quinta-feira, 26 de junho de 2014

Estrada para Igatu

estrada estreita,
 pedregulhos e cascalhos
carros indo e vindo
subidas e descidas.

o caminho longo é lento
as dificuldades não facilitam o acesso
a inacessibilidade valoriza e muito o lugar
desejando tão logo um regresso
para apreciar e se reenergizar

igatu é como uma fruta no mais alto galho da árvore
aquela que depois de muito esforço, está ali
suculenta para ser degustada.

Dificultar o acesso...
 faz com que apenas pessoas especiais vão ao seu encontro
aquelas que reconhecem sua amplitude
que descobrem seu sabor e sua doçura
e se submetem aos esforços e adversidades
da trajetória transformadora e árdua

O problema é quando a dificuldade do acesso
insiste em ser algo inacessível
Nesses casos, o explorador, o arqueólogo, o pescador, o viajante
precisa, urgentemente, resignificar o que lhe conduziu,
além de seu desejo, ao objeto estimado


sábado, 14 de junho de 2014

Raio de sol


O desconhecido
aquele que pode ser inicialmente temido
só é estranho até você encontrá-lo...

Depois, é ele quem lhe completa.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Refúgio de outono


Sentando em sua caixa de madeira
tira sons, do grave ao agudo
faz da música seu refúgio
desamparado, no limite da fronteira

Mas agora vem o inverno e o são joão
o tempo voa, nem parece
há um ano estávamos nessa mesma "procissão"
o tempo esfria, umedece
e eu ocupado com a dissertação
Você distancia, entorpece
o tempo muda, aquece.



sábado, 7 de junho de 2014

Sonhei que eu era, balão dourado


Se vai ter copa ou não vai ter copa, eu não sei
 Mas são joão eu sei que vai, já me programei

 Danças originais
 Vestimentas, rituais
 Nordestinos rurais
Celebrando manifestações culturais

 Não durma, não dê mancada
 De manhã bem cedo tem a alvorada

 Tem também camisas quadriculadas
 Tem calças remendadas
 e até moça caipira já prendada

 Canjica, quentão e amendoim
 Tem também!
 Uma chamegada pra espantar o “friozin”
 E alguém pra você chamar de meu bem

 Os ritmos pra dançar são variados
 Tem xote, baião e xaxado
 Arrasta –pé sob o céu estrelado
E na sala, o bate-papo animado
com a sobrinha e o cunhado
papo de escolares e escolados

 Lá fora, a fogueira prepara o milho assado
 (só não pode deixar ficar queimado!)
Vulcão iluminando a rua bem demorado
 Eita São João apaixonado

 Criançada correndo jogando traque-de-massa
  marmanjos com espada
Mães e filho com chuvinha
 Todos com seus fogos brincando na praça
Cheia de bandeirolas, bem decoradinha

 Se o frio apertar, nada de tremedeira
 Procure uma casa acolhedora e vá chegando de mansinho
 Vai ouvir Amelinha cantando gemedeira
 Beber um licor oferecido pelo vizinho
 E ficar se perguntando sozinho:
 Por que todo licor é de cachoeira?

No futuro...

Espaço, micro-ociosidades e silêncio serão os bens simbólicos mais valiosos da vida urbana.

Envolvimento X Evolução

Enquanto as pessoas não entenderem que devem buscar a evolução ao invés do envolvimento continuarão pautadas num modelo de relacionamento que mais parece a lógica bancária, baseado na troca. “Se invisto “X” tenho que receber, no mínimo, “X” de volta”. Essas pessoas devem pensar que existem “juros” e o seu investimento simbólico aumenta de acordo com o passar do tempo e suas devotadas ações para com o outro. Será? Pessoas não são coisas, afeto não é dinheiro.

 Cobranças, discursos piegas e outras necessidades egoístas que por vezes beiram o ridículo de tão infantis que são (para não dizer primitivas) só desgastam e denunciam a incompatibilidade entre os amigos, casais ou parentes. Quando encontramos no outro uma possibilidade de evoluir, enxergamos a distância, a falta, a saudade ou a carência, como se fosse a própria pessoa. Emerge um processo que elabora um ritual de crescimento e maturidade afetiva que nos faz sentir o conforto do outro perto, mesmo distante. Ocorrido isto, a evolução se fez presente. Sentindo a “simbiose espiritual”, baseado também (e muito) na afinidade e na transcendência mútua, fatalmente não haverá espaço para que as pieguices do envolvimento surjam. Embora precise do outro, o desejo da evolução parte de dentro.

É necessário nos antenar que existe uma etapa que deve ser superada, pois você está destinado a lidar com aquela determinada questão. Se não for ali, será mais adiante. E as coisas sempre voltam. E nós, buscando apenas envolvimento, diante da nossa pequenice mundana, queremos satisfazer apenas as necessidades de momento, os caprichos do corpo ou da mente, sem perceber que há ali uma questão ampla, mais complexa, controversa, que não se sabe bem o que é, mas que deve ser resolvida de você com seu íntimo e não lançando no outro suas frustrações por ser incapaz de lidar com a ausência daquilo que ser quer. Evoluir é preciso... e com alguém, melhor ainda.

Consistência e (com) insistência

É verdade que uma sociedade hiperativa tem como sintoma o emburrecimento causado pela pressa coletiva para julgamentos morais carregados de juízos de valor.

 É verdade também que os laços sociais estão esfarrapados. Que o comportamento baseado na liberdade de expressão tem gerado impulsividade, radicalismos e dogmas.

 Que a incerteza gera o medo do pânico e da angústia de estar só num mundo cheio de gente. Esvaziaram a noção de intimidade. A prática de assujeitamento que esse modelo de vida apresenta nos convida todo momento a renunciar nossa capacidade de pensar, analisar e sentir para só depois agir.

 Com insistência e consistência podemos resgatar a sensação daquilo que perdemos ou encontrar novas sensações que não essas que se apresentam de forma imperativa e enlatada. Nessas, sem consistência, não vale a pena insistir.

O Garimpeiro de sonhos

As ofertas são muitas, as oportunidades também e as pessoas que nos surgem? Centenas, milhares. O garimpeiro conhecido através de seu dom de extrair o que há de mais precioso no lugar, seleciona o que há de melhor, procura algo raro e escondido, daí sua especialidade em garimpar. Nem todos têm acesso, tempo, paciência ou capacidade de praticar o garimpo. 

Garimpar pode ser um bom exercício de auto-conhecimento. Como, quando e por quanto tempo você se dispõe para garimpar suas relações cotidianas? O cuidado (ou desleixo) que estabelecemos para o garimpo tem plena influência no retorno que imaginamos ser a “vida” que oferece. Quem cultivou aquilo pra você foi você mesmo durante seu garimpo.

 O tamanho de nossa peneira, o ambiente que escolhemos para garimpar, a espécie de companhia de outros garimpeiros durante o processo do garimpo e o tempo que nos mantemos garimpando é que vão nos fazer encontrar (ou perder) preciosidades, raridades, casualidades, excentricidades, sincronicidades.

 Mas se não achou ainda o seu mapa da mina que pode dar indícios de onde começar o garimpo e pensa que tudo isso não passa de fantasia, faça ao menos um favor a si mesmo: vá garimpando os seus sonhos.