sábado, 6 de julho de 2013

O passe-livre e a caverna do dragão


Completamos duas semanas de manifestações pelo Brasil. Engana-se quem pensa que a causa de todo esse movimento coletivo nacional não seja por conta do passe livre. É pelo passe-livre, sim! Queremos e exigimos passe livre para passar dessa para uma outra dimensão. Que espécie de dimensão? Outro plano astral que gravite em outros valores morais e ofereça uma nova condição de sociabilidade para se viver. Exatamente como no desenho caverna do dragão que fez parte da infância de muita gente, onde as personagens estão presas num mundo hostil, inóspito, ambientalmente inviável, cheio de inimigos, armadilhas e ciladas. Longe de casa e de suas referências, não reconhecem sua identidade e o que podem alcançar potencialmente ali. Vivem dia após dia. Convivem com seus poderes, suas diferenças, suas trapalhadas, enfrentando outras espécies pitorescas e agressivas que ameaçam suas vidas. Seu guru, o pacato e inofensivo mestre dos magos, de fala mansa, serenidade inabalável e caráter aparentemente inquestionável, dá dicas através de charadas para seus discípulos acharem o portal de volta. Mas não se sabe realmente quais suas reais intenções. Desde criança ouço que ele deseja boicotar o retorno da turma para sua casa. Ele seria o sabotador responsável pela manutenção da trama tal como ela é. (Estaria mestre dos magos para a caverna do dragão assim como Lula está para o Brasil?).

 Pois bem! E o que é que tem a ver caverna do dragão com o movimento passe-livre e a onda de protestos por qual passa o Brasil? Acontece que o alcance de uma nova ordem moral que a sociedade está propondo, com toda complexidade que a vida moderna exige para se rearranjar em termos políticos, administrativos e jurídicos, passa diretamente pela transição do mundo da utopia para o mundo das possibilidades. E para fazer essa transição, só através da “mudança de dimensão”. Só se muda de dimensão encontrando o portal e passe(ando) por ele. E essa transição passa primordialmente pelo passe-livre. Por isso ele é o estopim, o resto vem depois. É o passe-livre que vai dar (já está dando) a liberdade de emancipação e expressão para o início do processo de abertura do portal. Para a nossa migração do lugar-utópico-possível que estar por vir. Que ainda não tem nome, definição, nem idealização ou planejamento. Que nem sequer está pronto. Mas nem precisa, pois para estar, basta o desejo de mudança. De que seja diferente disso que está aí. Esse modelo nós não queremos mais. Não queremos “mestre-dos-magos” da vida real ditando caminhos e rotas com ar de superioridade e objetivos egoístas-eleitoreiros que ele pense ser o melhor pra nós. Quem sabe o que é melhor pra nós, somos nós mesmos! E o melhor pra nós (bem como para as personagens do desenho) é buscar o caminho de volta pra casa. Devolver ao país sua casa pós-faxina. Casa essa que foi um dia sequestrada por colonizadores, extorquida por saqueadores, e deixada como herança maldita o ranço da corrupção e da conveniência. Dessa casa todos nós somos diaristas. Vamos ver do que essa faxina será capaz.

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