segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sobre as caxirolas e torcedores neandertais



Inventaram a escova de dente para limpar os dentes, os cotonetes para limpar o ouvido e os talheres para usar com comidas. Isso não significa que não possamos limpar os dentes com cotonetes, usar uma faca para apertar um parafuso e uma escova de dente para limpar um fogão. Fazer uma cadeira de mesa ou uma mesa de cadeira. As coisas quando inventadas têm objetivos específicos, porém o homem atribui significado que lhe for útil e necessário devido à circunstância.

A caxirola é um instrumento musical. Se os neandertais (que nesse episódio foram alguns torcedores do Bahia, mas que podia ser do Vitória ou de qualquer outro time) que a atiraram no campo a fazem de “arma”, “instrumento de protesto” ou objeto para escancarar o seu provincianismo e falta de educação é uma opção deles, ok. Mas não se deve culpar o inventor e seu empreendedorismo, para assim consequentemente amenizar esse gesto paleolítico em pleno século XXI.

Não acho que a caxirola seja uma cópia do caxixi. Ele criou algo derivado do caxixi e nao fez questão de esconder isso, tanto que manteve o derivado do nome, e grande parte da estética do caxixi original. Não temos costume de levar caxixis pro estádio, tudo bem, mas lembremos que os caxixis são usados, junto com o berimbau (que também  não levamos pro estádio),  para produzir o som da capoeira  que é uma legitima e consagrada manifestação cultural. Ele deu o tom comercial ao caxixi,sim, óbvio, que pouca gente da população conhece (mas que devia conhecer pela sua ancestralidade africana!) e por conta disso não tem acesso, faz-se ignorante.

 Essas pessoas que atiraram as caxirolas no campo do estádio são as mesmas que atiram sapatos, rádios, relógio, copos, moedas, latas ou o que tiverem em mãos no momento da fúria, instinto puro. Não adianta trabalhar em cima da proibição, punindo o instrumento se o sentimento nocivo do individuo vai continuar gerando comportamentos Neandertais. O problema está no sujeito. O homem precisa evoluir. E precisa reconhecer que precisa evoluir.

A caxirola está proibida. É tida como uma arma. Um instrumento musical é tido como uma arma(?!). Uma pena. É a vitória do controle sobre a criativade, da falta de educação sobre a cidadania, do senso comum sobre a genialidade, da ignorância burocrática sobre a lucidez-lúdica.

Lembrando que repiques, bacurinhas, surdos, timbaus e bumbos são usados no estádio, mas apenas por parte da torcida...10, 15, 20 integrantes. Com a caxirola cada torcedor poderia produzir seu som, todos podiam participar entrando no ritmo produzido pela coletividade,inclusive quem não sabe tocar, iria no embalo e entraria no ritmo. Essa sensação tem nome, isso é plenitude. Imaginem 40, 50 mil caxirolas interagindo musicalmente? Infelizmente não entenderam dessa forma e preferiram coibir. Qualquer possibilidade de ameaça a ordem estabelecida ou de reconhecimento da crua natureza humana, por mais que isso venha a mostrar aquilo que de fato somos mesmo sem ter o discernimento de admitir, é rapidamente dissimulada, remediada e revertida moralmente para que se aparente a tradicional normalidade.


Carlinhos Brown está além do seu tempo. É um visionário. Eu compreendo que deva ser difícil para o Homem-Neandertal, captar suas ideias e sentimentos. E assim vamos caminhando, assim caminha a humanidade... “com passos de formiga e sem vontade”.

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