sábado, 27 de julho de 2013

Página Futuro

Não vale a pena te perder na memória
Temos tanto a nos oferecer
E é só eu e só você
Olhe pra frente
Muitas palavras, muitas páginas
Algumas delas formarão o nosso livro

Não vamos nos desperdiçar

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Escrever e Cozinhar

Das relações entre essas duas artes.

O tema e o prato: a escolha de certo tema para escrever se assemelha muito a escolha de um prato para cozinhar. Em ambos os casos a motivação geralmente é desconhecida, vem do íntimo, requer criatividade, algumas invenções e pitadas de improvisos. Ao querer fazer um prato já vamos antecipando mentalmente quais os ingredientes necessários para o seu preparo. Da mesma forma que, ao despertar para a escrita de um tema, as palavras vêm na imaginação naturalmente soltas e embaralhadas assim como os ingredientes do prato mentalizado. Cabe ao perspicaz cozinheiro-escritor arrumar, dosar e colocar essas palavras no tempo certo.

As palavras e os ingredientes: palavras adequadas são como bons ingredientes. Temos que escolher cuidadosamente para atingir o objetivo esperado. Errar a mão seja escolhendo uma palavra exageradamente impactante (ou sorumbaticamente morta) ou se excedendo na dose dos temperos e no tempo de cozimento, pode causar “indigestão literária”. Mas há uma questão para ser evitada: a ansiedade em ver o texto/prato pronto não pode acelerar sua produção, escolhendo e distribuindo assim palvras/ingredientes aleatoriamente de modo que venha a atrapalhar esse processo. Esse deslize o cozinheiro-escritor atento não deve cometer.
 
A Escrita do texto e o preparo do prato: aqui está a parte mais importante, o desenvolvimento.  Assim como, quando cozinhamos na panela intercalamos fogo alto com fogo baixo, o transcorrer de um texto oscila também na sua intensidade. O objetivo é o mesmo: deixar as palavras/comida pegar mais gosto, pegando o tempero, ganhando corpo, tomando forma. Preparando o leitor para a mensagem central, para o prato principal, para o sentimento que o texto/prato irá provocar. Tudo para transformar o sabor-literário em algo mágico. A condução das palavras e a arrumação do texto é como fazer um baile com as palavras temperadas. Como quem rege uma orquestra: cada músico com seu instrumento que produz um som particular; cada ingrediente que produz um sabor, cada palavra que tem seu significado. Cozinhar e escrever tem relação com tempo, claro. O ritmo. Com a cadência do fogo alto-fogo baixo e também a cadência das palavras. Saber cadenciar o tempo do preparo, pra comida ficar no ponto. Escrever é dar cadência as palavras, é cozinhar em banho-maria, é orquestrar com maestria significados e sabores.

Tentei cozinhar o texto... escrever o prato. Agora é só se deliciar.

Bom apetite, leitores...boa leitura, degustadores!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Noite

"Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas.
Dispa-me, dispa-me".

Eduardo Galeano, Livro dos abraços, p. 92.

A Ventania

"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido
Dono de nada, dono de ninguém, 
Nem mesmo dono de minhas certezas
Sou minha cara contra o vento, a contravento
E sou o vento que bate em minha cara"

Eduardo Galeano, "O Livro dos Abraços", p. 270.

Sobre as caxirolas e torcedores neandertais



Inventaram a escova de dente para limpar os dentes, os cotonetes para limpar o ouvido e os talheres para usar com comidas. Isso não significa que não possamos limpar os dentes com cotonetes, usar uma faca para apertar um parafuso e uma escova de dente para limpar um fogão. Fazer uma cadeira de mesa ou uma mesa de cadeira. As coisas quando inventadas têm objetivos específicos, porém o homem atribui significado que lhe for útil e necessário devido à circunstância.

A caxirola é um instrumento musical. Se os neandertais (que nesse episódio foram alguns torcedores do Bahia, mas que podia ser do Vitória ou de qualquer outro time) que a atiraram no campo a fazem de “arma”, “instrumento de protesto” ou objeto para escancarar o seu provincianismo e falta de educação é uma opção deles, ok. Mas não se deve culpar o inventor e seu empreendedorismo, para assim consequentemente amenizar esse gesto paleolítico em pleno século XXI.

Não acho que a caxirola seja uma cópia do caxixi. Ele criou algo derivado do caxixi e nao fez questão de esconder isso, tanto que manteve o derivado do nome, e grande parte da estética do caxixi original. Não temos costume de levar caxixis pro estádio, tudo bem, mas lembremos que os caxixis são usados, junto com o berimbau (que também  não levamos pro estádio),  para produzir o som da capoeira  que é uma legitima e consagrada manifestação cultural. Ele deu o tom comercial ao caxixi,sim, óbvio, que pouca gente da população conhece (mas que devia conhecer pela sua ancestralidade africana!) e por conta disso não tem acesso, faz-se ignorante.

 Essas pessoas que atiraram as caxirolas no campo do estádio são as mesmas que atiram sapatos, rádios, relógio, copos, moedas, latas ou o que tiverem em mãos no momento da fúria, instinto puro. Não adianta trabalhar em cima da proibição, punindo o instrumento se o sentimento nocivo do individuo vai continuar gerando comportamentos Neandertais. O problema está no sujeito. O homem precisa evoluir. E precisa reconhecer que precisa evoluir.

A caxirola está proibida. É tida como uma arma. Um instrumento musical é tido como uma arma(?!). Uma pena. É a vitória do controle sobre a criativade, da falta de educação sobre a cidadania, do senso comum sobre a genialidade, da ignorância burocrática sobre a lucidez-lúdica.

Lembrando que repiques, bacurinhas, surdos, timbaus e bumbos são usados no estádio, mas apenas por parte da torcida...10, 15, 20 integrantes. Com a caxirola cada torcedor poderia produzir seu som, todos podiam participar entrando no ritmo produzido pela coletividade,inclusive quem não sabe tocar, iria no embalo e entraria no ritmo. Essa sensação tem nome, isso é plenitude. Imaginem 40, 50 mil caxirolas interagindo musicalmente? Infelizmente não entenderam dessa forma e preferiram coibir. Qualquer possibilidade de ameaça a ordem estabelecida ou de reconhecimento da crua natureza humana, por mais que isso venha a mostrar aquilo que de fato somos mesmo sem ter o discernimento de admitir, é rapidamente dissimulada, remediada e revertida moralmente para que se aparente a tradicional normalidade.


Carlinhos Brown está além do seu tempo. É um visionário. Eu compreendo que deva ser difícil para o Homem-Neandertal, captar suas ideias e sentimentos. E assim vamos caminhando, assim caminha a humanidade... “com passos de formiga e sem vontade”.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Meses e estações

Fevereiro se foi, acabou o carnaval
O mês se encerra em 28

Março e suas águas fecharam o verão
E cessou outras coisas
Coisas que não vinham indo bem

Abril chegou
Trouxe o outono maroto
Abrem-se novas possibilidades
Abriu, chegou, criou, imaginou

Maio, Junho e Julho mandaram respostas
Um inverno descarado desembarcou na cidade

Agosto vem aí
Meu gosto, seu gosto, gosto
Ah Agosto... ah, gosto
 Pra quê ser um mês tão longo?
Tenho pressa que esse inverno ambíguo passe logo
Podia encurtar teus dias e terminar como Fevereiro...
Fevereiro em ano bissexto

Serás bem vindo, Agosto

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Em algum lugar achado de 2008


Não fosse alguém com nome de flor, talvez jamais tivesse lhe encontrado.

Essa flor que hoje está distante de nós em outra terra, tem uma historia na mitologia.

Ela é a filha de Taumante e de Electra. Taumante era filho do Mar e da Terra e Electra era uma das oceânides, as filhas de Oceano e Tetis. Mensageira que é, parece, portanto designada para unir terra e água.

Desde então, passei a acompanhar suas andanças, suas viagens pra bem longe, Terra
Seus pensamentos, sua poesia de vida, sua vida poética
Seu encanto de vida, sua vida cantante
Sempre de longe, mas de perto

Criando pretextos bobos de aproximação
Admirado pela sua vocação para a arte

Esperançoso de que um dia pudéssemos convergir no mesmo período de disponibilidade para que pudesse tomar parte
De tudo aquilo que já imaginei ser possível antes mesmo do acontecido

Então eis que a distância geográfica deixa de existir e acaba o embaraço
Uma proximidade alfabética nos coloca literalmente no mesmo espaço

Mera coincidência?
Coisas do destino?

A Flor pode responder!
Não a nossa amiga em comum
Nem aquela que você exercitou suas cordas vocais pelos bailes da cidade com suas simpáticas amigas musicais

Falo de uma flor que rime com amor
Flor de terra...terra molhada
Regada à água
Flor forte
Flor frágil
Fecundando felicidade
Flor com “F” maiúsculo

 Que um dia possa chamar de minha...minha flor
 E assim, dizer: "Vem minha flor, vamos cuidar do nosso jardim"

sábado, 6 de julho de 2013

Você sabia?


Que foi lançado mês passado nos Estados Unidos o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e com ele novas e modernas patologias?

Que é no DSM que a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a CID (Classificação Internacional de Doenças) se baseiam para classificar os transtornos psiquiátricos?

Que a compulsão alimentar, agora passa a ser um transtorno mental definindo a pessoa que apresente episódios de alimentação compulsiva ao menos uma vez por semana e durante três meses como portadora do distúrbio?

Que a desordem disfórica pré-menstrual, a forma mais grave de tensão pré-menstrual, que produz irritabilidade, humor instável, ansiedade e problemas de sono durante a última fase do ciclo menstrual, agora está caracterizada como um transtorno mental?

Que o luto por perda de ente querido passa a ser um sintoma da depressão?

Que a necessidade sexual excessiva por pelo menos seis meses; uso frequente do sexo em resposta ao estresse ou ao tédio, sem levar em conta danos físicos ou emocionais, caracteriza o sujeito como portador de transtorno hipersexual?

Então se sofremos por causas naturais que a vida e sua sociabilidade complexa nos oferece com toda sua magia e condição de aprendizado, somos doentes. Se buscarmos alternativas pra fugir destes sofrimentos em eventos prazerosos que julgamos nos proporcionar mais qualidade de vida, também poderemos ser enquadrados em casos patológicos. Então, antes que definam meu diagnóstico como portador de TOD - transtorno opositivo-desafiador (caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil/resistência à figuras de autoridade), resta a pergunta: o que é ser saudável?

 

O passe-livre e a caverna do dragão


Completamos duas semanas de manifestações pelo Brasil. Engana-se quem pensa que a causa de todo esse movimento coletivo nacional não seja por conta do passe livre. É pelo passe-livre, sim! Queremos e exigimos passe livre para passar dessa para uma outra dimensão. Que espécie de dimensão? Outro plano astral que gravite em outros valores morais e ofereça uma nova condição de sociabilidade para se viver. Exatamente como no desenho caverna do dragão que fez parte da infância de muita gente, onde as personagens estão presas num mundo hostil, inóspito, ambientalmente inviável, cheio de inimigos, armadilhas e ciladas. Longe de casa e de suas referências, não reconhecem sua identidade e o que podem alcançar potencialmente ali. Vivem dia após dia. Convivem com seus poderes, suas diferenças, suas trapalhadas, enfrentando outras espécies pitorescas e agressivas que ameaçam suas vidas. Seu guru, o pacato e inofensivo mestre dos magos, de fala mansa, serenidade inabalável e caráter aparentemente inquestionável, dá dicas através de charadas para seus discípulos acharem o portal de volta. Mas não se sabe realmente quais suas reais intenções. Desde criança ouço que ele deseja boicotar o retorno da turma para sua casa. Ele seria o sabotador responsável pela manutenção da trama tal como ela é. (Estaria mestre dos magos para a caverna do dragão assim como Lula está para o Brasil?).

 Pois bem! E o que é que tem a ver caverna do dragão com o movimento passe-livre e a onda de protestos por qual passa o Brasil? Acontece que o alcance de uma nova ordem moral que a sociedade está propondo, com toda complexidade que a vida moderna exige para se rearranjar em termos políticos, administrativos e jurídicos, passa diretamente pela transição do mundo da utopia para o mundo das possibilidades. E para fazer essa transição, só através da “mudança de dimensão”. Só se muda de dimensão encontrando o portal e passe(ando) por ele. E essa transição passa primordialmente pelo passe-livre. Por isso ele é o estopim, o resto vem depois. É o passe-livre que vai dar (já está dando) a liberdade de emancipação e expressão para o início do processo de abertura do portal. Para a nossa migração do lugar-utópico-possível que estar por vir. Que ainda não tem nome, definição, nem idealização ou planejamento. Que nem sequer está pronto. Mas nem precisa, pois para estar, basta o desejo de mudança. De que seja diferente disso que está aí. Esse modelo nós não queremos mais. Não queremos “mestre-dos-magos” da vida real ditando caminhos e rotas com ar de superioridade e objetivos egoístas-eleitoreiros que ele pense ser o melhor pra nós. Quem sabe o que é melhor pra nós, somos nós mesmos! E o melhor pra nós (bem como para as personagens do desenho) é buscar o caminho de volta pra casa. Devolver ao país sua casa pós-faxina. Casa essa que foi um dia sequestrada por colonizadores, extorquida por saqueadores, e deixada como herança maldita o ranço da corrupção e da conveniência. Dessa casa todos nós somos diaristas. Vamos ver do que essa faxina será capaz.