segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Trilogia dos relacionamentos sustentáveis - episódio 1: a vitrine

A vitrine é aquele espaço em que se colocam as peças mais interessantes (ou valiosas, mas nem sempre) de uma loja para ganharem destaque, para serem apreciadas pelo consumidor, e consequentemente, adquiridas. É fundamental, na exposição da vitrine, que sua distribuição espacial esteja organizada, exclusivamente, para seduzir o iminente comprador. 

Conscientemente ou não, ainda que não queiramos nos vender para o outro, nas relações também somos vitrines de nós mesmos pela forma que gerenciamos as características de nossa personalidade que queremos que sejam vistas pelos outros. Na era da exposição exacerbada e da aceitação condicionada à aparência e a popularidade, ninguém exibe o que imagina que os outros vão reprovar. Ou seja, inicialmente ninguém se mostra por completo. Tal como a vitrine da loja, está ali para seduzir. Tal como a sedução, está ali para enfeitiçar.

 Essa nossa vitrine exibe, mas também oculta. Ela também indica peculiaridades através de sinais, basta saber interpretá-los e desvendá-los. Caso contrário seu relacionamento com esse outro não passará de um conto de fadas.


Então, primeiro passo para um relacionamento sustentável: observe (pacientemente e cuidadosamente) a “vitrine” do outro. Ela diz muito sobre a pessoa.

Trilogia dos relacionamentos sustentáveis - episódio 2: Leia a bula

A bula é aquele item que descreve o que todo medicamento pode provocar no organismo. Você adquire o remédio e fica ciente de todo um perfil adequado para a medicação (faixa etária, indicação, contraindicação, reações adversas, etc.). A responsabilidade é toda do sujeito, tendo em vista que ali está prescrito o percurso bioquímico que o medicamento pode ter no corpo humano.

É realmente de se lamentar que seres humanos não já venham com a sua própria bula. Facilitaria bastante. Por exemplo,  “Jorge Antônio, 28 anos”:

- Indicações: pessoas com temperamento efusivo e histriônico;  humor estável. Workholic’s e os que apreciam restaurantes finos e baladas frenéticas nos finais de semana, com leve inclinação para a prática da musculação em dias intermitentes, tendem a ter maior compatibilidade. Tendências de maior afinidade com pessoas que gostem de exposição exacerbada.
- Contra-indicações: pessoas com hipersensibilidade, geniosas/orgulhosas, comportamento introvertido ou que manifeste embotamento afetivo. Pessoas que pratiquem esportes de aventura, ecoturismo, pilates, RPG e turismo cultural também são contra-indicadas nesse caso.
-Reações adversas: incidência entre 5% e 20% - cobranças afetivas e sociais, surgimento da ideologia siamesa “nós dois somos um só”, ciúme generalizado/arbitrário e falta de demonstração de afeto em locais públicos com o passar do tempo.

 Ok, não somos cápsulas medicamentosas. Embora para algumas pessoas os relacionamentos tenham esse efeito: curar, amenizar o sofrimento, espantar a solidão, mera conveniência.

Esse é a típica categoria de “relacionamento-placebo”: não traz nada de muito efetivo, significante ou agregador, mas só o fato de estar ali numa relação estabelecida e socialmente oficializada (mero status? pura fachada?) já traz um pseudo conforto/segurança para a pessoa.

 Seres humanos não tem bula. As rotulações criariam impossibilidades para os encontros, eliminariam candidatos aparentemente pouco sustentáveis, antecipariam diferenças, divergências, conflitos e desentendimentos que, logo de cara, afastariam as pessoas. Cada encontro, que é único, pode suscitar no outro condições psíquicas de sustentabilidade e habilidades sociais de outra natureza que não aquelas que estariam descritas burocraticamente na bula.

 A voracidade do tempo das coisas demanda um imediatismo que se tenta se impor também para o tempo das pessoas, tendendo a criar a lógica pragmática de “pessoas-bula”  o mecanismo ideal para a atualidade descartável: “tenho acesso, leio, vejo se me favorece, o que poderá me causar e opto”. Porém, não temos bula, mas temos alma. E esta, enigmática e densa, requer um pouco mais de devoção para ser lida e descoberta, para além de uma simples bula, quando se está disposto a relacionar-se dignamente com alguém.

A sustentabilidade da relação está em trocar (na semântica é fácil, apenas uma letrinha) o lugar que se deseja que o outro ocupe na relação: da medicação para a meditação. O outro não pode ser um “remédio” que preencha nossos vazios e nos traz uma (falsa) sensação de cura, mas sim aquele que nos leva (e eleva!) a uma condição favorável de autoconhecimento.

Então, segundo passo para um relacionamento sustentável: conheça e construa (paciente e cuidadosamente) a “bula” do outro. 

Trilogia dos relacionamentos sustentáveis - episódio 3 : Tocando em frente































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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Na multidão, a solidão



A minha lente é uma fresta
um olhar cansado que se renova
e todos os dias, rotineiramente, me prova
essa vida é mesmo uma grande festa
Bailes, serenatas, serestas
promovendo contemplação, integração e prosa
disfarçar seria como entrar numa cova
ignorando esse colorido mundo cinza-cor-de-rosa
colo uma etiqueta na testa
e denuncio nesta:
o eu-em-si-mesmo é o que me resta



sábado, 25 de outubro de 2014

De quantos partos você precisa para nascer?

O parto biológico é aquele que denuncia nossa chegada ao mundo. Cada vez mais um evento espetaculoso, cheio de holofotes e flashes para a mini-celebridade. Afinal, foi um parto. No dia simbólico, define-se signos, ascendentes, data de aniversário, que será comemorado até o fim da vida, e também demarca a idade cronológica. É o dia do parto, logo, um ritual.

 O processo de humanização, evolução e amadurecimento do sujeito em nada tem a ver com sua idade desde o seu parto. Muito menos tem um dia exaltado para ser comemorado ou um ritual para designar sua passagem, embora mais importante. Para atingir essas condições plenas, o sujeito precisa fazer o parto de si mesmo.

 Se fôssemos mais sensíveis e vulneráveis à visitação do outro em nós poderíamos transformar as dificuldades e asperezas cotidianas na singela arte do encontro. (Poderíamos...) Mas não desconsideremos o sofrimento, a frustração e a escassez. Uma reprovação naquele concurso, uma desilusão amorosa, uma família que se desmantelou, um projeto longo que tenha um recomeço improvável, uma retaliação no ambiente de trabalho. O que vale para o recém-nascido, também vale para nós: receber uma palmadinha e ouvir da vida, "bem-vindo ao mundo", pode ser doloroso e choroso.

 Nascer dói!

 O amadurecimento, a evolução e a humanização não estão condicionados ao choro, já somos adultos. Mas sim com o que fazemos com a nossa dor, causada pelo parto (para aqueles que assumem a hombridade em fazê-lo) nosso de cada dia.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Dignidade X Individualismo

Soldado Prisco TERCEIRO deputado estadual mais votado da Bahia com 107.941 votos!

 Admitindo que sejam votos corporativistas e de familiares dos que compõem a corporação (racionalmente só consigo pensar nessa justificativa), essa votação significativa representa o seguinte pensamento do eleitor:

 "Elejo quem defende meus "direitos" (na verdade, quem me concede privilégios) independente de princípios éticos e de uma moralidade que respeite a ordem da vida coletiva. Ou seja, a forma como será feito não me interessa questionar ou criticar, desde que eu não me sinta prejudicado e que se alcance o objetivo de me trazer benefícios, diretos ou indiretos".

 A situação, que já não está boa, se torna ainda mais grave quando essa lógica se estende para outros eleitores.

 São tempos difíceis para a cidadania!

Coisas de Salvador

- O cidadão vai no Cine Vivo e o seu celular (que é da vivo!) não pega sinal

- 7:30 pra 8 horas da manhã. Vou no Sucos 24h no rio vermelho pedir um lanche. Adentrando o recinto a atendente me diz que o estabelecimento (que é 24h) ainda não está aberto (?)

- Quando a TV Bahia diz que vai nas ruas ouvir a opinião do torcedor, na verdade ela quer dizer que vai entrevistar as pessoas que passam em frente ao shopping Iguatemi

 - Flanelinha pede R$ 10,00 pra tomar conta do carro, pagamento antecipado. Eu digo que todo trabalhador só recebe depois do serviço prestado. Sem argumento, ele me sai com uma dessa: "Ô pai, ajude seu irmãozinho aqui! Deixe cinco conto aí que tá tudo certo, na moral!"...

Êta Bahia porreta!

sábado, 6 de setembro de 2014

Tirania da informação

Não há dúvidas que a informação trouxe muitos avanços, sobretudo para aqueles mais desfavorecidos que não tinham acesso a ela. Porém a rapidez como se alastra é muitas vezes um impasse ao pensamento crítico e questionador. A violência da informação e a segurança que a sociabilidade tecnológica oferece nos impõem uma categoria de “comportamento virtualmente domesticado”. Nos acostumamos com o conforto de nossas casas. Com o hábito de consumir apenas nas delicatessens, casas-lotéricas, pet-shops, bares e lan-houses do nosso confortável bairro. Nos acomodamos com algumas ideias estabelecidas. Assumimos a sofisticação como um modelo de vida em que um aparelho eletrônico é a extensão de nosso corpo em busca, também, de lazer, informação e distração. Para quê evitamos, cada vez mais, a prática do deslocamento urbano? E as pessoas?

 Ao abdicar de enxergar a era demográfica a partir do território, deixa-se de vivenciar a territorialidade e as populações, suas comunidades, ou pequenos grupos e suas micro-políticas, que trazem a possibilidade de um “novo universo simbólico”. Este novo, que não está nas interações tecnológicas e nem nos aplicativos digitalizados que facilitam nossas vidas como verdadeiros atalhos, comunica algo: permite a troca, produz conhecimento, gera aprendizagem e constrói vínculos afetivos. Basta haver interação e comunicação.

Informação nós podemos encontrar em qualquer lugar, em qualquer meio e das mais variadas formas, inclusive com pessoas. Mas comunicação, essa vai estar, exclusivamente, na arte do encontro. Que sempre é singular e único. Mesmo que os atores se repitam, pois, sempre é inédito.

A verdadeira vida sofisticada está em saber superar a contradição de vivermos, ao mesmo tempo, governados pela informação e sabotados pela (falta de) comunicação.

domingo, 17 de agosto de 2014

Sabotagem

Ter a clareza de que as coisas que queremos para nós e são suficientes para nosso bem-estar, nem sempre é garantia de que serão planejadas e executadas. Mesmo quando a consideramos um bom complemento para o nosso crescimento (material e espiritual).

Há muitos mistérios nos labirintos da psiquê e estímulos externos que nos convidam a dispersar, evitando, contraditoriamente, atingir essa plenitude. Mero devaneio? Vontade de capturar tudo ao redor? Ou medo de encarar de forma despreparada algo que vá desenvolver uma preparação cuidadosa para se evitar a reincidência no despreparo num situação subsequente?

Para evoluir é preciso superar esse ciclo: sensação provocada pelo novo-divagação/medo- retrocessos e fantasias.

 Sabotar a sabotagem, antecipando-a, é a chave!

domingo, 27 de julho de 2014

Desculpe, mulher moderna II (o retorno)

Como a primeira versão gerou muitas polêmicas e algumas mensagens "enfurecidas" direcionadas a mim (que não vieram por esta rede social), cabe ser mais direto e específico na minha mensagem que talvez não tenha  sido muito clara.

O tipo de mulher moderna a que me referi é aquela que está atenta as informações que seu meio lhe fornece, convive bem com as amigas (e isso lhe basta), faz viagens para contemplar a vida, busca crescimento e elevação espiritual, anseia autoconhecimento e,sobretudo, convive relativamente bem com seu estado civil de solteira. Ao menos ela diz ser bem resolvida. Em nenhum momento falava de uma mulher fútil ou exclusivamente consumista.

 Pelo contrário, falar em um perfil de "mulher safa" é reconhecer e valorizar pequenos avanços sociais, políticos e subjetivos de um gênero que sempre foi (e ainda é, embora hoje menos) historicamente excluído. 

O ponto em questão, onde me parece que muitas mulheres se incomodaram quando leram (talvez porque seja verdade), se refere ao fato de que, essa mulher moderna, nos comportamentos amorosos de conquista, sedução e andamento do relacionamento, na grande maioria das vezes, não incorpora essa sua "soberania social", sua "autonomia emocional" que já está em vigor para todas as outras facetas da vida. E escrevi reverenciando isso, reivindicando essa igualdade que muitas vivem, também para a vida afetiva-amorosa. Não estou dizendo com isso que as coisas devem se inverter, mas sim divididas. Polarizar a questão seria uma idiotice: não se trata de protagonistas e coadjuvantes ou dominantes e dominados.

 Então: a mulher moderna deveria ser também "revolucionária" com seu próprio desejo como o faz nas outras instâncias de sua vida. Apenas isso. Quando não acontece a transição é aí que se instala a contradição. (o que é uma pena). E aqui pode haver outros desdobramentos como hipótese: seja pela mulher moderna fantasiar demais, confabular, seja pelos bloqueios emocionais causados pelo histórico de relacionamentos fracassados ou até por uma questão de criação, em que na nossa sociedade a mulher é a personagem que é criada para ser cortejada e cresce internalizando e assumindo esse papel. (assim como o homem é criado desde cedo para ser o "predador").

 De qualquer forma, nós todos, que somos seres de consciência, mas que também somos produtos (e produtores) de uma sociedade machista, podemos e devemos pensar, sentir, refletir (esse texto é uma humilde contribuição pra isso) e agir de outras formas que não reproduzam esses costumes.

 Agora, se ainda assim as mulheres quiserem se manter nessa condição ambígua de liberdade e aprisionamento de sentimento, só me resta dizer: desculpe, mulher moderna

terça-feira, 22 de julho de 2014

Desculpe, mulher moderna

Desculpe se nós homens não estamos mais a sua altura.

O mundo mudou, as coisas mudaram, a mulher se emancipou
exigiu mudanças, igualdade de condições.

Desculpe você que já é independente, madura e faz suas viagens com suas amigas e pra você isso basta. Vive de emoção pura, retóricas cíclicas e reuniõezinhas com papos até interessantes regadas vinhos e petiscos.

Desculpe você que lê Martha Medeiros, Rubem Alves e crônicas de Arnaldo Jabor, Ivan Martins e Pedro Bial sobre relacionamentos amorosos, vai nas festas com ar de soberania (sem ser prepotente) e simpatia, paga suas contas e planeja compras no shopping dias de semana (ou um cinema  no domingo a tarde) e depois se exercita no início da noite quando ja emenda com a novela comendo aquela janta com baixa caloria e um suco light enquanto lixa a unha.

Desculpe mulher moderna, por não conseguir acompanhar sua evolução.Gostaríamos de entender, pois como seres limitados intuitivamente não compreendemos, como a igualdade de condições não migrou também para os relacionamentos. Porquê a independência não se mostra também na iniciativa? O que impede a soberania de conduzir e (também) deixar ser conduzida?

Será que essa emancipação que foi tanto batalhada é de fato (la no seu íntimo) desejada, mulher moderna? Tão despachada na vida social, e tão defensiva na vida amorosa.

 As correntes que se quebraram no passado são as mesmas que ainda aprisionam no presente? Sim, é o que parece. A descoberta moderna de uma prazer solitário, vazio (sem eco, com vácuo) e sem companheirismo se iguala à expectativa ilusória de depositar no outro todo o seu "baú da felicidade", mulher moderna. Nesse seu projeto de modernidade não se delega nada a ninguém, mulher moderna.

Não sei se fui claro, pertinente ou utópico. Talvez seja apenas uma vontade de ajudar vocês a serem mais vocês mesmas. Com o outro podemos conseguir vôos mais altos. Como diz Marisa Monte: "é só mistério não tem segredo".

Mas, de qualquer forma, deixo um sincero pedido: desculpe, mulher moderna.



segunda-feira, 7 de julho de 2014

A ditadura ideológica da copa no país do futebol

É realmente preocupante (e engraçado) a forma agressiva como as pessoas agem em relação a uma opinião divergente sobre a seleção do Brasil durante a copa do mundo.

É algo que, certamente, fica ali no mesmo lugarzinho do cérebro onde fica o fundamentalismo religioso, o fanatismo partidário e outras ideologias ou dogmas que provocam o emburrecimento e em alguns casos chega até a cegueira intelectual.

Preocupante e engraçado. Mas se você não faz parte dessa legião, cuidado: pode ser excluído, como um judeu durante o nazismo.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Estrada para Igatu

estrada estreita,
 pedregulhos e cascalhos
carros indo e vindo
subidas e descidas.

o caminho longo é lento
as dificuldades não facilitam o acesso
a inacessibilidade valoriza e muito o lugar
desejando tão logo um regresso
para apreciar e se reenergizar

igatu é como uma fruta no mais alto galho da árvore
aquela que depois de muito esforço, está ali
suculenta para ser degustada.

Dificultar o acesso...
 faz com que apenas pessoas especiais vão ao seu encontro
aquelas que reconhecem sua amplitude
que descobrem seu sabor e sua doçura
e se submetem aos esforços e adversidades
da trajetória transformadora e árdua

O problema é quando a dificuldade do acesso
insiste em ser algo inacessível
Nesses casos, o explorador, o arqueólogo, o pescador, o viajante
precisa, urgentemente, resignificar o que lhe conduziu,
além de seu desejo, ao objeto estimado


sábado, 14 de junho de 2014

Raio de sol


O desconhecido
aquele que pode ser inicialmente temido
só é estranho até você encontrá-lo...

Depois, é ele quem lhe completa.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Refúgio de outono


Sentando em sua caixa de madeira
tira sons, do grave ao agudo
faz da música seu refúgio
desamparado, no limite da fronteira

Mas agora vem o inverno e o são joão
o tempo voa, nem parece
há um ano estávamos nessa mesma "procissão"
o tempo esfria, umedece
e eu ocupado com a dissertação
Você distancia, entorpece
o tempo muda, aquece.



sábado, 7 de junho de 2014

Sonhei que eu era, balão dourado


Se vai ter copa ou não vai ter copa, eu não sei
 Mas são joão eu sei que vai, já me programei

 Danças originais
 Vestimentas, rituais
 Nordestinos rurais
Celebrando manifestações culturais

 Não durma, não dê mancada
 De manhã bem cedo tem a alvorada

 Tem também camisas quadriculadas
 Tem calças remendadas
 e até moça caipira já prendada

 Canjica, quentão e amendoim
 Tem também!
 Uma chamegada pra espantar o “friozin”
 E alguém pra você chamar de meu bem

 Os ritmos pra dançar são variados
 Tem xote, baião e xaxado
 Arrasta –pé sob o céu estrelado
E na sala, o bate-papo animado
com a sobrinha e o cunhado
papo de escolares e escolados

 Lá fora, a fogueira prepara o milho assado
 (só não pode deixar ficar queimado!)
Vulcão iluminando a rua bem demorado
 Eita São João apaixonado

 Criançada correndo jogando traque-de-massa
  marmanjos com espada
Mães e filho com chuvinha
 Todos com seus fogos brincando na praça
Cheia de bandeirolas, bem decoradinha

 Se o frio apertar, nada de tremedeira
 Procure uma casa acolhedora e vá chegando de mansinho
 Vai ouvir Amelinha cantando gemedeira
 Beber um licor oferecido pelo vizinho
 E ficar se perguntando sozinho:
 Por que todo licor é de cachoeira?

No futuro...

Espaço, micro-ociosidades e silêncio serão os bens simbólicos mais valiosos da vida urbana.

Envolvimento X Evolução

Enquanto as pessoas não entenderem que devem buscar a evolução ao invés do envolvimento continuarão pautadas num modelo de relacionamento que mais parece a lógica bancária, baseado na troca. “Se invisto “X” tenho que receber, no mínimo, “X” de volta”. Essas pessoas devem pensar que existem “juros” e o seu investimento simbólico aumenta de acordo com o passar do tempo e suas devotadas ações para com o outro. Será? Pessoas não são coisas, afeto não é dinheiro.

 Cobranças, discursos piegas e outras necessidades egoístas que por vezes beiram o ridículo de tão infantis que são (para não dizer primitivas) só desgastam e denunciam a incompatibilidade entre os amigos, casais ou parentes. Quando encontramos no outro uma possibilidade de evoluir, enxergamos a distância, a falta, a saudade ou a carência, como se fosse a própria pessoa. Emerge um processo que elabora um ritual de crescimento e maturidade afetiva que nos faz sentir o conforto do outro perto, mesmo distante. Ocorrido isto, a evolução se fez presente. Sentindo a “simbiose espiritual”, baseado também (e muito) na afinidade e na transcendência mútua, fatalmente não haverá espaço para que as pieguices do envolvimento surjam. Embora precise do outro, o desejo da evolução parte de dentro.

É necessário nos antenar que existe uma etapa que deve ser superada, pois você está destinado a lidar com aquela determinada questão. Se não for ali, será mais adiante. E as coisas sempre voltam. E nós, buscando apenas envolvimento, diante da nossa pequenice mundana, queremos satisfazer apenas as necessidades de momento, os caprichos do corpo ou da mente, sem perceber que há ali uma questão ampla, mais complexa, controversa, que não se sabe bem o que é, mas que deve ser resolvida de você com seu íntimo e não lançando no outro suas frustrações por ser incapaz de lidar com a ausência daquilo que ser quer. Evoluir é preciso... e com alguém, melhor ainda.

Consistência e (com) insistência

É verdade que uma sociedade hiperativa tem como sintoma o emburrecimento causado pela pressa coletiva para julgamentos morais carregados de juízos de valor.

 É verdade também que os laços sociais estão esfarrapados. Que o comportamento baseado na liberdade de expressão tem gerado impulsividade, radicalismos e dogmas.

 Que a incerteza gera o medo do pânico e da angústia de estar só num mundo cheio de gente. Esvaziaram a noção de intimidade. A prática de assujeitamento que esse modelo de vida apresenta nos convida todo momento a renunciar nossa capacidade de pensar, analisar e sentir para só depois agir.

 Com insistência e consistência podemos resgatar a sensação daquilo que perdemos ou encontrar novas sensações que não essas que se apresentam de forma imperativa e enlatada. Nessas, sem consistência, não vale a pena insistir.

O Garimpeiro de sonhos

As ofertas são muitas, as oportunidades também e as pessoas que nos surgem? Centenas, milhares. O garimpeiro conhecido através de seu dom de extrair o que há de mais precioso no lugar, seleciona o que há de melhor, procura algo raro e escondido, daí sua especialidade em garimpar. Nem todos têm acesso, tempo, paciência ou capacidade de praticar o garimpo. 

Garimpar pode ser um bom exercício de auto-conhecimento. Como, quando e por quanto tempo você se dispõe para garimpar suas relações cotidianas? O cuidado (ou desleixo) que estabelecemos para o garimpo tem plena influência no retorno que imaginamos ser a “vida” que oferece. Quem cultivou aquilo pra você foi você mesmo durante seu garimpo.

 O tamanho de nossa peneira, o ambiente que escolhemos para garimpar, a espécie de companhia de outros garimpeiros durante o processo do garimpo e o tempo que nos mantemos garimpando é que vão nos fazer encontrar (ou perder) preciosidades, raridades, casualidades, excentricidades, sincronicidades.

 Mas se não achou ainda o seu mapa da mina que pode dar indícios de onde começar o garimpo e pensa que tudo isso não passa de fantasia, faça ao menos um favor a si mesmo: vá garimpando os seus sonhos.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sutileza em cena

Foste imperatriz, flor, rainha de baile
poeta, menina-cantante, professora
múltiplos papéis, atriz em vida.

O quê mais esconde essa rica e misteriosa fauna cênica?

Na batalha entre gregos e troianos
preservou seu talento
sob o simbolismo da flor de lótus

Durante a guerra
com trincheiras sob alerta e tensão
mesmo servindo como moeda de troca
guardou, para afastar todos os males
a erotização latente em si
e ainda sem o presságio do fim
transbordou beleza nas mais difíceis circunstâncias

Pura resiliência, adaptação...
Mas não seria também...
 resistência, afirmação?

Confrontos, conflitos
Hostilidades, não-ditos
Beijos perdidos, jogos políticos
olhares implícitos
Imposição, carência
Emancipação, independência
Acordos, conveniência...
Conchavos de vivência
Grécia e Tróia
Troilus e Créssida

Sobressai uma pequena-grande atriz
amargamente doce
lindamente concentrada semi-nua
fielmente traidora
sutilmente intensa

Desprovida de bloqueios, desarmou-se
Corajosa, atravessou a fronteira
Encarou a aventura do desconhecido de peito aberto.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Quem és tu, doce rainha do baile?

Ainda que haja distância (e sempre há, sempre houve)
Embora não tão bem vinda
Habitou-se em mim uma esperança utópica
Que não sei como nem por que se mantém
Quase platônica...

Nesse mundo louco e confuso
que parece perdido e cheio de pessoas vazias
quero, com você, me achar, me encher
me perder, me esvaziar...
Mas com você.
Sendo outsiders sustentáveis
Doces
e acolhedores de diferenças.

Sabe o que é?
É que com você consigo ser mais quem eu sou
É o mais perto de mim mesmo que consigo chegar
Mas as vezes disperso
Me afasto do que sou,
dessa minha essência que teima gostar de um escapismo

Sozinho não vou, não me encaro nessas águas
Tenho medo de submergir demais
E nas profundezas, doce rainha, há escuridão.Você sabe.
Nesse mergulho, só vou acompanhado.
Mas basta um resquício de sua proximidade
Para um bem-estar-leve chegar mansamente.

Para os astros, somos opostos-complementares.
Acredito que sim.
Já decidi querer ser mais eu, querer ter mais você

A lógica do trânsito de Salvador

-Quer andar mais rápido na paralela? Pegue a pista da direita.

-Se a pessoa dá seta pra esquerda, na verdade ela está querendo dizer que vai pra direita. Se não dá seta nenhuma (o mais comum) ela quer brincar com você de jogo da adivinha.

-Na paralela a velocidade máxima é de 80km/h mas os condutores andam a 60km/h. Quer entender o motivo? Eu também queria!

-As faixas servem para dividir a pista onde cada carro deveria ficar. As faixas não servem para guiar para onde vamos. Qual a razão de andar sobre as faixas?

-Sinal está fechado. Carros parados esperando o sinal abrir. O sinal recém fica verde, os carros de trás soltam uma buzininha-alerta-irritante! Seria um joguinho entre eles para ver quem está com o reflexo em dia, tipo: “vamos ver quem buzina primeiro assim que a luz ficar verde” ?

sábado, 11 de janeiro de 2014

Tríade. Trinômio. Trinca.

 Corpo leve.
 Mente disposta.
 Coração cansado.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Moreré


O bem mais valioso desse lugar não são suas paisagens nem sua geografia privilegiada pela natureza, apesar disso contribuir para a magia do lugar. O grande diferencial que nenhuma imagem consegue mostrar, são as pessoas. Gravitando numa mesma sintonia cordial, celebrativa e simples, tanto nativos quanto turistas, convergem para uma mesma energia que paira por moreré: a da fraternidade. Contribuem para formar uma atmosfera humana de paz, integração, e confraternização. Estar em moreré é concluir que a vida nada mais é do que essa arte-mágica do encontro. Encontro com o outro semelhante e desconhecido que faz você se descobrir longe do caos da vida urbana.

Morar em Salvador é:


 Estranhar Genildo Lawinscky entrando no meio do mato pra fazer suas reportagens pela Tv Bahia

 - Falar "porreta, boca de zero nove e ta rebocado"

-  Ir no pelô curtir Gerônimo, encontrar os atores de Capitães de Areia e ainda bater um papo com "Pedro Bala" sobre a cena do carrossel

 - Sentir a alegria desencontrada do bairro santo antônio além do carmo e pegar um escondidinho de camarão no bar cruz do pascoal de cara com a baía de todos os santos

 - Aturar flanelinhas e cambistas. O primeiro quer receber antes de prestar o serviço e o segundo já virou empresário com toques refinados de extorsão

 - Andar em qualquer passarela da cidade sem saber se vai chegar vivo do outro lado

Outras constatações

Por questões de mobilidade urbana e de saúde mental dos moradores ao seu entorno, o Iguatemi deveria ser implodido em época de natal

 Toda música deve ser cantada por outros intérpretes. Exceto corsário, que deveria ter uma patente de exclusividade. Ela só vive com João Bosco

 Atlético-MG é um Botafogo com torcida e uma libertadores

 Novelas são para humanos como postos de gasolina para carros. Só se busca pela sensação do abastecimento para sair da inércia. Mas depois se percebe que o custo é muito alto e a distração é provisória

 Dez anos de bolsa família e 1/3 da população da Bahia (5 dos 15 milhões) vivem do programa. Estão contribuindo para combater a desigualdade e a miséria ou produzindo mais pobreza tendo em vista que o numero de adesões ao programa só cresce? O que pra uns é motivo de orgulho, pra outros é vergonha.

 Dalí em Salvador. Salvador Dalí. Da-lhe Salvador