quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Como ser grande


Todos nós queremos ser grandes. Quando ainda crianças, boa parte das brincadeiras se remetem ao cotidiano do “mundo adulto”, imaginando e fantasiando uma criança grande. É a cobiça inocente e pura de se atingir a grandeza da maioridade. Dessa grandeza somos meros coadjuvantes, o tempo, protagonista soberano, se encarrega de fazê-la acontecer naturalmente.

Nós que almejamos melhorias nas condições práticas da vida e também evoluções internas, estamos também procurando ser grandes, mas outro tipo de grandeza. Nessa sim, somos protagonistas. Não é preciso, necessariamente, pensar grande para ser grande, como muitos falam. Aliás, um punhado de atitudes bem pequenas, pode nos tornar grandes. Se fôssemos altruístas, cidadãos de bom senso gentilmente responsáveis, engajados coletivamente, compreensivos porém críticos, e amoráveis com os outros, estaríamos sendo grandes. Moralmente grandes. Emocionalmente senhores de nossa autonomia.

O tempo já engrandece o corpo, é a lei natural da vida. Mas depois de feitos grandes pelo tempo, quais grandezas buscamos pra nós?

 

Para ser grande, basta ser pequeno.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Carros civilizados, pessoas intransigentes



No momento torna-se banal e repetitivo constatar que o trânsito de Salvador vive um caos permanente, crescente e sem perspectivas de melhora. Mas nem é sobre isso que quero falar. Há carros por todos os lados, carros espalhados por lugares improváveis, carros elegantes e chiques, carros-calhambeque, carros utilitários, carros populares, carrões, carrinhos, uma verdadeira “carrópolis”. Também não é sobre isso que quero falar. Quero falar sobre o que isso pode acarretar pra nós humanos. O que uma sociedade de carros está causando, de forma sutil, em nosso comportamento, como vamos nos acostumando e reproduzindo algumas condutas sem que percebamos e quais as implicações disso para a subjetividade enquanto instância psíquica.


Mudamos um pouco nossos hábitos quando deixamos de ser pedestres e assumimos a direção de um carro. Simplesmente por dominar a máquina e sentir a emoção que a potência e o seu controle pode dar, somos tomados por certo poder, um desejo de autoridade absoluta. Tentarei explicar melhor: o status que o carro tem e a representação que sua imagem-estética possui na cidade (ou o seu significado social e político) cria um tipo de elo, ou até fidelidade, entre carro e condutor que é psicologicamente muito sedutor para o ego de quem dirige. Ou seja, o condutor se sente e se reconhece pelo carro que dirige (não pelo que ele é) a partir da forma como ele imagina que as pessoas enxergam alguém que dirige aquele determinado carro. O carro ganha status, ganha identidade, ganha vida.


E se arte imita a vida a Walt Disney já elaborou, em tom profético, essa temática em um de seus desenhos. Em 1950, o genial “Sr. Walker/Sr. Wheeler (Sr. Andante/Sr. Volante), representado por pateta, demonstra a mudança de personalidade do pedestre para o condutor. http://www.youtube.com/watch?v=x_jVumbjoVU


Quando entramos no carro, estamos dentro dele (dentro = inside, “in”, em inglês). Creio que hoje, mais do que nunca, o estar dentro do carro gera uma “cultura do in”, ou seja, comportamentos e atitudes voltados pra dentro da pessoa. A sua matriz é a individualidade que gera o individualismo. São essas condições que despertam todas as outras atitudes e ações que não deveríamos ter, mas que são derivadas do individualismo: intolerância, intransigência, inflexibilidade, inconveniência, inimizade, indiferença, inveja, indisciplina, introspecção. Incorporamos essas características diariamente no trânsito, sobretudo nos engarrafamentos, quando a disputa por espaço é maior e é quando, teoricamente, teria de haver mais interação, comunicação, “negociação”, educação e gentileza. Os carros até se comunicam, as pessoas não. Civilizados são os carros que são revestidos de acessórios, estão quase sempre limpinhos e recebem o fino trato de seus donos. O carro é uma extensão do corpo do dono. Hoje, os donos dão mais civilidade aos seus carros do que a si próprios.


A equação no momento atual em nossa Salvador é bem simples: quanto mais carros nas ruas, mais engarrafamentos e quanto mais engarrafamentos, mais pessoas intransigentes. Hoje o cidadão dá uma buzinada direcionada a você, com tanta intensidade, mas o que ele queria na verdade era lhe agredir. E agride, simbolicamente, através da buzina (há vários subtipos de buzina, mas vou deixar essa escrita pra outra ocasião). No trânsito, o outro está se tornando seu adversário, ou melhor, seu inimigo, o que é ainda pior! Que a introspecção do individualismo produza infinitamente a cautela, a prudência e o bom senso. Ou será que eu estaria sendo ingenuamente infantil ao desejar isso?

domingo, 1 de janeiro de 2012

E aí Brasil?

Entramos 2012 sendo a sétima maior economia do mundo, porém com índices de desigualdade e analfabetismo ainda muito altos, incompatíveis e inadimissíveis com a riqueza do país. Quando o Brasil irá quitar essa dívida moral e promover a cidadania? Lembrando que seu povo não quer ter direitos e deveres, mas sim privilégios e concessões! E aí Brasil?

Contradições

O ritmo ACELERADO da vida nos PARALISA, enquanto que ao ESTACIONARMOS na REFLEXÃO, naturalmente a EVOLUÇÃO se faz presente.

AFINIDADES

As relações mais evoluídas, que eu não faço questão aqui de rotular os tipos, se alimentam puramente de AFINIDADES. Compreensão e tolerância são meros exercícios (para alguns é um grande esforço e sacrifício) que fazemos pra integrar a DIFERENÇA, que na afinidade está AUSENTE, porque há predomínio das SEMELHANÇAS. Semelhança de humor, de espírito, de linguagem, de interpretações, de olhares, de sabores e de diálogos. A afinidade é A-TEMPORAL, pois RENUNCIA a necessidade do TEMPO como aliado... nunca precisou dele para comprovar suas verdades e muito menos para se manter abastecida pelos mistérios da vida.

sexta-feira, 25 de março de 2011

TRAGÉDIAS



Vítimas do Japão
Sem água, sem pão
Triste tragédia
Comove o mundo, quanta solidariedade (que comédia)
Exclusão escancarada no dia-a-dia
Pouco se faz, quem se beneficia?

Desfavorecidos, excluídos, encurralados
Miseráveis,oprimidos, esfomeados
Ignorantes ou ignorados?
Não sofreram grande tragédia, pobres coitados
Receber doações, mobilização coletiva, ser ajudado?
Só com tsunamis, terremotos, atentados

Pobreza banalizada, miséria naturalizada
Macro-tragédia espetacularizada, notícia enlatada
Indústria da comunicação insiste em universalizar
Uma visão de mundo que nem todos são obrigados a endossar

Mídia dissimulada, manipula informação, fabrica a notícia
Jornal “Massa”, vincula o pobre à violência, à marginalidade, à caso de polícia

Criança esperança, ONGs, instituições de caridade
Não rompem com a lógica, pelo contrário, mantém a desigualdade

O mundo sangra, alguns choram
Cresce a indiferença, poucos se importam
Natureza acuada,
Pobreza estampada
Riqueza monopolizada

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pessoas de bem precisam se posicionar

As constantes guerras civis na África, a truculência religiosa no islã, a tensão geopolítica no oriente médio, e o desenvolvimento da economia nos países emergentes de 3º mundo (em especial China, Brasil e Índia) indica que estamos passando por um processo de transição, de mudança, de progresso em busca da evolução dos valores da humanidade e do espírito, de um início de tentativa de visão macro e histórica das diferenças e, também, de condições de igualdade econômicas e sociais.

Vivemos tempos difíceis e incertos, é o preço da transição. De dúvidas existenciais, de desconfianças generalizadas, catástrofes ambientais freqüentes, insegurança urbana, ao mesmo tempo em que a ciência e a mídia pretendem estabelecer certezas consensuais e divulgar verdades absolutas.

Ser correto e digno hoje em dia é ser exceção, ganha destaque, prestígio e até admiração dos outros aquele que se posiciona de maneira ética, coerente e autônoma diante de qualquer enfrentamento nebuloso, ideológico, comercial ou numa ocasião injusta que envolva pessoas. Quando se é cortês, você é estranhando pelos outros, é um comportamento em extinção. Chegamos a tal ponto que um singelo ato de gentileza gera no outro uma desconfiança. Ser solidário e altruísta então, pior ainda! Paranóia?

Ícones como Nelson Mandela (1918), fruto da história, e Capitão Nascimento (Tropa de Elite), fruto da ficção, ganharam e ainda ganham destaque e repercussão pelas suas condutas e posicionamentos firmes nas circunstâncias de enfrentamento. A dimensão que toma esses sujeitos demonstra, pelo curso da história, a carência da humanidade em modelos de vida e referências de pessoas que tragam alguma perspectiva inovadora ou modelos de dignidade a serem seguidos (hiato deixado por duas guerras mundiais, queda do muro de Berlim, e pela “morte” das ideologias).

Nelson Mandela teve seus méritos próprios. Combatia fortemente o regime apartheid, ficou preso 28 anos, por alguns deles sob tratamento desumano. E quando todos esperavam uma conduta previsivelmente humana, pois instintiva, (porém, seria também oportunista e leviana), de represália e desforra, ele lidera o governo de seu país demonstrando uma sabedoria política, uma coerência com seus propósitos subjacentes aos seus ideais, uma indiferença quando conveniente ao lidar com a oposição, e um sentimento acolhedor agregando as diferentes raças e etnias. Isso o faz a grande figura humana do século XX. Capitão Nascimento cabe uma análise interessante não só pelo personagem, mas pela repercussão e pela idolatria nacional generalizada. Muitas pessoas o têm como ídolo, a mídia super dimensiona e o coloca na patente de “herói da nação”. Esses fatos demonstram que pessoas e instituições da sociedade civil têm um mínimo de esclarecimento, percebem a fase ambivalente de progresso/regresso que atravessa o espírito humano e principalmente mostra uma noção de discernimento. Eu idolatro aquele que tem a virtude que não tenho, que faz o que sou incapaz de fazer, que esclarece o que pra mim está escuro. A idolatria ao Capitão Nascimento, no Brasil, é assumir nossa condição cultural de passividade e de impotência, é reconhecer a ausência de uma figura emblemática eleita através da história (e por isso coube a ficção fabricar esse personagem) e por fim atestar que temos sim uma percepção, ainda que turva, (associada a um sentimento real de indignação e perplexidade) das falcatruas encadeadas e seqüenciais daqueles que estão nos cargos de comando e exalam o autoritarismo do poder. Assim como das problemáticas sociais que envolvem a dualidade tráfico-marginalidade, exclusão-discrmininação e também das maracutaias que se auto-justificam e são minimizadas por se tratar de um “jeitinho brasileiro”.

E se a arte imita a vida, a rede Globo, cansou de escancarar e também (por que não?) estimular esse traço cultural brasileiro em suas novelas da segunda metade da década de 80: “Cambalacho”, “Vale tudo”, “Sassaricando”, e “Ti ti ti”, tinham como pano de fundo tramóias corriqueiras dos personagens que simulavam o jeitinho brasileiro, a “lei de Gerson”. Inclusive, essas novelas fizeram muito sucesso na época, tamanha representatividade e identificação que tinham com a população noveleira. A cultura brasileira impregnada pelo rótulo do país do samba e do futebol, desenvolve em nós a capacidade de improviso e a condição de adaptação, mas reduz a ética ao contexto singular e a conveniência. No samba impera o molejo e a ginga do sambista e no futebol a malícia, a sagacidade do jogador. Compreensível que sejamos um povo PHD no quesito astúcia e malandragem.

A humanidade precisa de referências históricas, modelos a serem seguidos, coisa que não nos falta. Provamos que sabemos discernir condutas dignas de nefastas. Pergunto: é necessário vestir um uniforme do bope ou ser um líder que enfrenta um regime radical de apartação racial para se posicionar de forma decente, digna e coerente perante uma situação real de enfrentamento? A vida cotidiana não se dá nos campos de futebol nem no sambódromo. As pessoas de bem precisam se posicionar.