segunda-feira, 23 de maio de 2016

Construir e destruir

Para que possamos construir algo, um casa por exemplo, temos que passar, inicialmente, pela escolha dos materiais que queremos usar para compor aquela casa, dando a ela algum tipo de sustentação. Cimento, areia, bloco, tijolo, madeira, argamassa, etc.
Depois disso, da preparação e do planejamento ainda sob forma idealizada, damos início a construção da casa. Cálculos, ritmo da obra, pessoas envolvidas, simetria e tudo que envolve o lento processo da construção. Exige esforço, investimento de energia e iniciativa. É trabalhoso. Mas nada que uma bomba de dinamite não possa implodir.
No futebol os times limitados, tecnicamente inferior ao adversário, têm uma proposta de jogo baseado na marcação forte, nos desarmes, impedindo a criação do adversário e saindo rapidamente para o contra-ataque. Um time limitado não tem peças criativas e esquema de jogo para ser protagonista. A construção tática do futebol exige inteligência coletiva aliada a habilidade técnica e, mais uma vez, esforço, investimento de energia e iniciativa. É trabalhoso. Mas nada que, em um lance inusitado ao final do jogo, não possa decretar a vitória do time que se propôs apenas a destruir jogadas.
Na cozinha, para fazer um prato temos que escolher primeiro o que vamos comer, quais os ingredientes necessários, o preparo desses ingredientes, o tempo exato para a mistura dos ingredientes, o tempo adequado para o cozimento e ainda os acabamentos do prato e seus condimentos. Não exige tanto esforço, mas sem iniciativa e investimento de energia, nada feito. É trabalhoso. Mas nada que seus convidados gulosos não possam devorar em 10 minutos.
E as construções nas relações humanas? Estabelecimento de confiança, criação de vínculos, respeito-mútuo, afinidades, empatia, intimidades. Esforço, investimento de energia, iniciativa e também algumas renúncias. É trabalhoso. Essa construção não é pragmaticamente planejada, mas leva muito mais tempo do que a construção de uma casa, do que a elaboração de um esquema de jogo eficaz voltado prioritariamente para a criação de jogadas e muito mais tempo do que confecção de um prato, sofisticado com raio gourmetizador, para uns amigos numa noite de sábado. O tempo entre pessoas é diferente no que se refere a "construção" em relação a esses exemplos. Naturalmente, transferimos para as relações sociais essa "pressa de construção" que nos outros segmentos da vida cotidiana já ocorrem instintivamente, o que pode por sua vez acabar antecipando uma destruição. A construção precoce.
A diferença entre construir e destruir para pessoas está no tempo de investimento e na razão do pensamento. Nada se constrói sem tempo de investimento. Porém, qualquer coisa pode ser destruída com um pequeno investimento numa fração do tempo. Nada se constrói sem clareza, discernimento e diálogo. Qualquer coisa pode se destruir num mero ato de impulsividade.
Portanto, não é mais fácil construir do que destruir. É muito mais difícil construir do que destruir.
Sigamos com as construções que a vida nos permitir.

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