sábado, 25 de outubro de 2014

De quantos partos você precisa para nascer?

O parto biológico é aquele que denuncia nossa chegada ao mundo. Cada vez mais um evento espetaculoso, cheio de holofotes e flashes para a mini-celebridade. Afinal, foi um parto. No dia simbólico, define-se signos, ascendentes, data de aniversário, que será comemorado até o fim da vida, e também demarca a idade cronológica. É o dia do parto, logo, um ritual.

 O processo de humanização, evolução e amadurecimento do sujeito em nada tem a ver com sua idade desde o seu parto. Muito menos tem um dia exaltado para ser comemorado ou um ritual para designar sua passagem, embora mais importante. Para atingir essas condições plenas, o sujeito precisa fazer o parto de si mesmo.

 Se fôssemos mais sensíveis e vulneráveis à visitação do outro em nós poderíamos transformar as dificuldades e asperezas cotidianas na singela arte do encontro. (Poderíamos...) Mas não desconsideremos o sofrimento, a frustração e a escassez. Uma reprovação naquele concurso, uma desilusão amorosa, uma família que se desmantelou, um projeto longo que tenha um recomeço improvável, uma retaliação no ambiente de trabalho. O que vale para o recém-nascido, também vale para nós: receber uma palmadinha e ouvir da vida, "bem-vindo ao mundo", pode ser doloroso e choroso.

 Nascer dói!

 O amadurecimento, a evolução e a humanização não estão condicionados ao choro, já somos adultos. Mas sim com o que fazemos com a nossa dor, causada pelo parto (para aqueles que assumem a hombridade em fazê-lo) nosso de cada dia.

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