João vai na Ricardo Eletro comprar um fogão novo para sua casa. Divide em 5X. Maria vai passar 10 meses pagando o camarote do reino que dividiu no cartão para brincar o carnaval e sua irmã, Adriana, ainda está pagando o Salvador Fest que dividiu também em 10 vezes. Pedro comprou um tablet e também parcelou sua compra: oito “suaves prestações”.
Crédito é comprar quando não se tem o dinheiro suficiente para pagar o produto no ato da compra. A dívida é postergada. A pessoa consome aquilo que não cabe em seu orçamento. Logo, é um falseamento de sua realidade financeira (e subjetiva também, vocês vão entender a razão mais adiante), mas isso faz parte do jogo dinâmico da economia, ok.
João (o do fogão) convida Pedro (o do tablet) e as irmãs festeiras Adriana e Maria para um jantar em sua casa e estrear o fogão com os amigos em um jantar bacana e animado que não tem nada de jantar gourmet. Pedro muito ocupado e empolgado com o tablet não se animou muito e não compareceu ao evento. Ficou em dívida com João. Adriana e Maria não puderam ir, pois estavam no show de Tayrone Cigano na The Best Beach.
Pedro, Adriana e Maria fazem uso do “crédito” social quem têm com João para adiar o encontro. Vão protelando até que se chegue a ”última prestação” (o limite simbólico de quando não puderem adiar mais) e aí “quitarão” a dívida comparecendo, interagindo, socializando-se em qualquer outro dia de qualquer outra oportunidade quando esta surgirá.
Postergamos a quitação de um produto porque dentro de alguns meses acreditamos que o dinheiro surgirá para quitar a dívida. Postergarmos a “quitação” de uma ausência nas relações/encontros (dívida afetiva/moral) com as pessoas porque acreditamos que o vínculo (e é ele que permite o crédito) se manterá para sempre e assim vamos parcelando as relações em prestações. Administrando os afetos e as sociabilidades de acordo também com nosso tempo disponível (ou seria de acordo com nossas prioridades?). Todos fazemos isso, não há problema, mas o que deveria ser exceção já virou regra. A dinâmica da vida econômica a crédito nos torna reféns de relações sociais fragmentadas. Sem nunca “quitar no ato da compra”, aprendemos que qualquer falta poderá ser sanada e bem resolvida no futuro. Fato que nos torna habituados a procrastinação.
Qual foi a ultima vez que você “comprou algo significativo e caro no débito”? Tecla Sap – Quando foi a ultima vez que você se proporcionou estar numa relação sem que essa fosse “parcelada”, sem a cultura do adiamento, de modo que ela pudesse se tornar genuína e inteira?
Pessoas não são produtos. Vínculo não é dinheiro.
Psicólogo, Percussionista, Pisciano e adorador de cinema, teatro, música, fotografia e do mar. Gosto de brincar com as palavras.Uso este blog para dar vazão às muitas inquietações que tenho em relação a vida cotidiana seja em tom crítico ou poético. Serve, sobretudo,para expressar um lado mais lúdico e artístico com a palavras e estimular a reflexão.
sexta-feira, 20 de março de 2015
Mar aberto
Hoje navega-se calmamente
Se um fala, o outro sente
Se um olha, o outro entende
Agindo pacientemente
Se eu sou mar
você é continente
Se um fala, o outro sente
Se um olha, o outro entende
Agindo pacientemente
Se eu sou mar
você é continente
terça-feira, 10 de março de 2015
Solidão
A solidão é para os corajosos
Não para os fracos.
Não é um fardo é uma dádiva,
quase um talento dado
assumir a solidão como amante
é reconhecer-se privilegiado.
Não para os fracos.
Não é um fardo é uma dádiva,
quase um talento dado
assumir a solidão como amante
é reconhecer-se privilegiado.
terça-feira, 3 de março de 2015
Merecimento
Agradecer sonhando
Sonhar escrevendo
Escrever contando
Contar imaginando
Imaginar temendo
Temer acreditando
Acreditar esperando
Esperar insistindo
Insistir merecendo
Merecer divagando
Divagar caminhando
Caminhar devagar
Sonhar escrevendo
Escrever contando
Contar imaginando
Imaginar temendo
Temer acreditando
Acreditar esperando
Esperar insistindo
Insistir merecendo
Merecer divagando
Divagar caminhando
Caminhar devagar
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