sábado, 12 de março de 2016

Não banalizem o amor

O amor como condição de bem estar social, de vida civilizada, como muitos idealizam, ainda está distante para nós. O amor é o estágio pleno. A etapa final. Nós, na tendência onipotente em sintetizar tudo, caímos no plano do ideal-romântico que simplifica e oculta a realidade quando achamos que o amor é a cura para todos os males da humanidade. Problema? Solução! Onde estou? Para onde vou, agora! Esquecemos o processo e a trajetória das coisas. Eis então que surge o amor para salvar: "mais amor por favor!"; "eu sou amor da cabeça aos pés"; amai-vos uns aos outros". Podíamos também pedir para uma criança de dois anos que lesse frase numa revista.
Será que as pessoas vão passar a amar, arbitrariamente, da noite pro dia, apenas por terem lido um recado ou escutado uma afetuosa ideologia de vida? Amor é brinde para pessoas evoluídas que vivem em sua busca e o reverencia todos os dias. Amor é destino. Aterrisagem sem turbulência. Não se chega ao destino sem antes vivenciar as doçuras e, principalmente, as travessuras da caminhada durante o trajeto.
O trajeto é o dia-a-dia: é o que você faz quando é frustrado, como você reage quando é hostilizado, como você se sente quando é ignorado. Na adversidade somos esse amor que tanto pregamos? Quando percebemos a doença, logo de cara ja requisitamos o remédio (utópico) "...que se chama amor...tomou conta do meu ser..."
Cumprimentou o zelador do seu condomínio? Deu bom dia ao funcionário da padaria? Foi prudente no trânsito dando passagem aos pedestres que esperam na faixa? E o garçom que sempre te atende, perguntou como ele está, zoou o time dele que foi goleado no fim de semana? Esse é o exercício da trajetória e o desafio que temos para o mundo real: Acessar pessoas. Permitir que outras pessoas tenham acesso a nós. Fazê-las sentir-se gente e a nós também. Ouvir estórias, conhecer histórias. Vincular e gerar cordialidades mútuas.
Ué, e o amor? O amor é outra coisa, derivado da plenitude e de um estágio contínuo de construção. Não estamos nessa Era ainda, infelizmente e nem sei se chegaremos nela algum dia. Como possibilidade, uma via concreta, estamos na Era do acesso. Das acessibilidades. Não só dos aplicativos, mas sobretudo das pessoas. Sem a acessibilidade do afeto, não haverá terreno semeado para uma possível colheita "daquilo que chamam amor..."
"Enquanto isso, na sala da justiça", vamos vivendo a demagogia do amor: cada um alimentando uma perversa-inocência na sua solidária "matrix da compaixão".
"Meu amor, olha só hoje o sol não apareceu...é o fim, da aventura humana na terra..."

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