sábado, 24 de agosto de 2013

Filmeletrando

Os deuses devem estar loucos, apertem os cintos...o piloto sumiu!

Encurralado entre os muros da escola, o professor aloprado e o homem que copiava coisas belas e sujas imaginavam um mundo perfeito a espera de um milagre.

Queriam fazer uma viagem ao mundo dos sonhos, encontrar os sonhadores, ouvir a historia sem fim, dançar o ultimo tango em paris...perceber como a vida é bela.

Do lado de fora, curtindo a vida adoidado onde os fracos não tem vez, o jardineiro fiel (que não era Edward mãos de tesoura) regava sua árvore da vida com seu coração valente. Mais distante, na casa do lago, o pianista observava pela janela indiscreta a vida dos outros, o doce novembro. Novembro que é outono em Nova York. Todos esses homens de honra que pareciam morar na cidade dos anjos tinham um instinto secreto. Um amigo oculto. Eram bons companheiros, mas pareciam ser aventureiros do bairro proibido. Estavam por um triz a se apaixonar pela estranha perfeita, e ignorando o preço do amanhã, a convidaram para a ultima ceia. O que desejavam com ela era curtir um império dos sentidos, pintar ou fazer amor. Como água para chocolate.

 Mas nessa sociedade dos poetas mortos que sempre existem coisas que perdemos pelo caminho, e parecemos estar entrando numa fria, numa dança com lobos, nunca estamos sem saída. Precisamos encontrar o tempo de despertar, desenvolver o sexto sentido, experimentar os sete pecados capitais, e descobrir o oitavo dia.


Ass – o quinto elemento

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Nos braços de mor-feu

Sonhei com você imperatriz.
Sim, na noite passada.
Linda, com um vestido azul e branco estampado
surgia uma mulher imponente-discreta
exalando a sutileza do seu modo sensual de ser

Descalça, rodopiava de braços abertos
...parecia ser de felicidade.
Flechava olhares e me distribuía abraços atrasados.
Carinhos meigos retardatários
intercalavam-se com beijos encaixados molhados.

Depois, sussurrou docilmente: "acorda, Dan! Já perdemos tempo demais dormindo!"

E eu acordei.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Homem-peixe (ato 3)


Na água, submergiu
Submerso, surgiu
fluidez, silêncios líquidos, movimentos sutis, vozes de sereia

Submerso, riu
com ostras indiferentes, algas felizes e cavalos marinhos tristonhos
Submerso, curtiu
 a pluralidade da fauna marinha, a água deslizando pela pele
Submerso, sentiu... água roçando poros, corais protegendo as espécie

Submerso, permitiu
Homem-peixe que já voou e plantado esteve, queria estar livre na água
Eis então sua tão sonhada liberdade
No não-lugar, onde nada ou ninguém o regula ou vigia
Que mesmo parado pode movimentar-se pois a água tem movimento próprio:
O balançar das ondas, a força das correntes e a influência da lua.
 Mas mesmo no seu místico e misterioso habitat não mergulha tão fundo.

Submerso, regrediu
Tem certo medo do tão almejado desconhecido. (submerso-infantil)
La, nas profundezas, é mais escuro pois a luz do sol não alcança
Pode guardar monstros sinistros devoradores de sua segurança
Emergindo medos primitivos que nem cardumes valentes confrontem
Seus segredos, nem o sensível amigo cavalo marinho, descriptografou. 
Submerso vadio...

Mergulhado em si mesmo e nas miragens marinhas
Afogou-se em seus sonhos
Que é terreno seguro pra uns
E arenoso pra outros

E, submerso, dormiu.

domingo, 18 de agosto de 2013

Homem-planta (ato 2)


Voltou de viagem querendo ser planta

Confidenciando-se para ossanha

Seria seu mais duro desafio, o ser estático e vegeta-meditativo

Sem movimento, sem perspectivas

Cabia aguardar os elementos precisos da previsibilidade

A sensação de estar plantado lhe angustiava

Não depender de si para ter água, seu elemento vital, lhe angustiava

Desiludido com o terreno preciso das plantas, já havia exercitado a espera devida

Sem ter vivido qualquer tipo de emoção aventureira, buscou a água

Buscou sua água

Que é terreno seguro pra uns

E arenoso pra outros

Homem-pássaro (ato 1)



Por um momento foi-se a inspiração, ficou a transpiração

Passarinho foi pra longe

Ar rarefeito, feito o ar... vôo feito, ar refeito

 Se esvaziou de excesso

Encheu-se de escassez

Voou, distanciou, observou

Sonha-se mais voando, sem os pés no chão

De longe pode enxergar melhor as coisas

Mas também não sente, nem participa

Viagem feita, de volta a terra

Que é  terreno seguro pra uns

E arenoso pra outros

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O sapo inquieto e a formiga paciente ou "a vida em três atos"

 O sapo que vivia pulando de um lado para o outro passou o outono completamente confuso com sua inquietude instintiva, vislumbrando um dia aquietar-se, projetando saltos cada vez menos amplos e mais precisos. Sua inquietude era tanta que não pensava no amanhã. Achava que poderia viver para se superar cada vez que desse um salto mais alto do que o outro. Seu concorrente era ele mesmo, competia com seu ego e com seu desejo volúvel.

Ele caçoava da pequena e trabalhadeira formiga que não tinha o mesmo alcance e agilidade quando se deslocava. Sabendo que o inverno estava por vir e pensando em longo prazo, passou o outono pacientemente estocando restos de comida para sua comunidade e ouvindo gozações do sapo fanfarrão. A inquietude fatalmente o levaria a solidão e a arrogância. A vida em comunidade e o aprendizado da lentidão criaram perspectivas, problemas, soluções e planejamentos. A formiga paciente sempre espera o tempo certo das coisas, não exige nada imediatamente de forma pragmática. 

Na espreita, a carismática coruja, que observara a formiga e o sapo atentamente, se remeteu  por analogia as lembranças da metamorfose da lagarta que vira borboleta. Mas em seguida, lembrou  também que existem centauros, minotauros e faunos.

domingo, 4 de agosto de 2013

Canhotos

Não é nada fácil viver num mundo em que as coisas são sempre pensadas e construídas para os destros. Há uma ditadura dos destros. Por isso os canhotos vivem permanentemente se adaptando. São definitivamente pessoas adaptáveis e com certa tendência para a transgressão. Acostumam-se a criar uma capacidade adaptativa-forçada que de tanto se repetir se naturaliza. Cria-se um hábito e posteriormente um traço de personalidade. Na verdade ainda mais alem. Adaptação vira parte da identidade. A dificuldade em manusear uma ferramenta ou instrumento qualquer no dia-a-dia voltados para destros faz do canhoto um especialista em driblar adversidades corriqueiras.  

As dificuldades são das mais variadas: tesoura, abridor de lata, mouse, carteira de escola ou universidade, marcha do carro, relógio que colocamos no braço direito, mas o pino pra mudar a hora permanece como se fosse pra um destro, que usa o relógio no braço esquerdo e configura o relógio com a mão direita tranquilamente. E pra tocar bateria? Só tem pra canhoto ou pra destro. Mas e quem for canhoto de mão e destro de pé (meu caso), faz como? Durante a refeição, não gostamos que pessoas sentem do nosso lado esquerdo, a mão do garfo. Socialmente temos que cumprimentar as pessoas apenas com a mão direita. Se for com a esquerda, você é tido como...

A profissão que exerce a justiça é o Direito. Não é o esquerdo. Direito em inglês é “right”, que também significa “certo”. Então, o esquerdo seria o errado? Quando queremos que alguém faça algo de forma correta, dizemos: “faça a coisa direito, aqui fazemos tudo direitinho”. Quando alguém está sentado esparramadamente na cadeira, falamos: “menino, tome jeito, se endireite!”. Na Itália direito = destro e esquerdo = sinistro. Sinistro hein? Começar algo com sorte é começar com “o pé direito”. Nenhum jogador entra em campo com o pé esquerdo. Esquerdo é associado ao azar. Não é a toa que o dia do canhoto é 13 de agosto.

Politicamente o lado esquerdo está relacionado ao revolucionário, anarquista, contestador, subversivo e outros termos pejorativos. O direito seria o conservador. Não questiona a hegemonia do sistema nem ameaça a ordem estabelecida, portanto trabalha na preservação do metabolismo social. Assim não cria incômodos e desconfortos, logo está longe de ser visado, rotulado ou execrado.
Na Idade média, durante o período da inquisição, canhotos eram considerados hereges, e tratados como bruxos e feiticeiros. Perseguidos pelo estado e por algumas instituições foram ateados à fogueira em praça publica.

A nossa escrita alfabética é da esquerda pra direita. Canhotos tem que fazer malabarismos caligráficos pra não borrar o que acabaram de escrever. Iniciar um parágrafo no começo da pagina de um caderno é um problema muito dificultoso. Coisa que os destros deliciosamente não vivenciam. Não é só a aspiral do encadernamento o problema. Se a escrita fosse da direta pra esquerda, canhotos não teriam essa dificuldade.

Canhotos usam mais o lado direito do cérebro. Neurologicamente esse lado direito está conectado  com o número maior de nervos que recebem o tipo de informação sensitiva, de visão mais aguda, pele mais sensível, os músculos respondem mais prontamente. O lado direito é o lado da criatividade.
Por uma vida mais valorizada e reconhecida aos sensíveis, adaptáveis e criativos canhotos.


Leonardo da Vinci, Beethoven, Nietzsche, Charles Chaplin, Pablo Picasso, Michelangelo, Paul McCartney, Jimmy Hendrix, Ayrton Senna, Isaac Newton, Machado de Assis, Pelé (canhoto de mão), Fidel castro, Albert Einstein, Adolf Hitler, Mahatma Gandhi, Bob Dylan, Barack Obama.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dias de Inverno


O tempo parece passar mais lentamente
Noites longas e madrugadas produtivas
Reflexões, orações
Músicas e meditações
Chocolate quente, cappuccinos
Inspirações...bandidas inspirações

Necessitamos do inverno, sim
Sem ele não haveria a gestação da primavera
E nesse período, os dias  
Compridos como seus olhos penetrantes
Arrastam-se procurando incessantemente a estação das flores
Sendo semeada em pleno mês de Agosto, assim como você
Sendo cultivada assim como você
Sendo cativante, você