quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Di-versos

Di-versos
Se a loucura social tem tomado conta
e a crise moral e ética também
não adianta fugir, sua cabeça já está tonta
o colapso não poupa ninguém.
Estarmos ajustados (e conformados!) a uma sociedade doente
não é indicativo de saúde mental
pare, pense, sinta, articule-se e tente
caso contrário, será letal.
Eu sei, os diversos inicialmente tumultuam e causam estranhamento
mas se ainda não conseguiu alcançá-los dê a eles um alento
se a Arte é a imagem daquilo que a sociedade ainda não é capaz de pensar
encha-se di-versos que o façam não só pensar, mas também flutuar.
Ninguém tem obrigação de acolher o diverso ou viver na diversidade
mas renunciar a arte como ferramenta promissora de transformação
é sabotar sua essência, covardia com seu crescimento, pura ruindade
pois este verso é apenas um coceira na sua imaginação.
Siga! Com o outro, o diverso... com você, com seus versos ou apenas vá. Pois todos nós iremos "di-versos".

A Ponte

Feita para reduzir distâncias
aproxima pessoas na busca da união.
Une humildade e arrogâncias
tristezas e diversão
escassez e extravagâncias
receio e celebração
amontoando povos, territórios e tradição.
Ao renunciar a ponte como forma de transição
trancados dentro de si, estamos fadados a depressão.
Sem deslocamento, sensação é de estar ilhado...
perceba, negar a própria travessia é se manter isolado.
Ou reconhece sua essência, ou permanecerá humanamente lacrado.

sábado, 7 de novembro de 2015

Me desculpe

Primeiramente, me desculpe.

Me desculpe por não atender suas expectativas. 
Me desculpe por gostar mais de água de côco do que de cerveja, de vinho do que de whisky e de acarajé do que de um big mac.
Me desculpe por ver a vida tão mágica e bela e achar, infantilmente, que a fantasia pode superar a aspereza do cotidiano.
Me desculpe se faço malabarismos com o humor e com a imaginação pra tentar te agradar em vão.
Me desculpe se minha resiliência de nada lhe serve e que você acha que isso não passa de psicologismos.
Me desculpe também se a comunicação é truncada e eu lhe pareço inacessível.
Me desculpe se ando cansado, sabe como é né? A rotina é cruel.
Me desculpe se fui leal e franco, ainda que soubesse que seria desnecessário.
Me desculpe por gostar mais de Gilberto Gil, Alceu Valença e Lambadas do que de Caetano, Otto e bossa nova.
Me desculpe por insistir teimosamente em ser lúdico e não em ser prático e objetivo num terreno de concreto.
Me desculpe pela fé no misticismo e na espiritualidade e por acreditar que existe algo maior.
Me desculpe por tentar e me desculpe também por te querer bem.
Me desculpe por acreditar na mudança do outro.
Me desculpe sobretudo pelas numerosas desculpas.
Me desculpe também por ser humano.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Dizendo sobre o Lema

Dizem que para viver, basta ter um lema
Dizem que para ter, basta viver um lema
Dizem que para viver, basta ser o seu lema
Dizem que basta, viver um lema
Dizem que seu lema basta.
Dizem também que basta!
O basta pode ser o lema
Dizem lemas sucessivamente
Disseram tantos lemas
Que a vida se apresentou como um dilema!

Vínculos: espécie em extinção

Descobriram água em Marte, nosso DNA já pode ser mapeado e a espécie pode ser clonada. Estudos avançados indicam que a cura do Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas está próxima. Temos todos (e mais um pouco) recursos naturais e tecnológicos disponíveis para viver bem: alimentação, habitação, trabalho e lazer. A medida da escassez ou da abundância vai variar conforme o que cada um considera supérfluo.
Ficamos abismados e esperançosos com as descobertas tecnológicas e as evoluções da ciência e da genética. Nesse deslumbramento tecno-digital-científico esquecemos de nós mesmos. Da nossa espiritualidade, do outro e do valor que o afeto pode ter, sobretudo nos dias de hoje de degradação social e de escassez de vínculos apesar da abundância de pessoas.
É provável que em 2035, ou talvez antes, o vínculo seja simbolizado no "Museu do Vínculo" para não cair no esquecimento da sociedade e garantir sua preservação. É bem provável também que o museu se torne patrimônio cultural da humanidade assegurando sua continuidade para futuras gerações dada sua relevância para a humanidade. No museu as pessoas se cumprimentam, trocam gentilezas, tomam café, leem revistas e jornais, conversam entre si, respeitam os que vão chegando e apresentam o museu de forma deliberada e democrática. Fazem jogos, brincadeiras e não têm vergonha de demonstrar seu lado lúdico. Ou seja, exercem, perpetuam e curtem a prática da vinculação com o outro.
Porém, ao saírem do museu, sempre se deparam com a mesma triste realidade, com vários cartazes estampados nos postes e muros da cidade:
"Procura-se!!! VÍNCULO... espécie em extinção. Recompensa: um abraço"

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Divertida Mente

Não só quem tem filhos, sobrinhos e afilhados, mas também os que não têm devem assistir esse filme que consegue ser tão lúdico quanto lúcido. Uma viagem ao mundo cognitivo-psicológico que nem o mais competente neurocientista poderia mostrar em sua pesquisa acadêmica.

 O filme narra a interação de 5 emoções básicas sob formas de criaturinhas estereotipadas que disputam o painel de controle das emoções de uma criança pré-adolescente: alegria, a tristeza, o medo, a raiva e o nojinho. Elas vão se revezando e alterando o humor na medida em que ocorrem as situações cotidianas. Os eventos mais marcantes criam as "memórias-base" que servem por sua vez para sustentar as "ilhas da personalidade": ilha da honestidade, ilha das bobagens/brincadeiras, ilha da família. A manutenção de cada ilha é abastecida pelas criaturinhas das emoções. Há também uma fábrica de sonhos e a terra da imaginação, mostrada com muito humor e criatividade.

 Nessa disputa a alegria tenta sempre prevalecer com sua animação contagiante. Porém, se não houver equilíbrio das emoções e o armazenamento adequado entre elas, as ilhas podem sucumbir. Tudo isso mostrado de forma ludicamente didática e preservando o mundo da fantasia infantil. Apesar de mostrar a alegria quererendo contagiar todos e tentar manter certa hegemonia, o filme consegue, sem ser apelativo, mostrar com sensibilidade a importância da tristeza como emoção que também pode criar possibilidades agregadoras.

 P.S.1 - Saí pensando em como a "adultização" da vida nos leva ao suicídio de nossa criança interior.

P.S. 2 - A criaturinha do medo é muito engraçada e o amigo-imaginário é um grande coadjuvante.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Alienado

Mente vazia é assim
Cada palavra dita é uma pedrada
pronta para ser lapidada
movimentos cíclicos de uma cabeça quadrada
que dificilmente será moldada




quarta-feira, 27 de maio de 2015

Exílio

Isolado e bem tratado
fragmentado.
Animado, motivado
largado
exilado
remediado


Destemido

Chegado a uma ironia
nunca se rende
nada lhe prende
vive da disritmia



quarta-feira, 20 de maio de 2015

Prateleiras e Compartimentos

Já tenho três semanas tentando escrever esse texto, estacionado no primeiro parágrafo. A inspiração, disciplina ou criatividade deviam estar guardadas ali, em alguma prateleira dessas que a gente deixa dentro de nós "coisas" que gostamos. Ficamos ali “paquerando” ela, mas ainda não estamos “dispostos” pra executá-la.

 Pode ser um ato consciente de prorrogar, pois a ação requer uma dedicação de tempo que ainda não temos disponível. Pode ser também um hábito (e nesse caso é mais grave!) de procrastinar, deixar pra depois, jogar pra frente. Há pessoas que funcionam melhor na confusão que a pressão do tempo/prazo exerce. 

Veja bem, aí você pode se enrolar todo lá na frente. Funcionar na tríade “protelar-acumular-executar” pode ser arriscado. Ainda assim considero essas pessoas portadoras do dom da procrastinação. Estamos falando de um talento. Trata-se de um equilibrista social que vai administrando as tarefas de seus diversos segmentos e que só consegue ativar o uso da prateleira e dos compartimentos quando se está de frente com esta condição de adiamento. O corpo não está pronto para agir. A mente não está pronta para pensar... ainda! Enquanto isso, algumas distrações e micro-entretenimentos vão decorando o que guardamos nas prateleiras.

 Nós não guardamos a tarefa-atrasada em si nos compartimentos, mas sim vamos acumulando partículas de vontade/desejo que aquela tarefa vai demandar de nós. É a inspiração espiritual que fica na nossa prateleira subjetiva. O que guardamos nela é a curiosidade da vontade. A vontade tem grande curiosidade para agir e conhecer. Mas essa vontade só virá recheada de outros componentes (delicadeza, serenidade, agressividade, fluidez, intensidade, precisão, praticidade, improviso, imperfeição) se deixarmos a tarefa pra depois.

 O fazer imediato impossibilita de florirmos a nossa prateleira. A vontade comete suicídio e nós cometemos um genocídio emocional. Prorrogar é saber preservar em compartimentos as sensações de cada ato prorrogado que, isoladamente, vai dando munição futura, vai se robustecendo das características necessárias que se precisa para, com maestria, concluir o que está para ser feito. Acho que temos variadas prateleiras e compartimentos internos, muito especiais, e que não nos damos conta do quanto eles podem nos fornecer motivação, curiosidade e consistência, desde que não estejam empoeiradas e trancafiadas. Mantemos nossas prateleiras e compartimentos limpos, destrancados e arejados.

 Faxina interna já!

domingo, 17 de maio de 2015

Pensamentos de dias chuvosos (5)

Enquanto escrevo você dorme
Enquanto escrevo não durmo

Você sonha com paz e harmonia
Eu escrevo com gás e energia

A vitalidade dos pensamentos clandestinos
A palavra zunindo
Místico, sempre. Desde menino

Aquele que brinca com a chuva de um vendaval
Silencia atras da roupa molhada do varal
Guardando para nós lembranças de alegrias de quintal

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pensamentos de dias chuvosos (4)

Constrangimento e culpa dão o tom da sociabilidade. São a matéria-prima das relações contemporâneas.

Pensamentos de dias chuvosos (3)


 O vazio, por ser ser temido, é travestido de convivências onde a culpa e o constrangimento protagonizam a vida cotidiana.

Pensamentos de dias chuvosos (2)

A necessidade da sensação de pertença é uma prova de como somos reféns do outro para eliminar o medo do vazio.

Pensamentos de dias chuvosos (1)

A genuína sensação de constrangimento é uma prova de como somos reféns das noções de etiqueta social.

A genuína sensação de culpa é uma prova de como somos reféns de nós mesmos.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Liquidez

Aquela que toma qualquer forma
Foge do padrão, não segue a norma
Muda seu estado, varia com a temperatura
 Avança sem pedir licença
Entra pela mata escura
Todos sentem sua presença
 No mar ou na chuva descendo a rua
 Abastece as margens
 Produz belas imagens
 Em abundância sempre bem recebida
 Elemento água, fonte de vida

Estrada pra roça

Lá mesmo onde o tempo parou
A beleza da vida se desvendou
 Conversa fiada de fim de tarde
 Pouca zuada, nenhum alarde
 Cheiro de mato e terra molhada
 E aquele cafezinho com bolacha
 Pra dar o tom da prosa falada
 Avoador, polvilho, amendoim e canjica
É na cozinha onde tem a resenha mais rica
 Bolo de aipim, pamonha e suco de mangaba
 Alimento partilhado
 Encontro ritualizado

Paralelepípedos e aslfato

Entre paralelepípedos e asfalto liso prefiro caminhar na imperfeição das pedras amontoadas. Aquelas, que um dia podem até já ter sido obstáculos, hoje entortam os passos e nos tiram (?) da rota. Mesmo juntinhas deixam brechas. Constroem novos trajetos possíveis e uma condição de resiliência, pois estimulam o inusitado (espiritualidade) produzindo novas perspectivas (racionalidade) e uma simplória metáfora: não há simetria na vida.

Snapchat, Meerkat e Periscope

Esse três aplicativos de nomes estranhos, além de nos tornar poderosos comunicadores devido ao seu alcance, permitem também que as imagens e vídeos postados na rede sejam vistos e, logo depois, instantaneamente apagados. Ou não-armazenados. As ferramentas podem ser benéficas, mas a questão é: que uso faremos delas?

 A era do efêmero já chegou aos aplicativos. Talvez, (talvez...) seja só um reflexo de como a ética da humanidade já está em processo de decomposição: comprometimentos pontuais sem laços significativos; no jogo do deletável, a indiferença e o descompromisso se tornam comuns; nada precisa arquivado, guardado, plenamente experenciado ou dignamente vivido; a ambiguidade de se vivenciar papéis sociais de celebridade/anonimato põe à nu a a essência das postagens desses aplicativos: contraditoriamente, a falta de implicação social. Não há código regente. Aquilo que poderosamente informa, também vai definhando o metabolismo das relações.

 Existe aí uma bifurcação moral silenciosa, perigosa e (espero estar errado!) não muito promissora.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Insuficiência e Tédio - (ou a Ditadura da Felicidade)

Se a felicidade humana, (seja ela rara ou constante, tímida ou efusiva) se baseia em: (1) comprar coisas (adquirir para ter; ter para exibir; exibir para se sentir bem), (2) estar com alguém que nos compreenda e nos faça feliz no campo amoroso, (3) viagens com amigos para lugares pitorescos ou badalados e, (4) encontros cotidianos singelos que traduzem a sociabilidade humana e que fazem nos sentir vivos; então, a vida não passa de uma grande incompletude.

Buscar fora, constantemente, qualquer forma de satisfação, miúda ou plena, só demonstra o tédio e a insuficiência que é estar só. E, também, afirma (uma vez que oculta) nossa atual condição solitária que insistimos em negar: o abismo é temeroso e a angústia não é bem vinda. O primeiro ninguém quer ver. O segundo ninguém quer sentir. Para não lidar com o que incomoda (a solidão), vamos nos “embebedando na farra do prazer”, seja ele superficial ou temporário.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Vida a crédito, relações parceladas

 João vai na Ricardo Eletro comprar um fogão novo para sua casa. Divide em 5X. Maria vai passar 10 meses pagando o camarote do reino que dividiu no cartão para brincar o carnaval e sua irmã, Adriana, ainda está pagando o Salvador Fest que dividiu também em 10 vezes. Pedro comprou um tablet e também parcelou sua compra: oito “suaves prestações”.

Crédito é comprar quando não se tem o dinheiro suficiente para pagar o produto no ato da compra. A dívida é postergada. A pessoa consome aquilo que não cabe em seu orçamento. Logo, é um falseamento de sua realidade financeira (e subjetiva também, vocês vão entender a razão mais adiante), mas isso faz parte do jogo dinâmico da economia, ok.

João (o do fogão) convida Pedro (o do tablet) e as irmãs festeiras Adriana e Maria para um jantar em sua casa e estrear o fogão com os amigos em um jantar bacana e animado que não tem nada de jantar gourmet. Pedro muito ocupado e empolgado com o tablet não se animou muito e não compareceu ao evento. Ficou em dívida com João. Adriana e Maria não puderam ir, pois estavam no show de Tayrone Cigano na The Best Beach.

Pedro, Adriana e Maria fazem uso do “crédito” social quem têm com João para adiar o encontro. Vão protelando até que se chegue a ”última prestação” (o limite simbólico de quando não puderem adiar mais) e aí “quitarão” a dívida comparecendo, interagindo, socializando-se em qualquer outro dia de qualquer outra oportunidade quando esta surgirá.

 Postergamos a quitação de um produto porque dentro de alguns meses acreditamos que o dinheiro surgirá para quitar a dívida. Postergarmos a “quitação” de uma ausência nas relações/encontros (dívida afetiva/moral) com as pessoas porque acreditamos que o vínculo (e é ele que permite o crédito) se manterá para sempre e assim vamos parcelando as relações em prestações. Administrando os afetos e as sociabilidades de acordo também com nosso tempo disponível (ou seria de acordo com nossas prioridades?). Todos fazemos isso, não há problema, mas o que deveria ser exceção já virou regra. A dinâmica da vida econômica a crédito nos torna reféns de relações sociais fragmentadas. Sem nunca “quitar no ato da compra”, aprendemos que qualquer falta poderá ser sanada e bem resolvida no futuro. Fato que nos torna habituados a procrastinação.

 Qual foi a ultima vez que você “comprou algo significativo e caro no débito”? Tecla Sap – Quando foi a ultima vez que você se proporcionou estar numa relação sem que essa fosse “parcelada”, sem a cultura do adiamento, de modo que ela pudesse se tornar genuína e inteira?

Pessoas não são produtos. Vínculo não é dinheiro.

Mar aberto

Hoje navega-se calmamente
Se um fala, o outro sente
Se um olha, o outro entende
Agindo pacientemente
Se eu sou mar
você é continente

terça-feira, 10 de março de 2015

Solidão

A solidão é para os corajosos
Não para os fracos.

Não é um fardo é uma dádiva,
quase um talento dado
assumir a solidão como amante
é reconhecer-se privilegiado.




terça-feira, 3 de março de 2015

Merecimento

Agradecer sonhando
 Sonhar escrevendo
Escrever contando
 Contar imaginando
Imaginar temendo
Temer acreditando
 Acreditar esperando
Esperar insistindo
 Insistir merecendo
 Merecer divagando
 Divagar caminhando
 Caminhar devagar

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

35

então estou aqui, flertando com a nostalgia
completando mais um ano de vida, cansado de tanta hipocrisia
é muita demagogia
carregar esse fardo de viver numa pseudo democracia
nos cuidemos! chega silenciosamente uma hemorragia
o caos se anuncia
e as vezes judia
esperamos que chegue o dia
(mesmo vivendo nessa disritmia)
em que não haverá anorexia, bulimia, discauculia e outras anomalias

quer saber? sorria!
faço isso quase todo dia
tome banho de pia
abrace sua tia
ouça aquela música que te arrepia
afaste a melancolia
viva com mais sabedoria

é o que faço: percebo, escrevo e sinto
de preferencia degustando um vinho tinto
vou decorando esse singelo canto do quinto
mas minha idade, não minto
cá estou eu prestes a completar trinta e cinco

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Teatral

"Faltam-lhe sonhos, o que tempera a vida"
disse a Lady.

Lacônico

Para onde vai esse silêncio?
Eu não sei

Inferno astral

Nesse mês iluminado
os atros sinalizam:
"cuidado!"
Mas como? (me pergunto)
Qualquer perigo seria desvendado
Quem nasce em fevereiro
é um privilegiado
verão em cores, sabores e rumores
de fato, é um mês abençoado

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A(o)mar

Para fugir do grito e do agito
Busco na paz, a plenitude de espírito

O mar, flutuando, espio
se há barulho, fico arredio:
"Silêncio! Nenhum piu"

Espero, sinto, te toco, medito
No imaginário, em cores te pinto
E tenho dito:
Me leve ao mar, é minha terapia
lá há de ter alegria e intensa calmaria
Sentiremos a salgada energia
E se não der, ao menos houve telepatia

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Meu bem, meu mal

O comportamento: cordial
o olhar:animal
a performance: teatral
o abraço: fatal
a beleza: angelical
a boca: mortal
a dois: potencial
a distância: abissal
emoções: no varal
em escassez: sal
tudo isso: natural
a história: genial


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O improvável

Já dei muitos mergulhos!
Contaste quantas braçadas?
do fundo do mar tirar os entulhos
ao navegar dar boas risadas
na superfície, embaraço, embrulho
frases poéticas, palavras cantadas
ruído, melodia, barulho
mistérios de um improvável conto de fadas


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Em busca do eu

Em cada viagem para uma nova cidade
Inicia-se uma contínua busca pela nossa real identidade
No divino, na plenitude, na transcendência ou no infinito
Haveremos de nos achar, ainda que seja através do não-dito
A natureza sábia em sua singela preciosidade
Transmite com leveza e serena sinceridade:
"Busquemos a elevação e a espiritualidade
de preferência pela via da simplicidade"

É ela quem vai nos dar a sensação de unidade
Desde que, haja de nossa parte, receptividade.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Passeio no bosque

Se vier de poesia pode entrar...
sorrateiramente...
observe o jardim, o bosque
e o sussurrar do pomar

Mensagens preliminares de 2015 (um ano não tão novo assim)

- Meia hora de espera na fila pra comprar um ingresso. Na hora da compra a atendente avisa: "o sistema está fora do ar". Se até o sistema sai do ar, a gente também pode (e deve!). Cabe a cada um escolher sua maneira.

 - Local onde tomo açaí lotado.Três grupos em pé esperando vagar mesa, umas dez pessoas talvez. Apenas minha mesa vazia e com cadeiras disponíveis. Me lembrei de Moreré onde as pessoas, gentilmente, não hesitam em se aproximar e dividir mesas com lugares desocupados e pessoas desconhecidas. O sujeito urbano segue com (muita) dificuldade de interação e a sensação de estranhamento, ao esboçar uma aproximação singela junto ao outro desconhecido, permanece.

 - Casal-fitness estaciona o carrão em vaga de cadeirante. Perguntei, já que eram atletas e aeróbicos, que problema haveria estacionar mais distante e andar um pouco mais pra academia. Resposta: "Você é da prefeitura?". Na cabecinha musculosa dele a regulação da vida social passa exclusivamente pelos órgãos públicos. Malha tanto (o corpo, não a mente) a ponto de não saber o que é cidadania

DECID-IR

Escolhas são travessias
passeios, aventuras, paisagens
rodeios, travessuras, miragens

Abrir uma porta ou uma cancela
é autorizar a alma, que revela...
toda escolha traz uma decisão
querendo ou não...pois então
decidir é pensamento e ação
é escolher e ir
é decidir ir
decidimos ir
para curtir, viver, aprender e sorrir
decid-ir

Posto que toda decisão é uma ida
só nos resta assumir esta condição em vida