quarta-feira, 24 de novembro de 2010

EAD



A EAD (educação à distância) realmente tem um nome bastante apropriado ao que se propõe. De fato, está mesmo distante. Afastada. Bem longe do que se pode oferecer uma educação mediada presencial e socialmente, coerente com princípios pedagógicos éticos e dignos de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Não julgo as pessoas que optam por fazer esse tipo de formação, pois tem suas razões próprias. Preço mais acessível, comodismo e dinamismo pelo fato de não ser presencial, impossibilidades geográficas de deslocamento e falta de tempo. O debate aqui é sobre o método de um ensino virtual, suas implicações para a subjetividade e como sai esse profissional para o mercado de trabalho.

O processo de formação em nível superior, assim como a vida cotidiana e o comportamento da humanidade no mundo capitalista, passa por transformações efêmeras e configurações contraditórias rumo ao colapso social, e por isso requer questionamentos, debates e indagações que vão à velocidade contrária desse ritmo avassalador.

A educação à distância (EAD) é produto de uma sociedade que tem seus meios de produção (econômicos e tecnológicos) crescendo aceleradamente e que promove o estímulo a competição e a individualidade. O crescimento do mercado informal e a origem do conceito de uma cultura organizacional (invenção da sociedade pós-moderna) demandam a criação de diferentes tipos de espaços de formação dos sujeitos e métodos alternativos de aprendizagem. A EAD é um deles.

Possibilita uma amplitude do acesso a conhecimento (diante do método do ensino, cabe a indagação: conhecimento ou informação?), na medida em que através de um sistema virtual de ensino promove que uma quantidade ilimitada de pessoas estejam conectadas em rede tendo oportunidade de “aprender” um conteúdo. Faz com que pessoas da zona rural que não tenham condições de ir ate uma universidade, tenham acesso ao “ensino”, criando uma formação profissional e cultural. É uma perspectiva politicamente democrática, economicamente viável e lucrativa e pedagogicamente desastrosa. Democrática pois amplia-se o alcance da (in)formação e em teoria diminui-se a discrepância educacional entre as classes, construída socio-historicamente. Economicamente viável e lucrativa, pois os empresários disfarçados de educadores, têm um custo fixo de manutenção do sistema da rede, e da mísera carga horária fixa de um professor para uma aula que pode estar sendo assistida por 500, 1000, 2000 ou 3000 alunos em todo o Brasil. Pedagogicamente desastrosa, pois não há um rigor metodológico no ensino; não há uma didática coerente com diversos tipos de linguagem; não há enquadre/espaço de ensino determinado, o que dificulta a imersão cognitiva ao assunto; a condução do ensino e a avaliação da aprendizagem se tornam processos fragmentados e duvidosos; e por fim, não acompanham o desenvolvimento dialético progressivo/regressivo do aluno. Além do mais é humanamente impossível acompanhar pedagogicamente essa quantidade de subjetividades num espaço virtual de aprendizagem.

Considero a EAD uma pseudo formação, fruto da sociedade do excesso, que gera sobras, que cresce sem precedentes e não mede conseqüências para inventar possibilidades descaradas de lucro. Com o intuito de inflar ainda mais o mercado com profissionais incompletos e inacabados a sociedade sofrerá futuramente com as "sobras" desse tipo de formação incosequente, pois o mercado não acolhe a todos e nem haverá espaço nem emprego para essa enxurrada de universitários virtuais. O nível superior é hoje, o que o ensino médio representava na década de 60. O mínimo que todos devem ter. Hoje é obrigação. Porém, ter nível superior nem sempre significa estar empregado, muitos menos ter um nível de qualificação respeitável e decente.

A EAD do século XXI e as escolas técnicas surgidas na década de 60 têm suas semelhanças. Surgem a partir de um modelo empresarial de educação. A EAD é hoje uma “escola técnica refinada”, com grife, ajustada aos moldes espetaculosos do século XXI. A suposta diferença está no final. Pois fornece um título de graduação ao seu término, e não de um técnico. Sabemos qual classe social procura esse curso, a que cultura pertence e onde a elite quer que ela continue permanecendo. O processo de ensino, em rede virtual, passa a idéia de um certo“glamour” (pela roupagem da tecnologia, dá uma falsa sensação de status) e faz com que mascare a fragilidade da formação e camufle o fracasso da intenção empresário-educativa dando uma idéia enganosa ao aluno (visto que dispõe de todo um aparato de arsenais tecnológicos e um suporte da rede digital) de que está sendo preparado a altura da competitividade e das cobranças de um mercado de trabalho cada vez mais voraz.

EAD? Sim, traduzindo: Ensino Amputado, Deficiente!