quarta-feira, 6 de março de 2013

Manutenção em tempos de asfixia


Quebrou o celular, parou de funcionar. Você pede um orçamento na loja licenciada e vê que não vale a pena trocar pois o preço do conserto é quase o mesmo de um novo. Compra-se um novo.Quebrou o microondas (mas poderia ser também a geladeira ou a televisão). Recorremos a lojas autorizadas, solicitamos orçamento e mais uma vez constata-se que não sai em conta fazer o reparo. Melhor comprar um novo. A chance de quebrar é menor e ainda vai vir na garantia.

Mas, antes de quebrar, foi dado algum tipo de manutenção? E, mais importante, depois que quebra, há o desejo real de se fazer a manutenção permanecendo com algo consertado mesmo depois de quebrado?

Não creio que tenhamos como hábito a prática da manutenção. E talvez deslocamos essa conduta também para os relacionamentos de qualquer natureza. E para evitar que se quebre ou que tenha algum defeito, é preciso dar manutenção, praticar cuidados.

Ora, vivendo nesse caos urbano e testemunhando insanidades cotidianas, o fato é que estamos sempre acelerados pela necessidade e eficiência que o mundo do trabalho e do sustento exige. Como achar fôlego para dar manutenção (nas coisas e nas relações) numa dinâmica de vida asfixiante? Nessa atmosfera de vida nociva a válvula de escape mais cômoda é sempre a troca instantânea. Ninguém quer ver o que ou quem causou o defeito. Ninguém quer se implicar na culpa. Ninguém quer refletir pra saber (e admitir) que pode ter tido também participação na situação que causou o dano. Queremos soluções, de preferência soluções imediatas. E pra isso a solução geralmente é se “desfazer do velho” e “adquirir o novo”. Seja através do consumo ou da conquista afetiva. Se desfazendo de algo ou se desligando de alguém.

Assim como os eletrodomésticos e instrumentos, nossos relacionamentos também precisam de manutenção. E o que é melhor: não precisa nem solicitar orçamento, pois não custa nada. É sabido que a garantia dos celulares (1 ano), aparelhos eletrodomésticos (2 anos), carros (até 5 anos já tem) vem na aquisição, na compra. Mas a “garantia” das relações nunca esteve no momento ou no acordo em que ela se inicia se firmando como tal. Pelo contrário, está na forma como se estabelece a manutenção durante essa jornada. A “garantia” é o tempo em que estamos disponíveis para dar manutenção.

Interessante mesmo seria se pessoas fossem como as empresas de elevador de condomínios. Estão sempre ali presentes dando frequente manutenção para evitar qualquer defeito e uma possível quebra do cabo de aço. Uma vez partido, jamais recomposto. Viva a manutenção!

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