quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Canalhices e Cafajestagens

Instruções para leitura:
 1-Isto não é um confronto polêmico de gêneros
 2-Se for homem pule os itens 3 e 4 e vá direto ao texto
 3-Leia racional e impessoalmente
 4-Leitura não recomendada se estiver na TPM

 “Ah, fulano só quer curtir. Ele não quer nada. É um cafajeste". Pela não rotulação do comportamento masculino e a favor do discernimento feminino.

 Por qual razão sempre cabe ao homem o papel de canalha e cafajeste? Quanto mais se torna dominante a ideia de que nenhuma vontade deva ser reprimida, mais cresce nossa incapacidade de lidar com a insatisfação. A insatisfação é geral, bem como intercorrências e desvios de rota que vão de encontro ao nosso desejo.

 As mulheres deviam se preocupar com o que tem a oferecer enquanto universo feminino, pessoa, seu estado de humor, comportamento, charme, temperamento, energia, espiritualidade, sua aparência, uma boa conversa (fundamental), se caracterizando assim uma ótima companhia. É um ato de mesquinharia conosco atribuir ao outro nossa condição de felicidade. Ainda que, e eu concorde, seja “impossível ser feliz sozinho”. O que não justifica que você tenha que ficar enviando convites para jogar candy crush e criminal case milhares de vezes.

 Um beijo hoje em dia não pode ser atestado de nada. O fato de terem se beijado não reconhece firma em cartório e nem garante que nada (ou tudo) tenha de fluir a partir disso. Ah é, mas tem a ansiedade feminina em querer definir as coisas e a angústia inquietante de viver no indefinido. Sim, mas nem a ansiedade nem a angústia nos impedem de pensar. Viver na aflição pode ser de um grande aprendizado para compreender as “canalhices e cafajestagens”. A química, as reações de ambos no desenrolar do processo e a forma de envolvimento do outro são elementos que influenciam o querer. Desejo não se furta, e muito menos se impõe. Mulheres (alguns homens também, mas são minoria) querem imputar o seu desejo. Não é por aí.

 Canalhices e cafajestagens é o que uns fazem com os outros (seja qual gênero for) quando projetam no outro expectativas atuais embasadas em frustrações e satisfações de relacionamentos anteriores. Ou cobrando indiretamente que o outro goste ou queira na mesma proporção que você. Aí anula-se a possibilidade da conquista, que é o grande barato da estória, e cai-se num patrulhamento afetivo. A vigilância sentimental é tão opressora para o homem quanto uma ditadura é pra Che Guevara. Canalhices e cafajestagens são atribuições desnecessárias, pesadas e exageradas ao caráter de alguém, feitas por pessoas que querem relacionamentos egoístas. Canalhice é você, homem ou mulher, culpar o outro por não gostar de você como você gostaria que ele ou ela quisesse, sem perceber qual a sua parcela nisso. Cafajestagem é ser insuficiente pro outro(a) e exigir reciprocidade; é fracassar na conquista e responsabilizar o outro através do jargão já gasto e comum da “cafajestagem masculina”.

Há uma diferença básica entre: o não querer nada; o não querer nada neste momento da vida; e o não querer nada com você. Sugiro diferenciarmos para não generalizarmos e não cair no erro leviano de sair por aí metralhando juízos de valor ao outro.

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