de argumento
argumento sem explicar
desejo sem tocar
sentir sem encontrar
Acasos de uma distância tão próxima
Tocando o encontro
o desejo é inexplicável
o sentimento não precisa ser dito
e nem a fala precisa de argumento
Constatações da semana
- Os mijões de rua de Salvador continuam fazendo suas proezas. Cada vez mais sofisticados, se superam atuando em lugares inusitados
- Shopping Iguatemi já é o novo Shopping Piedade
- Posto de gasolina ainda é um grande refúgio para o tédio coletivo. Ver um aglomerado de gente desconhecida e vários carros com o porta-malas aberto disputando acirradamente qual gênero musical prevalece é tão insignificante quanto o valor que essas pessoas dão ao seu próprio tédio.
- O samba da Bahia, aquele de raiz, vai muito bem obrigado: Juliana Ribeiro, Roberto Mendes, Raimundo Sodré, Antonio Carlos e Jocafi, e Riachão agradecem!
-Aplicativos de relacionamentos e seus derivados decretam o fim do romantismo
- Shopping Iguatemi já é o novo Shopping Piedade
- Posto de gasolina ainda é um grande refúgio para o tédio coletivo. Ver um aglomerado de gente desconhecida e vários carros com o porta-malas aberto disputando acirradamente qual gênero musical prevalece é tão insignificante quanto o valor que essas pessoas dão ao seu próprio tédio.
- O samba da Bahia, aquele de raiz, vai muito bem obrigado: Juliana Ribeiro, Roberto Mendes, Raimundo Sodré, Antonio Carlos e Jocafi, e Riachão agradecem!
-Aplicativos de relacionamentos e seus derivados decretam o fim do romantismo
O que é o que é?
- vive tempos difíceis
- está banalizado
- é igual a Lombardi e cabelo de freira. Ninguém nunca viu, mas sabemos que existe
- muita gente acha que sabe o que é sem nunca ter vivido um
- muitos dizem que é o que ainda pode salvar o mundo
- primeiro sucesso da dupla Zezé di Camargo e Luciano
R: É o amor.
- está banalizado
- é igual a Lombardi e cabelo de freira. Ninguém nunca viu, mas sabemos que existe
- muita gente acha que sabe o que é sem nunca ter vivido um
- muitos dizem que é o que ainda pode salvar o mundo
- primeiro sucesso da dupla Zezé di Camargo e Luciano
R: É o amor.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Querer V (o Quinto querer)
Enquanto não tenho você perto
vou namorando suas palavras...
é a melhor forma de sentir você.
vou namorando suas palavras...
é a melhor forma de sentir você.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Instagramizados
Instragram, é esse aplicativo bacana de fotos que mostra lugares de passeios a viagens, pessoas em festas ou celebrando a vida, comidas de boteco e restaurantes, animais de estimação e tudo que é tipo de gente e como andam suas vidas badaladas. Não há vida monótona nem melancólica no instagram. O grande barato do instagram é editar fotos. Modificando cores, luzes, tons, tirando (ou colocando) sombras e manchas. Editar nuances. Inserir filtros. Nas fotos! Mas até que ponto não reproduzimos isso nas nossas relações, isso de manipular nossa imagem?
A questão é quando o sujeito fica refém desse filtro virtual, e num gesto automático o transpõe para seu dia-a-dia. Vai mascarando a si mesmo como se fosse as fotos que publica. Configura e “edita” sua auto-imagem de acordo com a conveniência do meio social e insere um auto-filtro denunciando algo que não é. Denunciando apenas para si. Pois para os outros ele é a imagem que o filtro que ele escolheu quis projetar. Hoje é inevitável a influência do meio técnico-digital na subjetividade e nos comportamentos, bem como é inegável sua repercussão na formação da identidade.
Quem usa e gosta do aplicativo assim como eu, um alerta: cuidado pra não fazer sua vida social refém do enquadramento que a foto exige e acabar ficando “enquadrado”. Enquadramento que cobra instantaneamente um filtro pra embelezar superficialmente e excluir o que ela tem de bom: o original e o natural. Você não precisa ser sua foto. Deixe o filtro apenas pra fotografia. Na nossa vida, em nós e entre nós, filtro mesmo só o solar.
A questão é quando o sujeito fica refém desse filtro virtual, e num gesto automático o transpõe para seu dia-a-dia. Vai mascarando a si mesmo como se fosse as fotos que publica. Configura e “edita” sua auto-imagem de acordo com a conveniência do meio social e insere um auto-filtro denunciando algo que não é. Denunciando apenas para si. Pois para os outros ele é a imagem que o filtro que ele escolheu quis projetar. Hoje é inevitável a influência do meio técnico-digital na subjetividade e nos comportamentos, bem como é inegável sua repercussão na formação da identidade.
Quem usa e gosta do aplicativo assim como eu, um alerta: cuidado pra não fazer sua vida social refém do enquadramento que a foto exige e acabar ficando “enquadrado”. Enquadramento que cobra instantaneamente um filtro pra embelezar superficialmente e excluir o que ela tem de bom: o original e o natural. Você não precisa ser sua foto. Deixe o filtro apenas pra fotografia. Na nossa vida, em nós e entre nós, filtro mesmo só o solar.
Homo Acomodadus
Temos um hábito, estranho, de delegar tarefas cotidianas aos outros (geralmente, “alguém”) como se nós mesmos fôssemos incapazes de realizá-la. Talvez nossa cultura favoreça isso. O prefeito cuida da cidade, os pais cuidam da casa e da educação dos filhos, a polícia da segurança os professores do ensino. Internalizamos que os outros podem fazer as coisas sem que de fato precisemosbotar a mão na massa. Não nos ensinam a ter a responsabilidade da iniciativa.
Dispensa vazia, escassez na geladeira, fome apertando... “alguém precisa fazer o mercado”. Entorno do seu prédio ou de sua casa sujo e descuidado... “tem que falar com o sindico ou um responsável pra arranjar alguém que faça uma faxina nisso aqui”. Hora do bába, começa a chover... “alguém precisa pegar o rodo pra enxugar isso aqui”. Sujeito estúpido estaciona na vaga para idosos ou deficientes... “alguém precisa avisar a esse idiota que ele está errado, pra tirar o carro da vaga que não é dele”! Alguém precisa tomar uma providência. Alguém precisa ensinar esse médico o significado de pontualidade. Alguém precisa ver o que está acontecendo com tio Arnaldo, ele anda meio estranho. Alguém precisa se mexer. Alguém precisa esquematizar a viagem e comprar as passagens. Alguém, alguém, alguém. Estamos sempre esperando que alguém se apresente para a tarefa que pensamos não ser nossa. Quem é esse alguém?
O ranço que nos faz não apreciar a política na vida pública pela descrença, mesmo que já tenha tomado conta de nós, não deve nos impedir de sermos politizados na vida urbana e protagonistas na vida pessoal. A equação é mais ou menos essa: ranço político + descrença turva + imposições da ciência e da religião + sensação de impotência = acomodação. Mas generalizamos essa acomodação para diversos segmentos da vida, até os mais simples.
Delegamos porque renunciamos a política na nossa vida particular. Exterminando o nosso ser político subjetivo. Delegamos porque autoridade, autoritarismo, direitos/deveres, acomodação e servilismo se confundem e se confundem muito! Principalmente na Bahia. Delegamos porque temos alergia à política mesmo que teimosamente não queiramos reconhecer que ela faça parte de nós. Desconhecemos que quaisquer de nossas ações (ou omissões) são políticas por natureza. Por mais singela que seja a tarefa. Renunciamos uma tarefa porque não queremos sair da zona de conforto e por outro lado paga-se o preço de retardar nossa emancipação e nosso amadurecimento político-social. Alguém precisa dizer que política não é só aquilo que acontece em Brasília. Alguém precisa dizer que política é diferente de politicagem e de partidarismos. Alguém precisa acreditar em uma nova política de vida. Alguém precisa fazer valer essa política, inventando suas próprias iniciativas políticas.
Dispensa vazia, escassez na geladeira, fome apertando... “alguém precisa fazer o mercado”. Entorno do seu prédio ou de sua casa sujo e descuidado... “tem que falar com o sindico ou um responsável pra arranjar alguém que faça uma faxina nisso aqui”. Hora do bába, começa a chover... “alguém precisa pegar o rodo pra enxugar isso aqui”. Sujeito estúpido estaciona na vaga para idosos ou deficientes... “alguém precisa avisar a esse idiota que ele está errado, pra tirar o carro da vaga que não é dele”! Alguém precisa tomar uma providência. Alguém precisa ensinar esse médico o significado de pontualidade. Alguém precisa ver o que está acontecendo com tio Arnaldo, ele anda meio estranho. Alguém precisa se mexer. Alguém precisa esquematizar a viagem e comprar as passagens. Alguém, alguém, alguém. Estamos sempre esperando que alguém se apresente para a tarefa que pensamos não ser nossa. Quem é esse alguém?
O ranço que nos faz não apreciar a política na vida pública pela descrença, mesmo que já tenha tomado conta de nós, não deve nos impedir de sermos politizados na vida urbana e protagonistas na vida pessoal. A equação é mais ou menos essa: ranço político + descrença turva + imposições da ciência e da religião + sensação de impotência = acomodação. Mas generalizamos essa acomodação para diversos segmentos da vida, até os mais simples.
Delegamos porque renunciamos a política na nossa vida particular. Exterminando o nosso ser político subjetivo. Delegamos porque autoridade, autoritarismo, direitos/deveres, acomodação e servilismo se confundem e se confundem muito! Principalmente na Bahia. Delegamos porque temos alergia à política mesmo que teimosamente não queiramos reconhecer que ela faça parte de nós. Desconhecemos que quaisquer de nossas ações (ou omissões) são políticas por natureza. Por mais singela que seja a tarefa. Renunciamos uma tarefa porque não queremos sair da zona de conforto e por outro lado paga-se o preço de retardar nossa emancipação e nosso amadurecimento político-social. Alguém precisa dizer que política não é só aquilo que acontece em Brasília. Alguém precisa dizer que política é diferente de politicagem e de partidarismos. Alguém precisa acreditar em uma nova política de vida. Alguém precisa fazer valer essa política, inventando suas próprias iniciativas políticas.
domingo, 20 de outubro de 2013
Querer IV (da filosofia do afeto)
Perceber ser afetado pelo afeto
é um reconhecimento de fato
de que são os afetos que nos afetam
o discernimento não afeta
apenas pode fatiar o afeto
faturando os afetos fatiados dos afetados
Fatalidades afetadas
Afetos fatais
Fatídicos afetos fantasiosos
é um reconhecimento de fato
de que são os afetos que nos afetam
o discernimento não afeta
apenas pode fatiar o afeto
faturando os afetos fatiados dos afetados
Fatalidades afetadas
Afetos fatais
Fatídicos afetos fantasiosos
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Querer III (do discernimento)
Conheço a bifurcação do querer
até onde vai um querer autêntico
e onde já invade um querer orgulhoso
se sobrepondo
é perigoso
Por vezes
ser sequestrado por esse outro querer
que não aquele
um querer engolido pela disputa
pelo simples êxito
Querer triunfar apenas.
Aí vira jogo
esse querer eu não quero.
é preciso discernir o querer
é preciso querer discernir
Querer II (das coincidências)
-Oi, posso me sentar?
-Não sei, acho que prefiro ficar sozinha...
-Que coincidência, eu também! Então vamos querer solidão
juntos!
Querer I (das indecisões)
Queria que me quisesse
Mas não o controlamos
E, mesmo se pudesse...
Não querendo, não posso querer que queira
Quer sim, quer não, quer poeira
Talvez...
Timidez...
Querer que vai além da razão
Aquele que tudo quer
E aquele que nada quer
Por não saberem o que querer
Querem solidão
Mares de Ti
"Se
tropeçar meus pés cansados
Nos mares de ti
Cuidar de mim cuidar de ti
As fases e frases
Desfazem nos jeans
Por que é só você que sabe
Aonde surfir
O mais bonito do magnífico
Só teu sorriso esculpe
Nos mares de ti
Cuidar de mim cuidar de ti
As fases e frases
Desfazem nos jeans
Por que é só você que sabe
Aonde surfir
O mais bonito do magnífico
Só teu sorriso esculpe
Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão
Não
sei pisar no breque
Tomo charrete
Pros lares de rubis
Pensando nisso
Pensando em ti
Tomo charrete
Pros lares de rubis
Pensando nisso
Pensando em ti
Senti
felicidade sem fim
Se for passar precisos sarar
É quase inútil
Ficar de ir
Ficar de vir
Se for passar precisos sarar
É quase inútil
Ficar de ir
Ficar de vir
Ficar
feliz isso sim
Solidão
A vida nos fez
Apesar de ter
A vida nos fez
Apesar de ter
Solidão"
#Partiu? #Partiu!
Partiu Fonte Nova, partiu piscina, partiu balada, partiu
academia, partiu praia, partiu cineminha, partiu banho de pipoca, partiu
churrasquinho com a galera, partiu caruru de Cosme e Damião, partiu banho de
folha, partiu roda de samba, partiu centro cirúrgico, partiu batizado do
afilhado, partiu faculdade, partiu viagem pra Turquia, partiu intercâmbio na
Austrália, partiu caminhada matutina, partiu trampo, partiu dieta de segunda
feira, partiu passeio canino, partiu forró do piu-piu, partiu muquifest.
Muita gente partindo pra muitos lugares, lazeres e afazeres
e muitas coisas se partindo.
Partiram a gentileza, partiram as regras da boa convivência,
partiram o bom senso, partiram a simplicidade, partiram os diálogos longos e
interessantes, partiram os bons costumes numa vida urbana caótica, partiram a
coletividade, partiram a prudência, partiram a capacidade de indignação com a
vida política, partiram a inquietação com uma democracia leviana e conveniente,
partiram a cobrança intensa da educação como prioridade, partiram a consciência
ambiental e a sustentabilidade, partiram a solidariedade para com o outro, partiram
em pedacinhos a autoestima do professor denegrindo sua imagem, partiram o senso crítico, partiram as
identidades.
Nosso território é esse vamos cuidar dele, não precisamos
partir. Quem está cada hora em um lugar não está em lugar algum. Não cria laços
nem vínculos e não cuida do seu espaço. Não parta, fique.
Não vamos nos tornar fragmentados, não precisamos partir.
Vamos ser e estar inteiros. Agregue. Partir é dividir. Dividir é subtrair. Quem
subtrai não alcança a unidade e nem a plenitude. Não parta, junte.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Sala de Embarque
Quantos já passaram por aqui?
Despachando malas cheias
Acompanhando pessoas vazias
Embarcando repleto de esperanças
Toda partida carrega expectativas e saudades
Café expresso e pão de queijo
para discutir relação
nem o pão de queijo dormido
parecia tão desgastado quanto ela
Pelo finger, rumo ao avião
executivos interagem com seu tablet
crianças arredias e chiliquentas
dão seu show pra chamar atenção da mamãe
"Tripulação, portas em automático"
Embarque encerrado, portas fechadas.
Poderia também cada um fechar-se em si mesmo
A mãe rever seus erros cotidianos
Condicionamentos prejudiciais
Os executivos aturarem duas horas à só consigo mesmo
(será que é tão monótono e enfadonho estar consigo mesmo?)
(talvez pra ele deva ser)
O casal rever seus erros, individualmente
manejá-los
cobranças, diferenças
mediar o que compete à cada um
se assim o sentimento mandar
pois é o senhor da relação
Não sei como foi o desembarque
Mas em duas horas de vôo cabe muita coisa
As nuvens não só favorecem encontros com os sonhos
mas também com os nossos pesadelos
Despachando malas cheias
Acompanhando pessoas vazias
Embarcando repleto de esperanças
Toda partida carrega expectativas e saudades
Café expresso e pão de queijo
para discutir relação
nem o pão de queijo dormido
parecia tão desgastado quanto ela
Pelo finger, rumo ao avião
executivos interagem com seu tablet
crianças arredias e chiliquentas
dão seu show pra chamar atenção da mamãe
"Tripulação, portas em automático"
Embarque encerrado, portas fechadas.
Poderia também cada um fechar-se em si mesmo
A mãe rever seus erros cotidianos
Condicionamentos prejudiciais
Os executivos aturarem duas horas à só consigo mesmo
(será que é tão monótono e enfadonho estar consigo mesmo?)
(talvez pra ele deva ser)
O casal rever seus erros, individualmente
manejá-los
cobranças, diferenças
mediar o que compete à cada um
se assim o sentimento mandar
pois é o senhor da relação
Não sei como foi o desembarque
Mas em duas horas de vôo cabe muita coisa
As nuvens não só favorecem encontros com os sonhos
mas também com os nossos pesadelos
Tipos de Luz. Qual o seu?
Quem já foi numa loja de luminárias sabe que tem diversos tipos de formatos e intensidade de lâmpadas, adequadas do mais simples ao mais sofisticado apartamento/casa. Fui recentemente numa e a vendedora bastante atenciosa explicou minuciosamente a função de cada uma. Lâmpadas fluorescentes, lâmpadas incandescentes, lâmpadas halógenas etc. Provavelmente essas lâmpadas dizem muito também sobre o dono do apartamento ou quem o habita.
Diferem quanto ao tipo-intensidade de luz que emite, seu consumo, desgaste e durabilidade. Assim como os donos. Assim como pessoas, seres humanos.
Segundo a vendedora e seus discurso simpático porém comercial, uns preferem a iluminação intensa,(lâmpada fluorescente) outros a que consome muito mas ilumina pouco (lâmpada incandescente) e outros a que ilumina de forma direcionada e com uma boa durabilidade (lâmpada halógena).
Em tempos de exibicionismo exacerbado muitos querem holofotes. Querem luz. Querem ser e estar iluminados. Síndrome do pânico da discrição. Quem quer anonimato hoje em dia? Pois “receber a luz” e “estar iluminado” se tornou sinônimo de ser bem guiado por algo místico, de estar no caminho certo, rumo a uma vida bem sucedida, contemplada de sucesso e felicidade permanente.
Alerto que a luz do abajur, discreta, intimista, tímida e de pouca intensidade, embora não ilumine na dimensão que os atuais padrões sociais-pirotécnicos exijam, consegue dar conta para o objetivo ao qual se propõe.
Mas para quem não tem objetivo, (ou autoconhecimento), (ou discernimento), qualquer luz serve.
Escolha sua “luz” com cautela, evite propagar a fotofobia.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Dias de Primavera
Discos de Clara Nunes e Moraes Moreira se olham
misturando-se com Mateus Aleluia e Gilberto Gil
trazendo Bahia e Africa
Escritos inacabados se esparramam
Clamando juntos por continuação
Reivindicação mais que justa
Machado de Assis se faz presente com seu Alienista
Clint Eastwood aparece com as Pontes de Madison
Foucault e seus densos e cansativos livros acadêmicos
Minha bancada sou eu
Dividido, somado, multiplicado, sempre
sempre-sempre
entre música, poesia
Filmes, estórias e psicologia
Aqui
o equinócio traz vida
Agora
Mateus canta "Lamento às águas"
misturando-se com Mateus Aleluia e Gilberto Gil
trazendo Bahia e Africa
Escritos inacabados se esparramam
Clamando juntos por continuação
Reivindicação mais que justa
Machado de Assis se faz presente com seu Alienista
Clint Eastwood aparece com as Pontes de Madison
Foucault e seus densos e cansativos livros acadêmicos
Minha bancada sou eu
Dividido, somado, multiplicado, sempre
sempre-sempre
entre música, poesia
Filmes, estórias e psicologia
Aqui
o equinócio traz vida
Agora
Mateus canta "Lamento às águas"
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Açaí no Leblon
Resina, mel selvagem, colibris
granola, xarope de guaraná
o vento carioca exalando seus sabores
floresta urbana na Ataulfo de Paiva
(o mar na espreita)
Cérebro congelando, adocicado
Quase paralisado
frieza do açaí congelante
Aqui estou bem, tenho todo tempo pra mim
devaneios, divagações, dissonâncias
quanto transtorno dentro de si
só um homem sem uma mulher sabe o que é
Naquele instante intacto, viu
Dois olhos de menina
Menina marota
Dois olhos que roubaram do céu
toda sua tinta
Plantado, alonguei meus ramos
para poder tocá-la
Céu e sol
Rocha e nuvem
riso e choro
Só, num canto.
Canto que preenchia ali
sua grande imensa solidão
Solidão doce, roxa-escura e friamente gelada
Como o açaí
que o fez congelar a realidade
e a si mesmo, naquele instante
granola, xarope de guaraná
o vento carioca exalando seus sabores
floresta urbana na Ataulfo de Paiva
(o mar na espreita)
Cérebro congelando, adocicado
Quase paralisado
frieza do açaí congelante
Aqui estou bem, tenho todo tempo pra mim
devaneios, divagações, dissonâncias
quanto transtorno dentro de si
só um homem sem uma mulher sabe o que é
Naquele instante intacto, viu
Dois olhos de menina
Menina marota
Dois olhos que roubaram do céu
toda sua tinta
Plantado, alonguei meus ramos
para poder tocá-la
Céu e sol
Rocha e nuvem
riso e choro
Só, num canto.
Canto que preenchia ali
sua grande imensa solidão
Solidão doce, roxa-escura e friamente gelada
Como o açaí
que o fez congelar a realidade
e a si mesmo, naquele instante
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Cabaré Biblioteca Pascal
Quando a realidade for mesquinha, sonhe.
Quando a realidade for cruel, sonhe.
Quando a realidade atormentar, sonhe.
Quando não couber mais sonhos
A realidade vai dizer que chegou a hora dela se impor.
Quando não for mais necessário sonhar
Porquê a realidade se impôs
Reinvente seus sonhos.
Quando a realidade for cruel, sonhe.
Quando a realidade atormentar, sonhe.
Quando não couber mais sonhos
A realidade vai dizer que chegou a hora dela se impor.
Quando não for mais necessário sonhar
Porquê a realidade se impôs
Reinvente seus sonhos.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Digestão II
Menino no (do) Rio.
Cachos baianos em férias
Revisitando território fluminense
Queria tanto abraçar o vento, mas tanto...
O vento do Rio
Corria, pulava
Brincava em Laranjeiras
De paralelepípedos cinzas
Praça arborizada
Balanços esverdeados
Carrinho de pipoca
Bancos descascados
Nostálgico, cantarolava:
"o anel que tu me deste
era de vidro e se quebrou..."
Cachos baianos em férias
Revisitando território fluminense
Queria tanto abraçar o vento, mas tanto...
O vento do Rio
Corria, pulava
Brincava em Laranjeiras
De paralelepípedos cinzas
Praça arborizada
Balanços esverdeados
Carrinho de pipoca
Bancos descascados
Nostálgico, cantarolava:
"o anel que tu me deste
era de vidro e se quebrou..."
Digestão I
A estranheza recíproca é combatida com afinidades
Mas e quando nem assim
Aproximam-se os afins?
Amenidades.
Mas e quando nem assim
Aproximam-se os afins?
Amenidades.
domingo, 15 de setembro de 2013
Indigestão II
Sempre me inspiram.
Reverberam como guitarra de rock progressivo
Ecoam em mim como os tambores do ilê
Passeiam por mim como a nona sinfonia de Beethoven
Nem sempre bem compreendidas
Chegam mansas, saem mar-revolto
Enigmáticas
Dúvida nebulosa
Singelas
Dádiva cremosa
Complexas
Da-vida impetuosa
Por vezes indigestas
Aquelas poesias
sábado, 14 de setembro de 2013
Indigestão I
Nada de sábios
Tudo se amarrando
Nada de lábios
Tudo preto e branco
Meio atônito
Meio cinza
Meio cômico
Nada finda
Tudo platônico?
Tudo se amarrando
Nada de lábios
Tudo preto e branco
Meio atônito
Meio cinza
Meio cômico
Nada finda
Tudo platônico?
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Receita para Cuscuz
Aqui estou.
em casa
Sul da Bahia, minha raízes
Vegetação densa, um verde vivo-vistoso
Felizes-felizes
Cheiro de café, bolo da hora
Bolacha de goma, avoador
Conversa fiada na cozinha
A melhor das minhas escolas
e assim fui preparar o cuscuz
Com sal e açúcar
flocos de milho e água (na dose certa)
Muita água sola o fubá do milho(!)
Cuscuz é assim
Mistura, pega a liga, flocos de milho áspero e molhado nas mãos
Elas, sensitivamente, indicam o ponto
Água ferve, flocos pegadinhos, soltos, leves
A distribuição no cuscuziero é sutil, delicada
Cuscuz pronto, quentinho, hora de apurar
Manteiga derretendo em suas entranhas
desvendando labiritntos amarelos construídos pelas mãos
Mãos enormes, mãos doce-salgadas, mãos suaves
Sem suavidade não se faz um bom cuscuz
em casa
Sul da Bahia, minha raízes
Vegetação densa, um verde vivo-vistoso
Felizes-felizes
Cheiro de café, bolo da hora
Bolacha de goma, avoador
Conversa fiada na cozinha
A melhor das minhas escolas
e assim fui preparar o cuscuz
Com sal e açúcar
flocos de milho e água (na dose certa)
Muita água sola o fubá do milho(!)
Cuscuz é assim
Mistura, pega a liga, flocos de milho áspero e molhado nas mãos
Elas, sensitivamente, indicam o ponto
Água ferve, flocos pegadinhos, soltos, leves
A distribuição no cuscuziero é sutil, delicada
Cuscuz pronto, quentinho, hora de apurar
Manteiga derretendo em suas entranhas
desvendando labiritntos amarelos construídos pelas mãos
Mãos enormes, mãos doce-salgadas, mãos suaves
Sem suavidade não se faz um bom cuscuz
domingo, 8 de setembro de 2013
O bêbado e a equilibrista
Embriagar-se de excessos
Tempos difíceis
Discursos moralistas, modelos demagógicos
Ressaca moral, ressaca afetiva
Ressaca política, ressaca amorosa
Carentes, rejeitados
Tímidos, atrapalhados
Ressaqueados, estafados.
Cansados.
Circo movimentado, palhaços tristes em alvoroço
Platéia ausente
O mágico enfeitiçou todos.
E a trapezista me chamou pra passear.
Tempos difíceis
Discursos moralistas, modelos demagógicos
Ressaca moral, ressaca afetiva
Ressaca política, ressaca amorosa
Carentes, rejeitados
Tímidos, atrapalhados
Ressaqueados, estafados.
Cansados.
Circo movimentado, palhaços tristes em alvoroço
Platéia ausente
O mágico enfeitiçou todos.
E a trapezista me chamou pra passear.
sábado, 7 de setembro de 2013
A Princesa do Subterrâneo
No reino subterrâneo onde não existe mentira, escombros ou
dor, Ofélia sonhava com o céu azul, a brisa suave e o sol brilhante.
Ela que teve tantos
nomes, nomes antigos que só poderiam ser pronunciados pelo vento e pelas arvores
que habitavam os bosques, não reconhecia em si sua nobre vocação.
Decodificando o livro das encruzilhadas deduzia intuitivamente o seu
destino. Abrir o portal para a passagem daqueles que queriam e podiam ser como
ela. Não, não. Esse caminho era apenas dela.
Vsa. Alteza deixou poucos rastros de sua existência...rastros
estes visíveis somente para aqueles que sabem onde procurar.
(O Labirinto do Fauno é um grande filme)
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Ciclos
Setembro desembarcou, incógnito.
Avisando que logo mais será primavera
Trazendo sua magia que antecede o verão.
E o ciclo das estações vai girando, girando previsivelmente.
Como roda-gigante.
Como a vida de muitos
Como a esperança de uns
Como a apatia de outros.
sábado, 24 de agosto de 2013
Filmeletrando
Os deuses devem estar loucos, apertem os cintos...o piloto
sumiu!
Encurralado entre os muros da escola, o professor aloprado e
o homem que copiava coisas belas e sujas imaginavam um mundo perfeito a espera
de um milagre.
Queriam fazer uma viagem ao mundo dos sonhos, encontrar os
sonhadores, ouvir a historia sem fim, dançar o ultimo tango em paris...perceber
como a vida é bela.
Do lado de fora, curtindo a vida adoidado onde os fracos não
tem vez, o jardineiro fiel (que não era Edward mãos de tesoura) regava sua árvore
da vida com seu coração valente. Mais distante, na casa do lago, o pianista
observava pela janela indiscreta a vida dos outros, o doce novembro. Novembro
que é outono em Nova York. Todos esses homens de honra que pareciam morar na
cidade dos anjos tinham um instinto secreto. Um amigo oculto. Eram bons
companheiros, mas pareciam ser aventureiros do bairro proibido. Estavam por um
triz a se apaixonar pela estranha perfeita, e ignorando o preço do amanhã, a
convidaram para a ultima ceia. O que desejavam com ela era curtir um império
dos sentidos, pintar ou fazer amor. Como água para chocolate.
Mas nessa sociedade
dos poetas mortos que sempre existem coisas que perdemos pelo caminho, e parecemos
estar entrando numa fria, numa dança com lobos, nunca estamos sem saída. Precisamos
encontrar o tempo de despertar, desenvolver o sexto sentido, experimentar os
sete pecados capitais, e descobrir o oitavo dia.
Ass – o quinto elemento
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Nos braços de mor-feu
Sonhei com você imperatriz.
Sim, na noite passada.
Linda, com um vestido azul e branco estampado
surgia uma mulher imponente-discreta
exalando a sutileza do seu modo sensual de ser
Descalça, rodopiava de braços abertos
...parecia ser de felicidade.
Flechava olhares e me distribuía abraços atrasados.
Carinhos meigos retardatários
intercalavam-se com beijos encaixados molhados.
Depois, sussurrou docilmente: "acorda, Dan! Já perdemos tempo demais dormindo!"
E eu acordei.
Sim, na noite passada.
Linda, com um vestido azul e branco estampado
surgia uma mulher imponente-discreta
exalando a sutileza do seu modo sensual de ser
Descalça, rodopiava de braços abertos
...parecia ser de felicidade.
Flechava olhares e me distribuía abraços atrasados.
Carinhos meigos retardatários
intercalavam-se com beijos encaixados molhados.
Depois, sussurrou docilmente: "acorda, Dan! Já perdemos tempo demais dormindo!"
E eu acordei.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Homem-peixe (ato 3)
Na água, submergiu
Submerso, surgiu
fluidez, silêncios líquidos, movimentos sutis, vozes de
sereia
Submerso, riu
com ostras indiferentes, algas felizes e cavalos marinhos
tristonhos
Submerso, curtiu
a pluralidade da
fauna marinha, a água deslizando pela pele
Submerso, sentiu... água roçando poros, corais protegendo as espécies
Submerso, permitiu
Homem-peixe que já voou e plantado esteve, queria estar
livre na água
Eis então sua tão sonhada liberdade
No não-lugar, onde nada ou ninguém o regula ou vigia
Que mesmo parado pode movimentar-se pois a água tem
movimento próprio:
O balançar das ondas, a força das correntes e a influência
da lua.
Mas mesmo no seu místico
e misterioso habitat não mergulha tão fundo.
Submerso, regrediu
Tem certo medo do tão almejado desconhecido. (submerso-infantil)
La, nas profundezas, é mais escuro pois a luz do sol não alcança
Pode guardar
monstros sinistros devoradores de sua segurança
Emergindo medos primitivos que nem cardumes valentes confrontem
Seus segredos, nem o sensível amigo cavalo marinho,
descriptografou.
Submerso vadio...
Mergulhado em si mesmo e nas miragens marinhas
Afogou-se em seus sonhos
Que é terreno seguro pra uns
E arenoso pra outros
E, submerso, dormiu.
domingo, 18 de agosto de 2013
Homem-planta (ato 2)
Voltou de viagem querendo ser planta
Confidenciando-se para ossanha
Seria seu mais duro desafio, o ser estático e vegeta-meditativo
Sem movimento, sem perspectivas
Cabia aguardar os elementos precisos da previsibilidade
A sensação de estar plantado lhe angustiava
Não depender de si para ter água, seu elemento vital, lhe
angustiava
Desiludido com o terreno preciso das plantas, já havia exercitado
a espera devida
Sem ter vivido qualquer tipo de emoção aventureira, buscou
a água
Buscou sua água
Que é terreno seguro pra uns
E arenoso pra outros
Homem-pássaro (ato 1)
Por um momento foi-se a inspiração, ficou a transpiração
Passarinho
foi pra longe
Ar rarefeito,
feito o ar... vôo feito, ar refeito
Se esvaziou de excesso
Encheu-se
de escassez
Voou,
distanciou, observou
Sonha-se
mais voando, sem os pés no chão
De longe
pode enxergar melhor as coisas
Mas também
não sente, nem participa
Viagem
feita, de volta a terra
Que é terreno seguro pra uns
E
arenoso pra outros
terça-feira, 13 de agosto de 2013
O sapo inquieto e a formiga paciente ou "a vida em três atos"
O sapo que vivia pulando de um lado para o
outro passou o outono completamente confuso com sua inquietude instintiva, vislumbrando
um dia aquietar-se, projetando saltos cada vez menos amplos e mais precisos.
Sua inquietude era tanta que não pensava no amanhã. Achava que poderia viver
para se superar cada vez que desse um salto mais alto do que o outro. Seu
concorrente era ele mesmo, competia com seu ego e com seu desejo volúvel.
Ele caçoava da pequena e trabalhadeira
formiga que não tinha o mesmo alcance e agilidade quando se deslocava. Sabendo
que o inverno estava por vir e pensando em longo prazo, passou o outono
pacientemente estocando restos de comida para sua comunidade e ouvindo gozações
do sapo fanfarrão. A inquietude fatalmente o levaria a solidão e a arrogância. A
vida em comunidade e o aprendizado da lentidão criaram perspectivas, problemas,
soluções e planejamentos. A formiga paciente sempre espera o tempo certo das coisas, não exige nada imediatamente de forma pragmática.
Na espreita, a carismática coruja, que observara a formiga e o sapo atentamente, se remeteu por analogia as lembranças da metamorfose da lagarta
que vira borboleta. Mas em seguida, lembrou também que existem centauros, minotauros e faunos.
domingo, 4 de agosto de 2013
Canhotos
Não é nada fácil viver num mundo
em que as coisas são sempre pensadas e construídas para os destros. Há uma
ditadura dos destros. Por isso os canhotos vivem permanentemente se adaptando.
São definitivamente pessoas adaptáveis e com certa tendência para a
transgressão. Acostumam-se a criar uma capacidade adaptativa-forçada que de
tanto se repetir se naturaliza. Cria-se um hábito e posteriormente um traço de
personalidade. Na verdade ainda mais alem. Adaptação vira parte da identidade.
A dificuldade em manusear uma ferramenta ou instrumento qualquer no dia-a-dia
voltados para destros faz do canhoto um especialista em driblar adversidades
corriqueiras.
As dificuldades são das mais
variadas: tesoura, abridor de lata, mouse, carteira de escola ou universidade,
marcha do carro, relógio que colocamos no braço direito, mas o pino pra mudar a
hora permanece como se fosse pra um destro, que usa o relógio no braço esquerdo
e configura o relógio com a mão direita tranquilamente. E pra tocar bateria? Só
tem pra canhoto ou pra destro. Mas e quem for canhoto de mão e destro de pé
(meu caso), faz como? Durante a refeição, não gostamos que pessoas sentem do
nosso lado esquerdo, a mão do garfo. Socialmente temos que cumprimentar as
pessoas apenas com a mão direita. Se for com a esquerda, você é tido como...
A profissão que exerce a justiça
é o Direito. Não é o esquerdo. Direito em inglês é “right”, que também
significa “certo”. Então, o esquerdo seria o errado? Quando queremos que alguém
faça algo de forma correta, dizemos: “faça a coisa direito, aqui fazemos tudo
direitinho”. Quando alguém está sentado esparramadamente na cadeira, falamos:
“menino, tome jeito, se endireite!”. Na Itália direito = destro e esquerdo =
sinistro. Sinistro hein? Começar algo com sorte é começar com “o pé direito”.
Nenhum jogador entra em campo com o pé esquerdo. Esquerdo é associado ao azar.
Não é a toa que o dia do canhoto é 13 de agosto.
Politicamente o lado esquerdo está
relacionado ao revolucionário, anarquista, contestador, subversivo e outros
termos pejorativos. O direito seria o conservador. Não questiona a hegemonia do
sistema nem ameaça a ordem estabelecida, portanto trabalha na preservação do
metabolismo social. Assim não cria incômodos e desconfortos, logo está longe de
ser visado, rotulado ou execrado.
Na Idade média, durante o período
da inquisição, canhotos eram considerados hereges, e tratados como bruxos e
feiticeiros. Perseguidos pelo estado e por algumas instituições foram ateados à
fogueira em praça publica.
A nossa escrita alfabética é da
esquerda pra direita. Canhotos tem que fazer malabarismos caligráficos pra não
borrar o que acabaram de escrever. Iniciar um parágrafo no começo da pagina de
um caderno é um problema muito dificultoso. Coisa que os destros deliciosamente
não vivenciam. Não é só a aspiral do encadernamento o problema. Se a escrita
fosse da direta pra esquerda, canhotos não teriam essa dificuldade.
Canhotos usam mais o lado direito do cérebro. Neurologicamente
esse lado direito está conectado com o número
maior de nervos que recebem o tipo de informação sensitiva, de visão mais
aguda, pele mais sensível, os músculos respondem mais prontamente. O lado
direito é o lado da criatividade.
Por uma vida mais valorizada e reconhecida aos sensíveis,
adaptáveis e criativos canhotos.
Leonardo da Vinci, Beethoven, Nietzsche, Charles Chaplin, Pablo
Picasso, Michelangelo, Paul McCartney, Jimmy Hendrix, Ayrton Senna, Isaac
Newton, Machado de Assis, Pelé (canhoto de mão), Fidel castro, Albert Einstein,
Adolf Hitler, Mahatma Gandhi, Bob Dylan, Barack Obama.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Dias de Inverno
O tempo parece passar mais lentamente
Noites longas e madrugadas produtivas
Reflexões, orações
Músicas e meditações
Chocolate quente, cappuccinos
Inspirações...bandidas inspirações
Necessitamos do inverno, sim
Sem ele não haveria a gestação da primavera
E nesse período, os dias
Compridos como seus olhos penetrantes
Arrastam-se procurando incessantemente a estação das flores
Sendo semeada em pleno mês de Agosto, assim como você
Sendo cultivada assim como você
Sendo cativante, você
sábado, 27 de julho de 2013
Página Futuro
Não vale
a pena te perder na memória
Temos
tanto a nos oferecer
E é só
eu e só você
Olhe pra frente
Muitas palavras,
muitas páginas
Algumas delas formarão o nosso livro
Não vamos
nos desperdiçar
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Escrever e Cozinhar
Das relações entre essas duas artes.
O tema e o prato: a escolha de certo
tema para escrever se assemelha muito a escolha de um prato para cozinhar. Em
ambos os casos a motivação geralmente é desconhecida, vem do íntimo, requer
criatividade, algumas invenções e pitadas de improvisos. Ao querer fazer um
prato já vamos antecipando mentalmente quais os ingredientes necessários para o
seu preparo. Da mesma forma que, ao despertar para a escrita de um tema, as palavras
vêm na imaginação naturalmente soltas e embaralhadas assim como os ingredientes
do prato mentalizado. Cabe ao perspicaz cozinheiro-escritor arrumar, dosar e
colocar essas palavras no tempo certo.
As palavras e os ingredientes: palavras
adequadas são como bons ingredientes. Temos que escolher cuidadosamente para
atingir o objetivo esperado. Errar a mão seja escolhendo uma palavra
exageradamente impactante (ou sorumbaticamente morta) ou se excedendo na dose
dos temperos e no tempo de cozimento, pode causar “indigestão literária”. Mas há
uma questão para ser evitada: a ansiedade em ver o texto/prato pronto não pode
acelerar sua produção, escolhendo e distribuindo assim palvras/ingredientes
aleatoriamente de modo que venha a atrapalhar esse processo. Esse deslize o
cozinheiro-escritor atento não deve cometer.
A Escrita do texto e o preparo do
prato: aqui está a parte mais importante, o desenvolvimento. Assim como, quando cozinhamos na panela
intercalamos fogo alto com fogo baixo, o transcorrer de um texto oscila também na
sua intensidade. O objetivo é o mesmo: deixar as palavras/comida pegar mais
gosto, pegando o tempero, ganhando corpo, tomando forma. Preparando o leitor
para a mensagem central, para o prato principal, para o sentimento que o
texto/prato irá provocar. Tudo para transformar o sabor-literário em algo
mágico. A condução das palavras e a arrumação do texto é como fazer um baile
com as palavras temperadas. Como quem rege uma orquestra: cada músico com seu
instrumento que produz um som particular; cada ingrediente que produz um sabor,
cada palavra que tem seu significado. Cozinhar e escrever tem relação com
tempo, claro. O ritmo. Com a cadência do fogo alto-fogo baixo e também a cadência
das palavras. Saber cadenciar o tempo do preparo, pra comida ficar no ponto.
Escrever é dar cadência as palavras, é cozinhar em banho-maria, é orquestrar
com maestria significados e sabores.
Tentei cozinhar o texto...
escrever o prato. Agora é só se deliciar.
Bom apetite, leitores...boa leitura, degustadores!
segunda-feira, 22 de julho de 2013
A Noite
"Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas.
Dispa-me, dispa-me".
Eduardo Galeano, Livro dos abraços, p. 92.
Dispa-me, dispa-me".
Eduardo Galeano, Livro dos abraços, p. 92.
A Ventania
"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido
Dono de nada, dono de ninguém,
Nem mesmo dono de minhas certezas
Sou minha cara contra o vento, a contravento
E sou o vento que bate em minha cara"
Eduardo Galeano, "O Livro dos Abraços", p. 270.
Dono de nada, dono de ninguém,
Nem mesmo dono de minhas certezas
Sou minha cara contra o vento, a contravento
E sou o vento que bate em minha cara"
Eduardo Galeano, "O Livro dos Abraços", p. 270.
Sobre as caxirolas e torcedores neandertais
Inventaram a escova de dente para
limpar os dentes, os cotonetes para limpar o ouvido e os talheres para usar com
comidas. Isso não significa que não possamos limpar os dentes com cotonetes,
usar uma faca para apertar um parafuso e uma escova de dente para limpar um
fogão. Fazer uma cadeira de mesa ou uma mesa de cadeira. As coisas quando
inventadas têm objetivos específicos, porém o homem atribui significado que lhe
for útil e necessário devido à circunstância.
A caxirola é um instrumento
musical. Se os neandertais (que nesse episódio foram alguns torcedores do Bahia,
mas que podia ser do Vitória ou de qualquer outro time) que a atiraram no campo
a fazem de “arma”, “instrumento de protesto” ou objeto para escancarar o seu
provincianismo e falta de educação é uma opção deles, ok. Mas não se deve
culpar o inventor e seu empreendedorismo, para assim consequentemente amenizar
esse gesto paleolítico em pleno século XXI.
Não acho que a caxirola seja uma
cópia do caxixi. Ele criou algo derivado do caxixi e nao fez questão de
esconder isso, tanto que manteve o derivado do nome, e grande parte da estética
do caxixi original. Não temos costume de levar caxixis pro estádio, tudo bem,
mas lembremos que os caxixis são usados, junto com o berimbau (que também não levamos pro estádio), para produzir o som da capoeira que é uma legitima e consagrada manifestação
cultural. Ele deu o tom comercial ao caxixi,sim, óbvio, que pouca gente da
população conhece (mas que devia conhecer pela sua ancestralidade africana!) e por
conta disso não tem acesso, faz-se ignorante.
Essas pessoas que atiraram as caxirolas no
campo do estádio são as mesmas que atiram sapatos, rádios, relógio, copos,
moedas, latas ou o que tiverem em mãos no momento da fúria, instinto puro. Não
adianta trabalhar em cima da proibição, punindo o instrumento se o sentimento
nocivo do individuo vai continuar gerando comportamentos Neandertais. O problema
está no sujeito. O homem precisa evoluir. E precisa reconhecer que precisa
evoluir.
A caxirola está proibida. É tida
como uma arma. Um instrumento musical é tido como uma arma(?!). Uma pena. É a
vitória do controle sobre a criativade, da falta de educação sobre a cidadania,
do senso comum sobre a genialidade, da ignorância burocrática sobre a lucidez-lúdica.
Lembrando que repiques,
bacurinhas, surdos, timbaus e bumbos são usados no estádio, mas apenas por
parte da torcida...10, 15, 20 integrantes. Com a caxirola cada torcedor poderia
produzir seu som, todos podiam participar entrando no ritmo produzido pela
coletividade,inclusive quem não sabe tocar, iria no embalo e entraria no ritmo.
Essa sensação tem nome, isso é plenitude. Imaginem 40, 50 mil caxirolas
interagindo musicalmente? Infelizmente não entenderam dessa forma e preferiram
coibir. Qualquer possibilidade de ameaça a ordem estabelecida ou de reconhecimento da crua natureza humana, por mais que isso venha a mostrar aquilo que de fato somos mesmo sem ter o discernimento de admitir, é rapidamente dissimulada, remediada e revertida moralmente para que se aparente a tradicional normalidade.
Carlinhos Brown está além do seu
tempo. É um visionário. Eu compreendo que deva ser difícil para o Homem-Neandertal,
captar suas ideias e sentimentos. E assim vamos caminhando, assim caminha a
humanidade... “com passos de formiga e sem vontade”.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Meses e estações
Fevereiro se foi, acabou o carnaval
O mês se encerra em 28
Março e suas águas fecharam o verão
E cessou outras coisas
Coisas que não vinham indo bem
Abril chegou
Trouxe o outono maroto
Abrem-se novas possibilidades
Abriu, chegou, criou, imaginou
Maio, Junho e Julho mandaram respostas
Um inverno descarado desembarcou na cidade
Agosto vem aí
Meu gosto, seu gosto, gosto
Ah Agosto... ah, gosto
Pra quê ser um mês tão longo?
Tenho pressa que esse inverno ambíguo passe logo
Podia encurtar teus dias e terminar como Fevereiro...
Fevereiro em ano bissexto
Serás bem vindo, Agosto
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Em algum lugar achado de 2008
Não fosse alguém com nome de flor, talvez jamais tivesse lhe encontrado.
Essa flor que hoje está distante de nós em outra terra, tem uma historia na mitologia.
Ela é a filha de Taumante e de Electra. Taumante era filho do Mar e da Terra e Electra era uma das oceânides, as filhas de Oceano e Tetis. Mensageira que é, parece, portanto designada para unir terra e água.
Desde então, passei a acompanhar suas andanças, suas viagens pra bem longe, Terra
Seus pensamentos, sua poesia de vida, sua vida poética
Seu encanto de vida, sua vida cantante
Sempre de longe, mas de perto
Criando pretextos bobos de aproximação
Admirado pela sua vocação para a arte
Esperançoso de que um dia pudéssemos convergir no mesmo período de disponibilidade para que pudesse tomar parte
De tudo aquilo que já imaginei ser possível antes mesmo do acontecido
Então eis que a distância geográfica deixa de existir e acaba o embaraço
Uma proximidade alfabética nos coloca literalmente no mesmo espaço
Mera coincidência?
Coisas do destino?
A Flor pode responder!
Não a nossa amiga em comum
Nem aquela que você exercitou suas cordas vocais pelos bailes da cidade com suas simpáticas amigas musicais
Falo de uma flor que rime com amor
Flor de terra...terra molhada
Regada à água
Flor forte
Flor frágil
Fecundando felicidade
Flor com “F” maiúsculo
Que um dia possa chamar de minha...minha flor
E assim, dizer: "Vem minha flor, vamos cuidar do nosso jardim"
sábado, 6 de julho de 2013
Você sabia?
Que foi lançado mês passado nos Estados Unidos o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e com ele novas e modernas patologias?
Que é no DSM que a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a
CID (Classificação Internacional de Doenças) se baseiam para classificar os
transtornos psiquiátricos?
Que a compulsão alimentar, agora passa a ser um transtorno
mental definindo a pessoa que apresente episódios de alimentação compulsiva ao
menos uma vez por semana e durante três meses como portadora do distúrbio?
Que a desordem disfórica
pré-menstrual, a forma mais grave de tensão pré-menstrual, que produz
irritabilidade, humor instável, ansiedade e problemas de sono durante a última
fase do ciclo menstrual, agora está caracterizada como um transtorno mental?
Que o luto por perda de ente querido passa a ser um sintoma
da depressão?
Que a necessidade sexual
excessiva por pelo menos seis meses; uso frequente do sexo em resposta ao
estresse ou ao tédio, sem levar em conta danos físicos ou emocionais,
caracteriza o sujeito como portador de transtorno hipersexual?
Então se sofremos por causas
naturais que a vida e sua sociabilidade complexa nos oferece com toda sua magia
e condição de aprendizado, somos doentes. Se buscarmos alternativas pra fugir
destes sofrimentos em eventos prazerosos que julgamos nos proporcionar mais
qualidade de vida, também poderemos ser enquadrados em casos patológicos.
Então, antes que definam meu diagnóstico como portador de TOD - transtorno
opositivo-desafiador (caracterizado por um padrão global de desobediência,
desafio e comportamento hostil/resistência à figuras de autoridade), resta a
pergunta: o que é ser saudável?
O passe-livre e a caverna do dragão
Completamos duas semanas de
manifestações pelo Brasil. Engana-se quem pensa que a causa de todo esse
movimento coletivo nacional não seja por conta do passe livre. É pelo
passe-livre, sim! Queremos e exigimos passe livre para passar dessa para uma
outra dimensão. Que espécie de dimensão? Outro plano astral que gravite em
outros valores morais e ofereça uma nova condição de sociabilidade para se
viver. Exatamente como no desenho caverna do dragão que fez parte da infância
de muita gente, onde as personagens estão presas num mundo hostil, inóspito,
ambientalmente inviável, cheio de inimigos, armadilhas e ciladas. Longe de casa
e de suas referências, não reconhecem sua identidade e o que podem alcançar
potencialmente ali. Vivem dia após dia. Convivem com seus poderes, suas
diferenças, suas trapalhadas, enfrentando outras espécies pitorescas e
agressivas que ameaçam suas vidas. Seu guru, o pacato e inofensivo mestre dos
magos, de fala mansa, serenidade inabalável e caráter aparentemente
inquestionável, dá dicas através de charadas para seus discípulos acharem o
portal de volta. Mas não se sabe realmente quais suas reais intenções. Desde
criança ouço que ele deseja boicotar o retorno da turma para sua casa. Ele
seria o sabotador responsável pela manutenção da trama tal como ela é. (Estaria
mestre dos magos para a caverna do dragão assim como Lula está para o Brasil?).
Pois bem! E o que é que tem a ver caverna do
dragão com o movimento passe-livre e a onda de protestos por qual passa o
Brasil? Acontece que o alcance de uma nova ordem moral que a sociedade está
propondo, com toda complexidade que a vida moderna exige para se rearranjar em
termos políticos, administrativos e jurídicos, passa diretamente pela transição
do mundo da utopia para o mundo das possibilidades. E para fazer essa
transição, só através da “mudança de dimensão”. Só se muda de dimensão encontrando
o portal e passe(ando) por ele. E
essa transição passa primordialmente pelo passe-livre. Por isso ele é o
estopim, o resto vem depois. É o passe-livre que vai dar (já está dando) a
liberdade de emancipação e expressão para o início do processo de abertura do
portal. Para a nossa migração do lugar-utópico-possível que estar por vir. Que
ainda não tem nome, definição, nem idealização ou planejamento. Que nem sequer
está pronto. Mas nem precisa, pois para estar, basta o desejo de mudança. De
que seja diferente disso que está aí. Esse modelo nós não queremos mais. Não
queremos “mestre-dos-magos” da vida real ditando caminhos e rotas com ar de
superioridade e objetivos egoístas-eleitoreiros que ele pense ser o melhor pra
nós. Quem sabe o que é melhor pra nós, somos nós mesmos! E o melhor pra nós
(bem como para as personagens do desenho) é buscar o caminho de volta pra casa.
Devolver ao país sua casa pós-faxina. Casa essa que foi um dia sequestrada por
colonizadores, extorquida por saqueadores, e deixada como herança maldita o
ranço da corrupção e da conveniência. Dessa casa todos nós somos diaristas.
Vamos ver do que essa faxina será capaz.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Imperatriz
Não,
não rasgue o vestido de ceda
Não
perambule mendiga pelos bosques sem estar acompanhada
É
outono, é verdade
Mas
a cidade não é tão cinza quanto parece
Olhe
à sua volta
Há
outros olhos fazendo de ti imperatriz
Sobe
ao palco, percebe o enredo, ocupa teu lugar
Não
há o que temer
Deixa
que a água levite teus pés fincados de terra
Impera-atriz!
Dia Histórico
Ta cansado de engarrafamento? Então vamos desengarrafar!
Preço? R$0,20
Nunca houve momento tão propício
para protestar contra as crescentes
imundices morais da política, ingerência estatal, falta de respeito com
o cidadão baiano/brasileiro como agora. Vivemos em constantes engarrafamentos,
sisudos, entristecidos e acostumados ao caos. Este pode se tornar um hábito
prejudicial. O hábito ao sofrimento leva à banalização do que está ruim. Naturalizar
o que é caótico como sendo pertencente a cultural local, minando possibilidades
de mudanças efetivas.
Acho que de tantos
engarrafamentos que vivemos, eles nos deixaram um pouco “engarrafados”. Sim,
quem vive engarrafamentos diários, fica/vive/está engarrafado. Engarrafado
dentro de si mesmo, solitário, desiludido, impotente, paralisado numa zona de
“conforto” e principalmente sem perceber possibilidades de exercer sua
cidadania e se engajar socialmente com a vida urbana de sua localidade ou
cidade. Graças aos engarrafamentos, podemos nos desengarrafar, que bom!
A boa notícia é que nunca foi tão
barato para se “desengarrafar”. Viver desengarrafado é qualidade de vida! E não
custa a anuidade do plano de saúde, nem o preço da farra com os amigos regada a
música, vinho e queijos, (mas que poderia ser com cerveja, piscina e churrasco
ou água de côco, acarajé e um sambinha). Também não custa o preço da sessão de psicoterapia,
do RPG, do pilates, nem o preço das suaves prestações que pagamos para viajar
pelo Brasil e desfrutar de lugarejos agradáveis, inóspitos e aconchegantes.
Vou detalhar como cada centavo
desse seu protesto sob forma de desengarrafamento vai valer a pena, e ele tem
um cunho além de legítimo, bastante terapêutico:
R$0,01- 115 dias de
greve (dias letivos!) dos professores da rede estadual em 2012.
R$,002 - Feliciano
presidente da comissão de direitos humanos.
R$ 0,03 – 12 dias de greve dos policiais da Bahia em 2012, o
que demonstra a falta de habilidade política dos governantes em lidar com a
situação.
R$ 0,04 – Corrupção deslavada, desmedida e descarada,
arbitrariamente.
R$ 0,05 – 8 anos de ociosidade política na gestão da cidade.
R$ 0,06 – Cadê o metrô?
R$ 0,07 – Incompetência frequente na gestão do sistema que
opera o ferry-boat.
R$ 0,08 - Rede Globo
mascarando fatos e peneirando notícias das manifestações de acordo com sua
conveniência.
R$ 0,09 - Jornalistas
esportivos fazendo juízo de valor negativo em relação as manifestações. (exceção
da ESPN Brasil).
R$ 0,10 - Por uma
população baiana mais crítica, engajada e politizada.
R$ 0,11 – Segurança Pública (Salvador foi a quinta cidade
mais violenta do Brasil e décima quarta
do mundo em 2012).
R$ 0,12 – Por mais respeito, direito e dignidade para com as
minorias excluídas (negros, homossexuais, índios, deficientes)
R$ 0,13 - Indícios de barbárie, sensação de desmantelo e de
não possibilidade de retorno em direção ao colapso. (fiz questão de colocar
esse no 13)
R$ 0,14 - Por pessoas com mais educação, gentileza, diálogo
e flexibilidade.
R$ 0,15 - Caretices burocráticas e autoritárias da Fifa em
um estado dito democrático
R$ 0,16 - Wi-fi liberadas e democratização da informação.
R$ 0,17 - Menos demagogia, mais engajamento (tanto da
sociedade política quanto da sociedade civil).
R$ 0,18 – Mais arte, cultura e entretenimento. Menos
singular e mais plural; menos cri-cri e mais confraternização; menos estética e
mais plenitude.
R$ 0,19 – Manter a chama acesa e deixar um legado para as
próximas gerações. Também temos nossas implicações em tudo que está aí.
R$ 0,20 – Faça esse bem a si mesmo, você merece! Esbravejar
todo seu descontentamento com a vida contemporânea. Extravase. Isso vai fazer
com que melhore seu estado de espírito e perceba a força do coletivo. Cada um
de vocês me representam.
Como diz Marina Colasanti no seu texto “eu sei que a gente
se acostuma. Mas não devia”:
“A gente
se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto
acostumar, se perde de si mesma.”
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Sedução secreta
Sujeitos sensíveis
Serenos sem serem sorumbáticos
Sempre solícitos, socializam sabedoria
Sepultam soberania social
Soletram sociabilidades, sem sabatinas
Sutil sensibilidade...seriam saltimbancos?
Sutileza sem sofisticar, simplicidade sem soberbaSuprema sintonia!
Sossegados-subversivos
Sussurram serenata simbólica
Sou sortudo, somos sortudos
Salivamos... saborearmos sinais, signos ...sorrateiramente
Sede saliente...sedução secreta
Silenciosa sedimentação
Suplicando sacanagens sensitivas
Saneando safadas secreções
Suturando sentimetos submissos sacrificados
Semeando sonhos
Sublime sensação
Surpreendente sarau
Santa sinfonia, sagaz sincronia
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