quarta-feira, 6 de março de 2013

A marinheira e a bússola


Unidas pelo mesmo espírito aventureiro. A marinheira viajante e a bússola viajada movidas pelo desejo navegar. Navegar pura e instintivamente. Explorando lugares desconhecidos e experenciando sensações inusitadas. A bússola guiava a marinheira a ilhas nunca visitadas antes, a paisagens nunca exploradas em outro momento, a águas meio turvas e mexidas, a um ponto em condições de atracar. Por não conhecer aquele território e não ter o domínio de pra onde estava sendo levada, a marinheira começou a desconfiar de sua bússola.

Munida pelo senso de direção a bússola parou de indicar direções (sim é contraditório, a própria bússola se perdeu). Chateada por querer se situar e saber em que direção sua embarcação estava indo, a marinheira jogou sua bússola no mar. Preferiu se desfazer dela por achar que sua única utilidade era dizer onde estava e para onde ir. Sem a bússola, a marinheira navegava por si própria, voltando navegar pelas mesmas águas calmas e claras, ilhas conhecidas e lugarejos que sua embarcação já conhece, repetindo trajetos e ciclos.

Após afundar, chegando no fundo do mar, a bússola foi acolhida por um cardume de peixes, e subitamente voltou a funcionar, apontando direções corretas e precisas.  A riqueza daquela fauna marinha a inspirava, a serenidade do movimento das águas profundas a tranquilizavam...lá a bússola conseguia ser ela mesma. Onde se perdeu foi quando conseguiu se achar.

 Não sabia a marinheira que a plenitude do funcionamento de sua bússola se dava nas profundezas, e não na superfície.

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