O sapo que vivia pulando de um lado para o
outro passou o outono completamente confuso com sua inquietude instintiva, vislumbrando
um dia aquietar-se, projetando saltos cada vez menos amplos e mais precisos.
Sua inquietude era tanta que não pensava no amanhã. Achava que poderia viver
para se superar cada vez que desse um salto mais alto do que o outro. Seu
concorrente era ele mesmo, competia com seu ego e com seu desejo volúvel.
Ele caçoava da pequena e trabalhadeira
formiga que não tinha o mesmo alcance e agilidade quando se deslocava. Sabendo
que o inverno estava por vir e pensando em longo prazo, passou o outono
pacientemente estocando restos de comida para sua comunidade e ouvindo gozações
do sapo fanfarrão. A inquietude fatalmente o levaria a solidão e a arrogância. A
vida em comunidade e o aprendizado da lentidão criaram perspectivas, problemas,
soluções e planejamentos. A formiga paciente sempre espera o tempo certo das coisas, não exige nada imediatamente de forma pragmática.
Na espreita, a carismática coruja, que observara a formiga e o sapo atentamente, se remeteu por analogia as lembranças da metamorfose da lagarta
que vira borboleta. Mas em seguida, lembrou também que existem centauros, minotauros e faunos.
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