Ta cansado de engarrafamento? Então vamos desengarrafar!
Preço? R$0,20
Nunca houve momento tão propício
para protestar contra as crescentes
imundices morais da política, ingerência estatal, falta de respeito com
o cidadão baiano/brasileiro como agora. Vivemos em constantes engarrafamentos,
sisudos, entristecidos e acostumados ao caos. Este pode se tornar um hábito
prejudicial. O hábito ao sofrimento leva à banalização do que está ruim. Naturalizar
o que é caótico como sendo pertencente a cultural local, minando possibilidades
de mudanças efetivas.
Acho que de tantos
engarrafamentos que vivemos, eles nos deixaram um pouco “engarrafados”. Sim,
quem vive engarrafamentos diários, fica/vive/está engarrafado. Engarrafado
dentro de si mesmo, solitário, desiludido, impotente, paralisado numa zona de
“conforto” e principalmente sem perceber possibilidades de exercer sua
cidadania e se engajar socialmente com a vida urbana de sua localidade ou
cidade. Graças aos engarrafamentos, podemos nos desengarrafar, que bom!
A boa notícia é que nunca foi tão
barato para se “desengarrafar”. Viver desengarrafado é qualidade de vida! E não
custa a anuidade do plano de saúde, nem o preço da farra com os amigos regada a
música, vinho e queijos, (mas que poderia ser com cerveja, piscina e churrasco
ou água de côco, acarajé e um sambinha). Também não custa o preço da sessão de psicoterapia,
do RPG, do pilates, nem o preço das suaves prestações que pagamos para viajar
pelo Brasil e desfrutar de lugarejos agradáveis, inóspitos e aconchegantes.
Vou detalhar como cada centavo
desse seu protesto sob forma de desengarrafamento vai valer a pena, e ele tem
um cunho além de legítimo, bastante terapêutico:
R$0,01- 115 dias de
greve (dias letivos!) dos professores da rede estadual em 2012.
R$,002 - Feliciano
presidente da comissão de direitos humanos.
R$ 0,03 – 12 dias de greve dos policiais da Bahia em 2012, o
que demonstra a falta de habilidade política dos governantes em lidar com a
situação.
R$ 0,04 – Corrupção deslavada, desmedida e descarada,
arbitrariamente.
R$ 0,05 – 8 anos de ociosidade política na gestão da cidade.
R$ 0,06 – Cadê o metrô?
R$ 0,07 – Incompetência frequente na gestão do sistema que
opera o ferry-boat.
R$ 0,08 - Rede Globo
mascarando fatos e peneirando notícias das manifestações de acordo com sua
conveniência.
R$ 0,09 - Jornalistas
esportivos fazendo juízo de valor negativo em relação as manifestações. (exceção
da ESPN Brasil).
R$ 0,10 - Por uma
população baiana mais crítica, engajada e politizada.
R$ 0,11 – Segurança Pública (Salvador foi a quinta cidade
mais violenta do Brasil e décima quarta
do mundo em 2012).
R$ 0,12 – Por mais respeito, direito e dignidade para com as
minorias excluídas (negros, homossexuais, índios, deficientes)
R$ 0,13 - Indícios de barbárie, sensação de desmantelo e de
não possibilidade de retorno em direção ao colapso. (fiz questão de colocar
esse no 13)
R$ 0,14 - Por pessoas com mais educação, gentileza, diálogo
e flexibilidade.
R$ 0,15 - Caretices burocráticas e autoritárias da Fifa em
um estado dito democrático
R$ 0,16 - Wi-fi liberadas e democratização da informação.
R$ 0,17 - Menos demagogia, mais engajamento (tanto da
sociedade política quanto da sociedade civil).
R$ 0,18 – Mais arte, cultura e entretenimento. Menos
singular e mais plural; menos cri-cri e mais confraternização; menos estética e
mais plenitude.
R$ 0,19 – Manter a chama acesa e deixar um legado para as
próximas gerações. Também temos nossas implicações em tudo que está aí.
R$ 0,20 – Faça esse bem a si mesmo, você merece! Esbravejar
todo seu descontentamento com a vida contemporânea. Extravase. Isso vai fazer
com que melhore seu estado de espírito e perceba a força do coletivo. Cada um
de vocês me representam.
Como diz Marina Colasanti no seu texto “eu sei que a gente
se acostuma. Mas não devia”:
“A gente
se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto
acostumar, se perde de si mesma.”