sexta-feira, 25 de março de 2011

TRAGÉDIAS



Vítimas do Japão
Sem água, sem pão
Triste tragédia
Comove o mundo, quanta solidariedade (que comédia)
Exclusão escancarada no dia-a-dia
Pouco se faz, quem se beneficia?

Desfavorecidos, excluídos, encurralados
Miseráveis,oprimidos, esfomeados
Ignorantes ou ignorados?
Não sofreram grande tragédia, pobres coitados
Receber doações, mobilização coletiva, ser ajudado?
Só com tsunamis, terremotos, atentados

Pobreza banalizada, miséria naturalizada
Macro-tragédia espetacularizada, notícia enlatada
Indústria da comunicação insiste em universalizar
Uma visão de mundo que nem todos são obrigados a endossar

Mídia dissimulada, manipula informação, fabrica a notícia
Jornal “Massa”, vincula o pobre à violência, à marginalidade, à caso de polícia

Criança esperança, ONGs, instituições de caridade
Não rompem com a lógica, pelo contrário, mantém a desigualdade

O mundo sangra, alguns choram
Cresce a indiferença, poucos se importam
Natureza acuada,
Pobreza estampada
Riqueza monopolizada

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pessoas de bem precisam se posicionar

As constantes guerras civis na África, a truculência religiosa no islã, a tensão geopolítica no oriente médio, e o desenvolvimento da economia nos países emergentes de 3º mundo (em especial China, Brasil e Índia) indica que estamos passando por um processo de transição, de mudança, de progresso em busca da evolução dos valores da humanidade e do espírito, de um início de tentativa de visão macro e histórica das diferenças e, também, de condições de igualdade econômicas e sociais.

Vivemos tempos difíceis e incertos, é o preço da transição. De dúvidas existenciais, de desconfianças generalizadas, catástrofes ambientais freqüentes, insegurança urbana, ao mesmo tempo em que a ciência e a mídia pretendem estabelecer certezas consensuais e divulgar verdades absolutas.

Ser correto e digno hoje em dia é ser exceção, ganha destaque, prestígio e até admiração dos outros aquele que se posiciona de maneira ética, coerente e autônoma diante de qualquer enfrentamento nebuloso, ideológico, comercial ou numa ocasião injusta que envolva pessoas. Quando se é cortês, você é estranhando pelos outros, é um comportamento em extinção. Chegamos a tal ponto que um singelo ato de gentileza gera no outro uma desconfiança. Ser solidário e altruísta então, pior ainda! Paranóia?

Ícones como Nelson Mandela (1918), fruto da história, e Capitão Nascimento (Tropa de Elite), fruto da ficção, ganharam e ainda ganham destaque e repercussão pelas suas condutas e posicionamentos firmes nas circunstâncias de enfrentamento. A dimensão que toma esses sujeitos demonstra, pelo curso da história, a carência da humanidade em modelos de vida e referências de pessoas que tragam alguma perspectiva inovadora ou modelos de dignidade a serem seguidos (hiato deixado por duas guerras mundiais, queda do muro de Berlim, e pela “morte” das ideologias).

Nelson Mandela teve seus méritos próprios. Combatia fortemente o regime apartheid, ficou preso 28 anos, por alguns deles sob tratamento desumano. E quando todos esperavam uma conduta previsivelmente humana, pois instintiva, (porém, seria também oportunista e leviana), de represália e desforra, ele lidera o governo de seu país demonstrando uma sabedoria política, uma coerência com seus propósitos subjacentes aos seus ideais, uma indiferença quando conveniente ao lidar com a oposição, e um sentimento acolhedor agregando as diferentes raças e etnias. Isso o faz a grande figura humana do século XX. Capitão Nascimento cabe uma análise interessante não só pelo personagem, mas pela repercussão e pela idolatria nacional generalizada. Muitas pessoas o têm como ídolo, a mídia super dimensiona e o coloca na patente de “herói da nação”. Esses fatos demonstram que pessoas e instituições da sociedade civil têm um mínimo de esclarecimento, percebem a fase ambivalente de progresso/regresso que atravessa o espírito humano e principalmente mostra uma noção de discernimento. Eu idolatro aquele que tem a virtude que não tenho, que faz o que sou incapaz de fazer, que esclarece o que pra mim está escuro. A idolatria ao Capitão Nascimento, no Brasil, é assumir nossa condição cultural de passividade e de impotência, é reconhecer a ausência de uma figura emblemática eleita através da história (e por isso coube a ficção fabricar esse personagem) e por fim atestar que temos sim uma percepção, ainda que turva, (associada a um sentimento real de indignação e perplexidade) das falcatruas encadeadas e seqüenciais daqueles que estão nos cargos de comando e exalam o autoritarismo do poder. Assim como das problemáticas sociais que envolvem a dualidade tráfico-marginalidade, exclusão-discrmininação e também das maracutaias que se auto-justificam e são minimizadas por se tratar de um “jeitinho brasileiro”.

E se a arte imita a vida, a rede Globo, cansou de escancarar e também (por que não?) estimular esse traço cultural brasileiro em suas novelas da segunda metade da década de 80: “Cambalacho”, “Vale tudo”, “Sassaricando”, e “Ti ti ti”, tinham como pano de fundo tramóias corriqueiras dos personagens que simulavam o jeitinho brasileiro, a “lei de Gerson”. Inclusive, essas novelas fizeram muito sucesso na época, tamanha representatividade e identificação que tinham com a população noveleira. A cultura brasileira impregnada pelo rótulo do país do samba e do futebol, desenvolve em nós a capacidade de improviso e a condição de adaptação, mas reduz a ética ao contexto singular e a conveniência. No samba impera o molejo e a ginga do sambista e no futebol a malícia, a sagacidade do jogador. Compreensível que sejamos um povo PHD no quesito astúcia e malandragem.

A humanidade precisa de referências históricas, modelos a serem seguidos, coisa que não nos falta. Provamos que sabemos discernir condutas dignas de nefastas. Pergunto: é necessário vestir um uniforme do bope ou ser um líder que enfrenta um regime radical de apartação racial para se posicionar de forma decente, digna e coerente perante uma situação real de enfrentamento? A vida cotidiana não se dá nos campos de futebol nem no sambódromo. As pessoas de bem precisam se posicionar.